Diante da hecatombe política detonada pela Operação Lava-Jato, a mídia televisiva – pela profundeza do crime contra os cofres públicos – é omissa na cobertura das investigações, reproduzindo tão somente a versão oficial da Polícia Federal, do Ministério Público Federal, da Justiça e das partes envolvidas. Nada menos que 1,4 mil pessoas, entre físicas e jurídicas, são investigadas. Já imaginou a quantidade de informações públicas e soltas por aí que precisam ser agrupadas, contextualizadas e organizadas? Nesse emaranhado corrupto, nenhuma câmera de um super-programa da noite dominical da TV aberta? Cadê o furo a cores do maior escândalo político da história brasileira?
Se a televisão, no mínimo, se mostra arredia, as revistas semanais se engalfinham em capas maçantes e até repetitivas lá vai um semestre. Uma ou outra reportagem com consistência, mas nada de fato novo, que abalasse ou desembalasse as apurações das autoridades. A internet tirou tanto da audiência dos veículos tradicionais a ponto de não sobrar gente, dinheiro e tempo para apuração analítica e sem partidarismo? Ou, o mais provável, a versão oficial já faz estragos o suficiente por si só, e cavucar essa lama pode achar culpados por atacado?
A cobertura – arredia ou omissa – da imprensa sobre a Operação Lava-Jato é pobre e quando se tem algo mais profundo, veículos como Veja e CartaCapital – cada um com sua respectiva corrente ideológica – pecam com a linguagem rebuscada, até lírica, deixando a gatunagem brasileira apenas poética sem qualquer contribuição efetiva para a investigação. A Operação Lava-Jato não teria ganhado toda essa proporção sem a prisão – e a confirmação das propinas – dos donos das maiores empreiteiras do país. Além da natural crise econômica, o roubo na maior empresa pública do Brasil e de desfalque financeiro em um setor com grande geração de empregos, a construção, o Brasil assistiu a prisão de gente até então intocável, agora intocável apenas para a imprensa, que perde com o desaquecimento da economia. O poder econômico envolto na Operação Lava-Jato revela a mais dura censura tupiniquim: financeira. Muito triste, mas ainda bem que a versão oficial já está trazendo boas notícias para todo o país.
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Daniel Polcaro Pereira é jornalista