A campanha política dos EUA foi, mais uma vez, tema da coluna [22/6/08] do ombudsman do New York Times, Clark Hoyt. Segundo ele, partidários de Hillary Clinton na disputa democrata acreditam que o sexismo dominou a cobertura de sua campanha. No dia 13/6, o NYTimes publicou artigo de primeira página em que dizia que muitos destes partidários haviam proposto um boicote às emissoras de notícias a cabo e que a National Organization of Women (NOW), maior grupo feminista dos EUA, havia criado em seu sítio de internet o ‘hall da vergonha’, com exemplos de cobertura sexista.
O próprio NYTimes, no entanto, mal foi mencionado no artigo, mesmo com dois colunistas do diário – Maureen Dowd e William Kristol – citados no ‘hall da vergonha’ do NOW. Na opinião de Hoyt, o NYTimes foi justo em sua cobertura política durante a disputa democrata. Ainda assim, as colunas de Maureen sobre a campanha de Hillary retratam a candidata como ‘vítima’ dependente do marido – o que justifica a inclusão no ‘hall da vergonha’. Já Kristol apareceu na lista não por seu trabalho no diário, mas por um comentário feito no canal conservador Fox News.
Opinião vs. notícia
Em sua defesa, Maureen diz que não é paga para ser objetiva. ‘Eu escrevo sobre estereótipos de gênero há 24 anos’, alega, acrescentando que ninguém reclamou de expressões semelhantes que ela usou para falar de candidatos homens nas sete eleições presidenciais passadas. Ela se refere freqüentemente ao senador Barack Obama como ‘Obambi’, por acreditar que ele tenha um estilo gerencial ‘feminino’.
Ao longo da campanha, Hoyt recebeu reclamações sobre a cobertura do NYTimes: houve quem se queixasse que o diário enfatizou muito a aparência da então pré-candidata, usou muitas palavras estereotipadas que diminuíam seu potencial de liderança e descreveu-a, muitas vezes, como ‘fria’. Quando o ombudsman pedia detalhes aos leitores queixosos, todos acabavam revelando que se referiam às colunas de Maureen Dowd. Andrew Rosenthal, editor das páginas editoriais, acredita que não é justo culpar um único colunista pela percepção de parcialidade do público na cobertura do diário. ‘Um colunista deve apresentar opiniões fortes’, defende.
Análise
Hoyt pediu a Kathleen Hall Jamieson, autora de livros sobre política e liderança feminina e professora de comunicação política da Escola Annenberg da Universidade da Pensilvânia, para analisar artigos que foram alvos de críticas de leitores. De modo geral, Kathleen avaliou que o diário não foi sexista – embora tenha citado alguns termos e temas que não seriam usados para se referir a homens, como ‘gritou no microfone’ e descrições de roupas de Hillary. Já Tom Rosenstiel, diretor do Project for Excellence in Journalism, afirmou que, pelos estudos de conteúdo feitos pelo grupo, a performance do NYTimes foi, no que se refere ao equilíbrio da cobertura, melhor que a da mídia em geral.