Se existisse a possibilidade de voltar a história e condenar novamente outras pessoas, certamente, pela opinião do professor universitário Washington Araújo, deveríamos incluir Glória Perez no mesmo processo de que foi vítima Sócrates. É o que defende, de outra forma, o artigo no OI: ‘TV GLOBO Caminho (desrespeitoso) das Índias’, de Washington Araújo, mestre em cinema pela Universidade de Brasília, autor de 15 livros e professor universitário em Brasília.
Dois dos juízes de Sócrates foram um tal Eutímaco e um certo Calión.
Calión teria dito ao ver no tribunal:
‘Aí está esse velho irredutível. Se o vês, parece que, mais que a um processo por impiedade, se dirige a um banquete: sorri, se detém a falar com os amigos e saúda a todos que vê!’
‘Heliastas – proclama o chanceler do tribunal – os deuses elegeram vossos nomes da urna para que podeis absolver ou condenar a Sócrates, filho de Sofronisco, da acusação de impiedade feita contra ele por Meleto, filho de Meleto.’
Com a palavra, Meleto (acusação): ‘Eu, Meleto, filho de Meleto, acuso a Sócrates de corromper os jovens, de não reconhecer os deuses que a cidade reconhece, de crer nos demônios e de praticar cultos religiosos estranhos contra os outros… Eu, Meleto, filho de Meleto, acuso a Sócrates de imiscuir-se em coisas que não lhe dizem respeito; de investigar sobre o que há embaixo da terra e o que há sobre o céu e de discutir com todos e acerca de tudo, tentando sempre fazer parecer como melhor. Por estes delitos solicito aos atenienses que o enviem à morte!’
Direito de opinião
Vejam a comparação:
Diz o professor:
‘Neste ponto vejo um profundo desrespeito pelo Sagrado em se tratando daquela particular nação do planeta. Brhama, Vishnu, Krishna, Shiva, Ganesha, são tão sagrados no inconsciente coletivo da raça quanto às aparições do Anjo Gabriel a Maria, a imagem de Jesus e das Nossas Senhoras, o Santo Sudário e a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém, a Kaaba dos muçulmanos em Meca, o templo budista de Bohodour na Indonésia, o muro das Lamentações dos judeus na Terra Santa.
Ousaríamos misturar essas imagens sacras do cristianismo, judaísmo, budismo e islamismo com o movimento frenético dos passistas do Marquês de Sapucaí e tendo como trilha sonora a nossa bem reputada música carnavalesca?’
Vade retro, Glória Perez, não é para isto que se faz cinema ou televisão. Não é para trazer aos nossos olhos e ouvidos coisas que não lhe dizem respeito. Criticar o verdadeiro já estabelecido, os nossos deuses da nossa cidade e do nosso planeta.
Eu, como não faço cinema, aplaudo a obra da escritora. Para mim justamente para isto que existe o direito de opinião, de expressão, de mostrar as coisas com outro ângulo crítico, de provocar e fazer refletir.
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Médico, Porto Alegre, RS