Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Joaquim Vieira

‘O provedor recebeu da escritora Maria Teresa Horta uma carta no mínimo curiosa. Figura pública ao longo de décadas, destacada activista pela emancipação feminina, corajosa co-autora de um livro (Novas Cartas Portuguesas) que, ainda no tempo da ditadura, ousou questionar a opressiva situação da mulher em Portugal – pelo que, com as outras autoras (‘As Três Marias’), foi então levada à barra do tribunal –, Maria Teresa Horta sentiu-se ofendida por algumas frases ficcionadas que ‘O Inimigo Público’, suplemento humorístico deste jornal, na edição de 6 de Junho, colocou na sua boca, sob o título ‘Feministas modernas vão queimar implantes de silicone na Gulbenkian’.

‘A minha dignidade é gravemente posta em causa’, considera. ‘Vivemos em liberdade, não em licenciosidade. O legítimo exercício do direito de cada um finda onde começa a violação dos direitos do outro’. No essencial, Maria Teresa Horta dá conhecimento de outra carta que a propósito escreveu à direcção do Público para publicação ao abrigo do direito legal de resposta, ‘na estrita defesa do meu bom nome, imagem e palavra (…), enquanto cidadã, feminista e escritora, que esse jornal, grosseiramente, entendeu ofender’.

Nela, a escritora limita-se a pedir a ‘urgente rectificação deste abuso’: ‘A propósito da próxima reunião do Congresso Feminista 2008, organizado pela União das Mulheres Alternativa e Resposta na Fundação Calouste Gulbenkian, [‘O Inimigo Público’] atribui-me afirmações, entre aspas, que eu jamais proferi’. Solicita ainda ‘um pedido de desculpas, o que não prejudicará o meu direito a processar judicialmente o Público pelos danos morais causados’.

Na carta ao provedor, Maria Teresa Horta acrescenta uma justificação: ‘Como jornalista que também sou, conheço bem o Código Deontológico que rege a profissão e que sempre respeitei. O que me leva a perguntar se, para a direcção do Público, a ética profissional não conta. A pergunta faz todo o sentido, atendendo a que essa direcção aceita a publicação de um caderno, parte integrante do jornal por que é responsável, onde se cometem tropelias como esta de que fui vítima’.

Quase em simultâneo, o provedor descobriu um forte núcleo de admiradoras de Maria Teresa Horta entre o corpo docente de São Paulo, Brasil, que são também leitoras de ‘O Inimigo Público’. Escreve com efeito Carmem Sílvia de Almeida, professora da rede pública em São Paulo: ‘Li ‘O Inimigo Público’ (…) e fiquei estupefacta com as palavras que puseram na boca de Maria Teresa Horta, figura pública irrepreensível, referência na literatura e na defesa dos direitos das mulheres’. Acrescenta Marlise Vaz Bridi, professora de Literatura Portuguesa da Universidade de São Paulo e da Universidade Presbiteriana Mackenzie: ‘É absolutamente inadmissível o que este anónimo [a nota do IP está assinada] inimigo público atribui a Maria Teresa Horta!’ E remata Ana Maria Domingues de Oliveira, professora de Literatura Portuguesa da Universidade Estadual Paulista: ‘Considero de extremo mau gosto a nota – inverídica, bem o sei – publicada em ‘O Inimigo Público’ (…) envolvendo o nome de Maria Teresa Horta, numa clara tentativa de desqualificá-la e de desqualificar também o movimento feminista’.

O que o provedor acha curioso é Maria Teresa Horta levar a sério as palavras que lhe atribuem, ignorando que todas as declarações imputadas por ‘O Inimigo Público’ a figuras públicas não passam de mera efabulação. É a regra do jogo deste suplemento, que nada tem de jornalismo mas sim de entretenimento (como muitos outros conteúdos dos media), pelo que não se coloca aqui uma questão de deontologia jornalística. Ao fim de 246 números (quase cinco anos de publicação), será suposto que os leitores do Público conheçam a regra, maxime alguém como Maria Teresa Horta, veterana na área da comunicação social e da intervenção no espaço público.

É certo que Maria Teresa Horta reconhece na sua carta o carácter sarcástico do IP, ao admitir tratar-se da ‘recuperação por um órgão de comunicação de massas da vetusta tradição oral de escárnio e mal-dizer’, mas logo retoma a circunspecção para opinar que isso ‘não exime (bem pelo contrário) a direcção desse jornal do cumprimento dos princípios que a Lei de Imprensa de um país democrático do século XXI prevê’. Também as suas apoiantes de além-Atlântico enveredam pelo mesmo raciocínio: ‘A matéria é satírica, mas (…) envolver dessa maneira um nome de repercussão internacional é, no mínimo, deselegante e desrespeitoso’ (Carmem Sílvia de Almeida); ‘Não creio que textos desse quilate, ainda que satíricos, possam contribuir para ampliar as discussões acerca da condição da mulher (…); em lugar disso, notas assim fomentam, através da perversa caricatura que traçam com as palavras, a intolerância e o preconceito’ (Ana Maria Domingues de Oliveira).

Apesar do carácter do suplemento, as contestárias partem assim do princípio de que os seus textos são passíveis de correcções, como se notícias fossem: ‘Sugiro uma retractação no mesmo diário onde as falsas ideias atribuídas à escritora foram veiculadas’ (Carmem Sílvia de Almeida); ‘Envolver seu nome numa notícia falsa é tratar com leviandade uma mulher que engrandece o nome de Portugal’ (Ana Maria Domingues de Oliveira).

Solicitado pelo provedor a pronunciar-se, o director do Público, José Manuel Fernandes, anuncia que, após consulta jurídica, o jornal decidiu recusar a Maria Teresa Horta o exercício do direito de resposta. E enumera as razões:

‘a) ‘O Inimigo Público’ é um suplemento humorístico cujo conceito é o de editar notícias imaginárias (…). O seu lema, inscrito na primeira página, é ‘Se não aconteceu podia ter acontecido’.

b) Este conceito cria um paradoxo: não se supõe que em ‘O Inimigo Público’ se editem notícias verdadeiras, como um ‘direito de resposta’ (…).

c) O carácter humorístico de ‘O Inimigo Público’ criou, no início, alguns incómodos, até porque houve quem visse as suas peças como verdadeiras e não como sátiras. (…) Até ao momento (…) apenas se editou um ‘direito de resposta’, tendo-se confirmado que a fórmula não funcionava bem.

d) Sem discutir a capacidade que cada um tem para que se brinque, com maior ou menor gosto, com ele, o que habitualmente sugerimos é que os que se sentirem lesados se exprimam no espaço das Cartas ao Director.

e) Os termos em que Maria Teresa Horta colocou a questão (…) não deixam margem de manobra para uma solução desse tipo, pelo que, para não incumprir os prazos da lei, se optou por formalmente negar o direito de resposta, ganhando-se assim tempo para, com mais alguma serenidade, se tentar chegar a uma solução razoável que não impeça o direito de Maria Teresa Horta protestar (…).

f) Até ao momento não recebemos qualquer sinal de que o tema pudesse ser tratado com serenidade; pelo contrário, apesar de termos tentado algumas vias informais de mediação.

g) Sobre as ‘tropelias’ de ‘O Inimigo Público’, apenas posso referir que o humor em Portugal, mesmo em ‘O Inimigo Público’, é muito menos cortante do que o praticado noutros países. Talvez porque nem todos sabem rir-se de si mesmos.

h) ‘O Inimigo Público’ já se meteu muitas vezes comigo. Ao princípio ainda vinham mostrar-me, mas eu disse-lhes que não era preciso. Prefiro ocupar-me das notícias que realmente aconteceram.’

Ficará desapontado o leitor que veio até este ponto da crónica à espera que o provedor reproduza o conteúdo da nota de ‘O Inimigo Público’ sobre Maria Teresa Horta, pois não o fará. Não porque o considere ofensivo para a escritora. O IP apenas faz uma caricatura da sua militância feminista no tom habitual, pelo exagero e o excesso (no estilo do título citado), não vislumbrando o provedor razões para a indignação da visada ou da sua claque paulista. A sátira pressupõe distanciamento, tolerância, poder de encaixe e um sorriso… mesmo que amarelo. Não que a levem demasiado a peito, como aqui sucedeu.

A única coisa a poder eventualmente apontar-se ao texto de ‘O Inimigo Público’ é o gosto – e é por isso que o provedor não o transcreve. Mas gostos, como se sabe, não se discutem – pelo menos nesta página. De qualquer modo, quem o desejar poderá ler a nota entre os anexos a esta crónica no blogue do provedor, onde estão também na íntegra as cartas citadas.

Com ou sem direito de resposta, será porém bom, como princípio, que o Público encontre uma fórmula que permita a Maria Teresa Horta expressar o seu protesto.

CAIXA:

‘Desafios’ para o ‘Policiário’

Ainda a propósito de entretenimento, duas das habituais secções dominicais do P2, ‘Policiário’ e ‘Desafios’, não saíram há uma semana, tendo surgido inopinadamente na segunda-feira. A alteração, sem aviso ou explicação, suscitou coléricos protestos de leitores, sobretudo fiéis acompanhantes do ‘Policiário’: ‘Enorme falta de consideração (…). Privaram-se desse texto os policiaristas que (muitos por revolta!) não adquiriram a edição de segunda-feira! (Gustavo Barosa); ‘Se eu compro este jornal ao domingo e não outro é por causa dessa secção. Se estas situações perdurarem, sem dúvida que deixarei de ser leitor’ (Hugo Marques); ‘Estou certamente entre os muitos que (…) se sentiram defraudados (…). Deverá ser salvaguardado o devido respeito pelas legítimas expectativas que o ‘Policiário’ desperta’ (José Gigante); ‘Não se compreende (…) o porquê da não existência de uma nota a explicar a razão [do adiamento], e já agora com um pedido de desculpas aos leitores’ (Eduardo Oliveira). E também entre os apaixonados de ‘Desafios’: ‘O respeito pelos leitores é muito mais importante que as gralhas de História ou Geografia (…). Deveria ser um princípio inviolável num jornal dito de referência’ (José Carlos Silva).

A explicação da editora do P2 Isabel Salema, que reconhece razão nos protestos: ‘As secções não saíram porque excepcionalmente o P2 de domingo só teve 20 páginas, e devia ter havido uma nota de esclarecimento com a indicação de que seriam publicadas no dia seguinte. A direcção tinha-me dado essa indicação e o esquecimento foi meu’. O director corrobora: ‘A razão de ser da medida (…) derivou da necessidade de equilibrar a informação importante entre os dois cadernos do jornal, sendo que fazer um P2 com mais de 20 página (24, mais exactamente) implicaria, devido a constrangimentos das máquinas (…), acrescentar mais quatro páginas ao outro caderno, o que não se justificava nem era possível. (…) Pedi que se incluísse uma nota aos leitores, [que] não saiu por lapso, como Isabel Salema já assumiu’.

O provedor compreende a frustração dos reclamantes e julga assinalar, não só no adiamento como na falta de aviso, manifesto desinteresse, ou mesmo menosprezo, pelos anseios dos leitores, que devem ser fim último da existência do Público.

Publicada em 22 de Junho de 2008

DOCUMENTAÇÃO COMPLEMENTAR

Nota da pág. 9 de ‘O Inimigo Público’ de 6 de Junho:

FEMINISTAS MODERNAS VÃO QUEIMAR IMPLANTES DE SILICONE NA GULBENKIAN

De 26 a 28 de Junho vai realizar-se um Congresso Feminista na Fundação Calouste Gulbenkian, organizado pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), cujas organizadoras prometem não queimar soutiens, para contrariar o estereótipo. ‘Nõs somos mulheres modernas. Vamos destruir o novo símbolo da sujeição da mulher à vontade masculina: os implantes de silicone. Mas, como eles são resistentes ao calor, vamos explodir duas tetas falsas, como os taliban fizeram aos dois budas de Bamyan’, explicou Maria Teresa Horta, uma das feministas envolvidas no congresso. ‘E aconselhamos vivamente todas as mulheres a verem o filme O Sexo e a Cidade e a não comerem pipocas no cinema, mas testículos de porco salteados, como forma de mostrar o desprezo pela pseudo-superioridade masculina’, concluiu. VE [Vítor Elias]

Carta de Maria Teresa Horta:

Para seu conhecimento, envio em anexo a carta registada e com aviso de recepção que, em segunda via, remeti ao director do jornal Público com data de 16 p. p., reclamando a rectificação de um texto sobre o Congresso Feminista 2008 publicado no inserto ‘O Inimigo Público’ de 6 do corrente, em que a minha dignidade é gravemente posta em causa ao serem-me atribuidas, entre aspas, afirmações que nunca proferi.

A recuperação por um orgão de comunicação de massas da vetusta tradição oral de escárnio e mal-dizer não exime (bem pelo contrário) a direcção desse jornal do cumprimento dos princípios que a Lei de Imprensa de um país democrático do século XXI prevê. Vivemos em liberdade, não em licenciosidade. O legítimo exercício do direito de cada um finda onde começa a violação dos direitos do outro. É este um dos bons princípios por que sempre me bati e por que continuarei a bater-me. E que neste caso carece de defesa por ter sido ofendido.

Acresce que, como jornalista que também sou, conheço bem o Código Deontológico que rege a profissão e que sempre respeitei. O que me leva a perguntar se, para a direcção do Público, a ética profissional não conta. A pergunta faz todo o sentido, atendendo a que essa direcção aceita a publicação de um caderno, parte integrante do jornal por que é responsável, onde se cometem tropelias como esta de que fui vítima.

Enquanto aguardo que o Público divulgue, nos termos do artº. 26º da Lei de Imprensa de 13 de Janeiro de 1999 – isto é, ‘na mesma secção, com o mesmo relevo e apresentação do escrito que provocou a rectificação’, a carta em que exerço este meu direito, deixo à sua ponderação as questões que expus acima, na estrita defesa do meu bom nome, imagem e palavra (artº. 3º da Lei de Imprensa), enquanto cidadã, feminista e escritora, que esse jornal, grosseiramente, entendeu ofender. Dada a seriedade do que está em causa, gostaria de conhecer a sua opinião sobre o assunto, certamente com interesse para os leitores de que é provedor.

Maria Teresa Horta

Anexo à carta anterior:

Dr. José Manuel Fernandes

Director do Público

O jornal que dirige, num texto publicado no inserto ‘O Inimigo Público’ da edição do dia 6 p. p. a propósito da próxima reunião do Congresso Feminista 2008, organizado pela União das Mulheres Alternativa e Resposta na Fundação Calouste Gulbenkian, atribui-me afirmações, entre aspas, que eu jamais proferi. Porque o meu direito ao bom nome, à imagem e à palavra enquanto cidadã, feminista e escritora é desse modo grosseiramente ofendido (vd. artº. 3º da Lei de Imprensa, de 13 de Janeiro de 1999), venho reclamar a urgente rectificação desse abuso nos termos previstos no artº. 26º, nº 3 do mesmo diploma, acompanhada de um pedido de desculpas, o que não prejudicará o meu direito a processar judicialmente o Público pelos danos morais causados.

Maria Teresa Horta

P.S – O presente texto substitui e anula o que lhe enviei com data de 11 do corrente, também por carta registada e com aviso de recepção, que fica consequentemente sem efeito.

Carta de Ana Maria Domingues de Oliveira:

Considero de extremo mau gosto a nota – inverídica, bem o sei – publicada em ‘O Inimigo Público’ do dia 6 deste mês envolvendo o nome de Maria Teresa Horta, numa clara tentativa de desqualificá-la e de desqualificar também o movimento feminista.

Não creio que textos desse quilate, ainda que satíricos, possam contribuir para ampliar as discussões acerca da condição da mulher na sociedade, portuguesa ou não. Em lugar disso, notas assim fomentam, através da perversa caricatura que traçam com as palavras, a intolerância e o preconceito.

Maria Teresa Horta é nome de referência na literatura de língua portuguesa, fazendo chegar para além das fronteiras de Portugal a ressonância de suas obras em prosa e em poesia. Além disso, por sua firmeza de posições políticas, sempre foi uma bússola para homens e mulheres de seu tempo, constantemente reafirmando a importância de relações menos hierarquizadas, tanto no âmbito da sociedade como um todo quanto especificamente nas relações entre homens e mulheres.

Envolver seu nome numa notícia falsa é tratar com leviandade uma mulher que engrandece o nome de Portugal.

Eu, como mulher brasileira, professora de literatura portuguesa, só posso lamentar o ocorrido e esperar uma postura mais digna por parte dos jornalistas que trabalham no Público.

Dra. Ana Maria Domingues de Oliveira

Professora de Literatura Portuguesa

Universidade Estadual Paulista – Brasil

Carta de Marlise Vaz Bridi:

É absolutamente inadmissível o que este anónimo inimigo público atribui a Maria Teresa Horta!

No último ano, o Brasil teve, em duas oportunidades diversas, a possibilidade de ver Maria Teresa Horta representar, com muita dignidade e, sobretudo, com brilhantismo, seus pares – poetas e escritores portugueses – no Encontro de Professores Brasileiros de Literatura Portuguesa, na USP-2007, e no Congresso Internacional de Lusofonia, na PUC-SP-2008.

É muito gritante a miopia de certas pessoas e grupos. Não me canso de lembrar que, por puro preconceito, muitos críticos contemporâneos de Machado de Assis deixaram de ver sua importância, para nós, hoje, mais que evidente.

Quando o futuro olhar para os nossos tempos e constatar o quanto de intolerância neles havia, quem sobreviverá? O anónimo inimigo dos portugueses?

Sobreviverá, com sua obra e seu lugar na História, Maria Teresa Horta. Entretanto, os portugueses e as portuguesas de valor não deveriam esperar o futuro.

Professora Doutora Marlise Vaz Bridi

Professora de Literatura Portuguesa da Universidade de São Paulo

e da Universidade Presbiteriana Mackenzie – Brasil

Carta de Carmem Sílvia de Almeida:

Li ‘O Inimigo Público’ do dia 06/06 publicado por esse jornal e fiquei estupefacta com as palavras que puseram na boca de Maria Teresa Horta, figura pública irrepreensível, referência na literatura e na defesa dos direitos das mulheres.

Entendo que a matéria é satírica, mas penso que envolver dessa maneira um nome de repercussão internacional é, no mínimo, deselegante e desrespeitoso.

Como admiradora da obra e das posições de Maria Teresa Horta, lamento o ocorrido e sugiro uma retractação no mesmo diário onde as falsas ideias atribuídas à escritora foram veiculadas.

No meu entender isso seria o mínimo que poderiam fazer para reparar tão grande injustiça para com uma mulher que leva o nome de Portugal para além de suas fronteiras.

Carmem Sílvia de Almeida

Professora da rede pública

São Paulo – Brasil

Explicações do director do Público:

Depois de consultado o nosso advogado, Francisco Teixeira da Mota, decidimos recusar o pedido de direito de resposta com base nas seguintes razões:

a) ‘O Inimigo Público’ é um suplemento humorístico cujo conceito é o de editar notícias imaginárias, ‘notícias’ que não foram notícia, mas que podiam ter sido. O seu lema, inscrito na primeira página, é ‘Se não aconteceu podia ter acontecido’.

b) Este conceito cria um paradoxo: não se supõe que em ‘O Inimigo Público’ se editem notícias verdadeiras, como um ‘direito de resposta’. Contudo a lei obriga a que esses textos sejam editados no mesmo local onde saíram as peças que suscitaram o referido ‘direito de resposta’.

c) O carácter humorístico de ‘O Inimigo Público’ criou, no início, alguns incómodos, até porque houve quem visse as suas peças como verdadeiras e não como sátiras. Houve até um pequeno incidente com a Câmara do Porto que foi sanado com facilidade. De tal forma que, apesar de o suplemento estar quase a completar cinco anos, até ao momento, e depois de um processo pouco agradável, apenas se editou um ‘direito de resposta’, tendo-se confirmado que essa fórmula não funcionava bem.

d) Sem discutir a capacidade que cada um tem para que se brinque, como maior ou menor gosto, com ele, o que habitualmente sugerimos é que os que se sentirem lesados se exprimam no espaço das Cartas ao Director.

e) Os termos em que Maria Teresa Horta colocou a questão, nos mails e na carta que enviou, não deixaram margem da manobra para uma solução desse tipo, pelo que, para não incumprir os prazos da lei, se optou por formalmente negar o direito de resposta, ganhando-se assim tempo para, com mais alguma serenidade, se tentar chegar a uma solução razoável que não impedisse o direito de Maria Teresa Horta protestar, mas fazendo-o num espaço do jornal que não aquele onde se escreve sobre ‘o que não aconteceu mas podia ter acontecido’.

f) Até ao momento não recebemos qualquer sinal de que o tema pudesse ser tratado com serenidade; pelo contrário, apesar de termos tentado algumas vias informais de mediação.

g) Sobre as ‘tropelias’ de ‘O Inimigo Público’ apenas posso referir que o humor em Portugal, mesmo no ‘Inimigo’, é muito menos cortante do que o praticado noutros países. Talvez porque nem todos sabem rir-se de si mesmos.

h) O ‘Inimigo’ já se meteu muitas vezes comigo, ao princípio ainda vinham mostrar-me, mas eu disse-lhes que não era preciso. Prefiro ocupar-me das notícias que realmente aconteceram.

José Manuel Fernandes

Protestos contra o adiamento das secções ‘Policiário’ e ‘Desafios’ de 15 para 16 de Junho:

Foi com profundo desagrado que dei pela falta da secção ‘Policiário’ na edição deste domingo do Público. Não se tratando da primeira vez que isto ocorre, a verdade é que nos últimos dez anos, em que sempre comprei o Público de domingo para poder acompanhar esta secção, tenho notado que estas ocorrências parecem estar a dar-se com

crescente frequência, no que me parece ser um desrespeito para todos aqueles que, como eu, dão primazia a este jornal por ser o único a apresentar uma secção com estas características.

Foi-me entretanto indicado que a referida secção terá saído na segunda-feira, o que, no meu entender, apenas vem agravar a falta de respeito, pois não só defraudaram as minhas expectativas na compra do jornal de domingo como a ‘enfiaram’ sem qualquer aviso numa edição na qual não deveria sair.

Não querendo pôr em questão a qualidade jornalística dos conteúdos do Público, a verdade é que, se eu compro este jornal ao domingo e não outro, é por causa dessa secção. Se estas situações perdurarem, sem dúvida que deixarei de ser leitor deste jornal.

Hugo Marques

Venho por este meio expor o seguinte:

Na passada segunda-feira, 16/06/2008, enviei ao director do vosso jornal, por correio electrónico, a seguinte reclamação:

Ex.mo Senhor Director do Jornal Público

Sou um leitor relativamente assíduo do vosso jornal e, ao domingo, nunca deixo de o comprar, especificamente para acompanhar a secção ‘Policiário’, já que sempre fui um apaixonado pela literatura policial, e, através desta vossa página, vou tendo a oportunidade de participar directamente nos torneios que o responsável pela mesma, Luís Pessoa, tão bem organiza em torno desta temática. Assim foi ontem, 15 de Junho, e qual não foi o meu espanto quando, ao folhear o caderno P2, dei pela ausência da página dedicada a esta secção. Estou certamente entre os muitos que, como eu, se sentiram defraudados após terem adquirido o jornal, e mais indignado fiquei ao verificar que o caderno P2 hvia sido impresso com apenas 20 páginas em lugar das habituais 24.

Será que a redacção do Público não se apercebe da originalidade de uma secção interactiva deste tipo (ausente dos restantes jornais diários) e do interesse que ela desperta num número muito significativo de leitores?

Seria de todo desejável que fosse dada uma explicação sobre o assunto. Creio que temos o direito de o exigir!

Com os melhores cumprimentos

José Gigante

Hoje, terça-feira, tomei conhecimento, através de uma pessoa amiga, de que a secção ‘Policiário’ havia sido inserida na edição de segunda-feira (o que parece inexplicável, face ao reduzido número de páginas constantes do caderno P2 de domingo). Tentei ainda adquirir o jornal de segunda-feira, mas tal não foi possível, uma vez que os exemplares sobrantes já haviam sido retirados das bancas à hora a que tomei conhecimento do caso.

Assim, vi-me privado da leitura da rubrica que semanalmente me leva a não falhar a aquisição do jornal aos domingos.

Uma vez que não recebi ainda qualquer resposta do director à reclamação enviada, penso que V. Ex.ª deveria tomar conhecimento da mesma para que possa tomar as providências necessárias para o esclarecimento da situação e para que situações análogas não se voltem a repetir.

Independentemente da importância e interesse que a vossa direcção possa atribuir a esta secção, deverá ser salvaguardado o devido respeito pelas legítimas expectativas que o ‘Policiário’ desperta em todos quantos o consideram entre as suas leituras de eleição e nos que participam activamente nos exercícios de reflexão crítica e interpretativa que regularmente promove. E a salvaguarda de tal respeito deveria certamente ter passado por um aviso no jornal de domingo, justificando a supressão da ‘página’ e informando sobre a publicação da secção na segunda-feira subsequente.

Espero que V. Exª comente esta situação quando for oportuno, se possível nas próprias colunas do jornal de que (ainda…) sou habitual leitor.

José Gigante

Arquitecto / Professor Universitário

Ocasionalmente, a secção ‘Policiário’ no P2 aos domingos não é publicada, sem qualquer aviso nem indicação no jornal do facto para isso não acontecer.

Dado que esta é uma secção semanal com milhares de pessoas a participar nas suas actividades, não se compreende o porquê destas irregularidades pontuais, e quando ocorrem, se for por necessidade absoluta, o porquê da não existência de uma nota a explicar a respectiva razão, e já agora com um pedido de desculpas aos leitores.

Agradeço um pouco mais de atenção a estas mexidas nas secções regulares, pois acreditem que têm um volume relevante em termos dos compradores do jornal ao domingo.

Eduardo Oliveira

Sou um leitor compulsivo do Público (concedo ao melhor jornal português o perdão pelo crescimento exponencial de gralhas ortográficas, gramaticais, históricas, geográficas…). Contudo, não posso deixar de reclamar veementemente do seguinte: na edição do Público de 15/07/2008, domingo, não foi publicada a habitual rubrica do professor José Paulo Viana ‘Desafios’. Até aqui, tudo bem. Sou professor de Matemática e confesso que a primeira coisa que faço quando compro o Público ao domingo é consultar, no P2, a referida rubrica. Acabo de verificar na internet que a rubrica foi publicada na edição do jornal do dia 16/07/2008. Pergunto: não teria sido mais correcto da parte do jornal a publicação dos ‘Desafios’ no próximo domingo, não apanhando de surpresa os leitores fiéis ao professor José Paulo Viana?

O respeito pelos leitores é muito mais importante que as gralhas de História ou Geografia que se comete na feitura de um jornal. As gralhas são inevitáveis, diga-se o que se disser. O respeito pelos leitores, esse sim, deveria ser um princípio inviolável num jornal dito de referência. Não concorda comigo?

José Carlos Silva, Póvoa de Varzim

Explicação da editora do P2 Isabel Salema:

Os leitores têm toda a razão. A secção não saiu porque excepcionalmente o P2 de domingo só teve 20 páginas, e devia ter havido uma nota de esclarecimento com a indicação de que seria publicada no dia seguinte. A direcção tinha-me dado essa indicação e o esquecimento foi meu.

Isabel Salema

Explicação do director do Público:

Confirmo a informação da Isabel Salema. A razão de ser da medida (publicar um P2 com apenas 20 páginas) derivou da necessidade de equilibrar a informação importante entre os dois cadernos do jornal, sendo que fazer um P2 com mais de 20 página (24, mais exactamente) implicaria, devido a constrangimentos das máquinas em que o jornal é impresso, acrescentar mais quatro páginas ao outro caderno, o que não se justificava nem era possível. Tudo isto por os saltos das duas máquinas em que somos impressos são de oito em oito páginas.

Feita a opção, na véspera, pedi para que se incluísse uma nota aos leitores avisando que ambas as secções seriam editadas segunda-feira, como sucedeu. Essa nota não saiu por lapso, como a Isabel Salema já assumiu.’