Tento evitar que uma impressão pessoal torne-se profunda convicção íntima, mas a leitura diária de quatro dos jornais de grande circulação no país trabalha em sentido inverso. Aquilo de que tento escapar é a constante construção de uma visão da realidade pessimista e sem esperança, sendo isso menos por habitarmos um vale de lágrimas do que por expor-me a cada manhã, às páginas do Estadão, Folha, O Globo e A Tarde (Bahia).
Perpassa a imensa maioria dos textos ali encontrados a observação que parece só encontrar no mundo fracassos, derrotas e tragédias. Sem dúvida nos tempos atuais não faltam aos cidadãos motivos para forte inquietação. Está aí o Estado Islâmico, esse grupo diabólico que nada exige e radicalmente tudo pode destruir, para nos por no plantão da ameaça, em ritmo 24 x 7 x 365.
Porém isso do negrume à janela do mundo já era em boa medida a cena e o humor globais muito antes das apocalípticas milícias de Abu Bakr al-Baghdadi instalarem o tenebroso califado. Hoje, de Mossul e de cidades na Síria, bastando uma linha de internet, os fanáticos mobilizam atentados terroristas em Paris, na Califórnia e onde mais lhes parecer haver manifestações da suposta decadente civilização secular e consumista. Digamos que aumentou bastante o grau de perigo, mas o EI não inaugurou o festival de pessimismos.
Mas eu abri este artigo falando de negrumes alimentados pelos jornais brasileiros e fui longe demais na digressão. Quero voltar à imprensa nacional. A espoleta de minha irritação recente é uma reportagem no Estadão [“Bahia tenta salvar ferrovia bilionária”, 6 de dezembro de 2015, pag. B12] sobre a Ferrovia de Integração Oeste Leste-Fiol, atualmente em construção na Bahia, devendo ligar o porto de Ilhéus a Caetité, no sertão do extremo-oeste do estado, com os trilhos percorrendo 1527 km. O texto é assinado por André Borges. O ilustre repórter parece magnetizado apenas pelos obstáculos à obra. Em nenhum momento ele menciona a ocorrência comprovada de urânio em Caetité. Faltaria a André ter visitado a obra ou sensibilidade para as fabulosas oportunidades do agronegócio no território desbravado pela ferrovia? Talvez, e o leitor sulista menos informado, já embalado pela ideia do Brasil inviável que respiramos atualmente, tenderá a considerar a Fiol um desatino.
Na verdade, a mim não surpreende o depoimento tão restritivo sobre uma estrada capaz de mudar a economia baiana. Vivendo no Maranhão à época, experimentei na pele a batalha pela implantação da Ferrovia Norte-Sul, no final da década de 1970. Dos principais eixos da economia nacional do cerrado, a FNS também na decolagem precisou enfrentar acusações de desatino lançadas pela mídia sulista que já havia se esquecido da aparência também faraônica aos contemporâneos da implantação da estrada de ferro Santos/Jundiaí na obra do século 19. Neste canteiro, a locomotiva teve que vencer 800 metros de desnível em oito quilômetros, algo considerado por muitos como impossível.
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Xikito Affonso Ferreira é jornalista aposentado