Tinha programado voltar ao Balaio só na terça-feira, mas uma reportagem de capa – As baladas milionárias – que acabei de ler na Vejinha, me levou a abrir o computador antes do Carnaval acabar. Além disso, habituei-me a fazer todo domingo o balanço da semana com os três assuntos mais comentados.
A Vejona chamou de ‘espantosa’ a entrevista do senador Jarbas Vasconcelos, que na edição anterior denunciara corrupção a granel em seu próprio partido, o PMDB, onde está há 43 anos, e no governo federal. Pois eu fiquei muito espantado foi com a matéria da Vejinha.
A começar pelo título, Só para quem pode, o belo trabalho de Alvaro Leme, Fabrio Wright e Filipe Vilicic mostra dados sobre o apartheid sócio-econômico brasileiro que não se via desde o final dos anos 1940, quando o grande repórter sergipano Joel Silveira, já falecido, fez uma antológica reportagem sobre a vida dos grã-finos de São Paulo.
Os três repórteres se limitam a relatar o que viram e ouviram nas baladas dos jovens endinheirados de São Paulo, sem fazer qualquer crítica, análise política e sociológica ou juízo de valor, como se tudo fosse a coisa mais natural do mundo, ao contrário do que a Vejona fez com a entrevista de Jarbas Vasconcelos, que a deixou espantada.
Para muita gente que lê e escreve as revistas da Editora Abril, pode tudo mesmo parecer um simples dado da realidade, como o relato de uma festança em moto contínuo, sem dia para começar ou acabar, onde se torram rios de dinheiro numa noite em garrafas de champanhe que podem chegar a custar 6 mil reais, ou algo como 15 salários mínimos ou umas 50 bolsas-família, tão criticadas pelo senador Vasconcelos.
Podem me dizer que ninguém tem nada com isso, cada um gasta o que pode e quem não pode se sacode na barba do bode, como se dizia nos tempos de Joel Silveira. Não conheço estes jovens perfilados na matéria, não sei de onde vieram, como e do que eles vivem, mas confesso que fiquei chocado com o que li, a partir da abertura do texto, que conta como foi a festa de aniversário de 22 anos do jovem Rodrigo Vieira na casa noturna Pink Elephant, no Itaim Bibi.
Ao custo de 485 reais cada, pediu logo 22 garrafas de champanhe Veuve Clicquot – ‘Uma para cada ano de vida’, explicou aos repórteres. Nem todas foram servidas para seus amigos. Meia dúzia de garrafas foram utilizadas para lhe dar um banho na hora do parabéns. O total da conta da festa ficou em R$ 20 mil, mas ele não reclamou. ‘A atenção da mulherada se voltou para mim’.
Não era para menos. Em outro reduto das baladas milionárias, o Museum, Flávia Lemos, de 25 anos, que se apresenta como representante comercial, lhe dá toda razão: ‘Sempre vejo caras interessantes por aqui’. Para se ter uma idéia dos seus interesses, ela conta qual é seu grande sonho:
‘Ter o Brad Pitt apaixonado por mim, deitado numa Ferrari, sendo banhado em uma cachoeira de uísque Blue Label’.
E vai por aí. Recomendo a leitura desta reveladora reportagem para entender o que o Elio Gaspari quer dizer quando se refere ao andar de cima e ao andar de baixo da nossa sociedade neste limiar do terceiro milênio.
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Jornalista