Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Novos partidos e o marketing político

A próxima eleição municipal será, além do pleito em si, a consolidação de uma tendência: o crescimento de peças de marketing na exposição de novas legendas. Jornais e jornalistas não podem ignorar esta nova realidade, em que o marketing prevalece sobre as ideias. As cores vivas, com logotipos e fontes trabalhadas e exclusivas, vêm substituir as antigas siglas simples e quase sem cores.

Esse movimento no padrão das apresentações dos partidos pode revelar mais que avanços tecnológicos e adesão ao marketing. Isso porque tais alterações passam quase despercebidas e, quando notadas, focam em geral nas cores às quais estão ligadas. Por exemplo, no último mês de dezembro, a imprensa noticiou o surgimento da “Raiz: Movimento Cidadanista” que, antes mesmo de nascer, ganhou notoriedade por ser ligado à deputada federal e ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina.

As tradicionais legendas, simples e sem qualquer preocupação com o formato de cada letra, ou mesmo cores, não eram atraentes, mas traziam em seu escopo abreviações de ideologias que por si só já encurtavam a conversa. Dependendo da composição das legendas, era fácil notar se a linha ideológica era liberal, socialista etc., facilitando a identificação política de cada um com cada corrente.

Essa quebra de paradigma pode trazer reflexos ao trabalho de reportagem. Isso porque uma das críticas feitas à imprensa nos dias de hoje envolve justamente a interferência do marketing e da visão comercial no trabalho jornalístico. Tal participação da publicidade e propaganda, percebida em outras instâncias, como na política, não deve passar despercebida.

Hoje, os novos partidos se aproximam mais a tribos do que a ideologias. A ironia está no fato de que, apesar dos novos recursos, no final do processo as novas legendas são classificadas em velhos setores e se tornam fragmentos das antigas “esquerda ou direita”.

É preciso admitir que esse formato de logotipos e escolha de uma paleta com cores mais vivas – como a do Partido Novo – torna-se mais atraente para o eleitor jovem. Com o detalhe de que isso não significa uma nova política – antes, apenas uma nova apresentação.

Com essa parcela de eleitores mais jovens, é compreensível certa ansiedade, que em alguns casos beira o desejo por inventar a roda. Muda-se a capa, mas fica a dúvida quanto ao modus operandi. O trato da formação das ideias ou a maneira de pensar que caracteriza um indivíduo ou um grupo de pessoas já está consolidado nas diversas ideologias que acompanham a história.

Desafios da mídia

Se para parte da mídia cabe apenas “reportar”, para a outra metade fica, na prática, o desafio de opinar, avaliar e até mesmo fazer considerações. Nesse processo, as peças de marketing vistas nos novos partidos devem também aparecer no radar da imprensa.

Não resumo a questão em absolvição ou condenação da prática. Antes, o artigo só indica tal tendência, que não deve ser assimilada com passividade pelos órgãos de imprensa, sem reflexão e análise. O perceber e pensar do 4º poder sobre o marketing na política é válido. Não se pode considerar o marketing restrito apenas à montagem de campanhas políticas.

A vontade por mudanças na política pode trazer certa afobação, optando-se por começar a mudar o trivial ao invés do que é importante. Um exemplo se viu no que foi noticiado sobre as primeiras movimentações do que seria uma reforma política – tema importante e ainda necessário, o que somente se percebeu no fim do processo.

Pouca coisa mudou e o quadro continua com a necessidade principal de fortalecer e manter um eleitorado fiel. Mas, ao invés de mudar estruturas que possam fomentar novas políticas públicas, se inicia com mais fragmentações – em um país que já tem 33 partidos -, com novas legendas que se apresentam com símbolos que mais se parecessem de agremiações do que outra coisa.

Pode em um primeiro momento parecer algo radical, e com certeza gerar certa crítica, mas a moral da história é que se há oferta, existe a demanda. Pensar que um eleitorado jovem possa se contentar com cores e logos, mas ligado a velhos caciques, ao invés de exigir reformas políticas reais, é assustador. Caso seja este o caso, a agressividade que se vê nas ruas contra aumentos da passagem do transporte público não passa de uma hipocrisia passiva, que berra apenas para se manter com um discurso politicamente correto. Ou ninguém reparou que, após as manifestações de 2013, no qual até bradou-se que o gigante acordou, todos os mandatários alvos dos protestos se reelegeram? Não existem 33 ideologias. Ainda assim, nos organizamos em mais de 30 partidos. E ainda temos espaço para mais?

O risco não está nos novos partidos, que encontram espaço e direito de serem criados e coexistirem com os demais. Sejam bem-vindos Rede Sustentabilidade, Raiz, Novo, Muda Brasil e quantos surgirem. Mas é preciso que o eleitor desta geração saiba definir suas prioridades e lutar por necessidades e reivindicações, que não se dê por satisfeito ou se deixe levar por cores vivas e bandeiras contemporâneas empunhadas por personagens antigos.
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Leonardo Rodrigues é jornalista e chargista