O lobista Fernando Moura declarou em depoimento à Justiça Federal na quarta-feira (3) que Furnas Centrais Elétricas mantinha um esquema de propina semelhante ao da Petrobras. Na área comandada pelo diretor Dimas Toledo, o usufruto era do PSDB. A divisão era “um terço São Paulo, um terço nacional e um terço Aécio”. O delator disse ter sido informado disso em 2002, pelo próprio Dimas, cujo nome era indicação do senador Aécio Neves.
A citação ao tucano apareceu com maior ou menor destaque na capa dos grandes diários, mas não deu as caras na “Primeira Página” da Folha. A reportagem tinha bom tamanho, mas ficou espremida em uma só coluna ao lado de um anúncio. Foi pouco. Apontei na crítica interna que a notícia merecia abre de página e chamada na capa.
A Direção de Redação concorda com a avaliação nos dois casos, mas Fábio Zanini, editor de “Poder”, tem opinião diferente. O espaço interno levou em conta a baixa credibilidade do delator, diz. “Ele mudou de versão em declarações sobre José Dirceu: primeiro acusou, depois recuou em vários pontos e, por fim, ameaçado de ter seus benefícios cassados, voltou à narrativa original.”
Moura não é realmente um delator confiável (supondo que essa figura exista), mas, se confiabilidade fosse condição “sine qua non” para publicar notícias da Lava Jato, os jornais teriam engavetado dezenas de reportagens e manchetes nos últimos dois anos. Basta lembrar de Alberto Youssef, que fez acordo de delação em 2004, no caso Banestado, e cujas traficâncias ressurgiram maiores no escândalo da Petrobras.
A menção a Aécio Neves merecia visibilidade por um trio de razões. O senador tucano é o maior líder da oposição, e nessa condição tem sido crítico contundente do governo petista a cada revelação trazida pelas investigações –muitas delas obtidas nas mesmas condições em que seu nome foi mencionado, com réus confessos e disse me disse.
Aqui cabe uma ressalva para evitar mal-entendidos. É comum receber contestação de leitores que, em nome de um suposto equilíbrio no noticiário, cobram tratamento igual para notícias de pesos desiguais: se o jornal publicou algo sobre Lula, defendem o mesmo destaque a qualquer nota sobre FHC ou tucanos em geral. Não é assim que funciona. Cada notícia tem peso próprio, dependendo de variáveis como impacto da revelação, importância do personagem, cardápio de notícias do dia, grau de interesse do leitorado.
Nesta semana, um leitor criticou o destaque concedido a suspeitas que envolvem o ex-presidente Lula e citou como exemplo de parcialidade o jornal não ter publicado na manchete a condenação do ex-governador Eduardo Azeredo no chamado mensalão mineiro.
Ponderei que não via razão para isso. Azeredo é figura secundária na política nacional, sua carreira não ultrapassou os limites regionais. Nem no jogo político ele estava mais em dezembro de 2015, quando foi condenado (em primeira instância): após renunciar ao mandato, virou consultor da Federação das Indústrias de Minas Gerais. Por que mereceria o título principal de um jornal com leitorado nacional?
Não é o caso de Aécio, que ganhou projeção nacional com a candidatura à Presidência da República em 2014. Há ainda outros fatores de peso para o depoimento de Fernando Moura merecer atenção. Furnas tem um histórico recheado de denúncias de desvio de recursos. Dimas Toledo (que nega qualquer acusação) era diretor da empresa desde o governo FHC e perdeu o cargo em 2005, no escândalo do mensalão, depois que o deputado Roberto Jefferson declarou à Folha que soube por ele do esquema de caixa dois que vigorava na empresa.
Por fim, é preciso levar em conta as mudanças no país. Toda vez que um delator levanta história com alguma raiz conhecida, a reação dos contrariados é dizer que se trata de notícia requentada com interesses políticos, para prejudicar esse ou aquele. Pode até ser, mas os tempos agora são outros.