A publicação de imagens de soldados feridos em combate é sempre uma decisão complicada para veículos de notícias. Regras do Exército dos EUA sobre a cobertura de ‘feridos e doentes’, que levam em consideração ‘o bem-estar e a privacidade dos pacientes e das famílias’, determinam que ‘os incidentes podem ser divulgados por jornalistas que acompanham as tropas, desde que as identidades do soldado e da unidade estejam protegidas até que sua divulgação seja oficial. Fotografias de uma distância aceitável ou de ângulos que não permitem a identificação são permitidas. No entanto, a gravação de funerais ou de traslados de caixões é proibida’.
A agência Associated Press passou por um conflito ético ao decidir se deveria distribuir a seus membros uma foto que mostra um soldado fatalmente ferido em um conflito no sul do Afeganistão. Joshua M. Bernard, de apenas 21 anos, foi atingido por uma granada em uma emboscada talibã no dia 14/8, em Helmand. A imagem mostra outros soldados ajudando Bernard, após ele ter sofrido diversos ferimentos na perna. Levado para um hospital, o militar morreu na mesa de cirurgia, noticia a Editor&Publisher [4/9/09].
A foto foi tirada pela fotógrafa Julie Jacobson, que acompanhava os soldados e estava no meio da emboscada. Ela também fotografou o funeral de Bernard. ‘Jornalistas da AP documentam eventos de todo o mundo a cada dia. O Afeganistão não é exceção. Sentimos que nossa tarefa jornalística é mostrar a realidade da guerra; entretanto, muitas vezes isto pode ser desagradável e brutal’, afirma Santiago Lyon, diretor de fotografia da agência. Na opinião dele, a morte de Bernard mostra seu sacrifício pelos EUA. ‘Nossa matéria e fotos retrataram de maneira respeitosa suas últimas horas e estão de acordo com as regulamentações militares para jornalistas que acompanham as forças americanas’, ressalta Lyon.
Cuidados
Fotos como as tiradas por Julie são raras no Iraque e no Afeganistão, em especial porque não é comum jornalistas testemunharem casos de soldados americanos feridos em combate e porque as regras militares proíbem a divulgação de fotografias até que as famílias tenham sido notificadas. A fotógrafa, que se protegia de tiros, registrou a imagem de uma grande distância com lentes potentes e não interferiu na cena. A AP esperou até o funeral de Bernard no Maine, no dia 24/8, para distribuir as fotos e a matéria aos seus membros. Um repórter da agência encontrou-se com os pais do soldado morto para lhes mostrar as imagens. Depois de vê-las, o pai de Bernard disse que se oporia à divulgação, alegando que as fotos eram desrespeitosas à memória do filho. Posteriormente, ele mudou de opinião em um telefonema à agência.
‘Entendemos o sofrimento da família. Acreditamos que esta imagem é parte da história desta guerra. A matéria e as fotos são um tratamento respeitoso e de reconhecimento do sacrifício’, disse o chefe de redação da AP, John Daniszewski. ‘Jornalistas da AP cobriram conflitos em todo o mundo por 163 anos e testemunharam diversas cenas de guerra, com consequências fatais. Mas a decisão de distribuir as imagens nunca é rápida ou fácil de tomar. Neste caso, a AP decidiu que, com todo o contexto, era importante para os leitores ver esta imagem’, explicou Paul Colford, diretor de relação de mídia da AP, em declaração distribuída junto com a foto.
Julie lembra os últimos momentos do soldado. ‘Os outros jovens ficavam dizendo: ‘você está bem, vai conseguir. Fique conosco!’’, contou a fotógrafa. Mais tarde, ela ficou sabendo da morte de Bernard e pensou nas fotos que havia tirado. ‘Ignorar um momento deste teria sido errado. A morte é parte da vida e, mais ainda, da guerra. Nós, jornalistas, estamos lá para documentar os eventos da guerra para ficar na história’.