Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O otimismo de Veja

Os leitores da revista Veja foram surpreendidos, na edição desta semana (nº 2102, de 4/3/2009), por uma guinada na cobertura dos efeitos da crise econômica no Brasil. É certo que a revista já havia afirmado, em editorial, no final do ano passado, que o Brasil seria um dos últimos países a entrar na crise e poderia ser um dos primeiros a sair, mas desde então os leitores tinham se habituado a receber semanalmente sua dose amarga de pessimismo.


Na capa, Veja destaca dez razões para otimismo e uma para pessimismo. Na reportagem, repete os dez elementos do que poderia compor um cenário mais tranquilizador, mas não apresenta qualquer novidade que já não venha sendo repetida pela imprensa em geral há semanas. Além disso, não se pode afirmar que sejam esses dez elementos selecionados os mais importantes fundamentos para um olhar otimista sobre a economia nacional.


A reportagem apenas requenta informações de conhecimento comum, deixando de lado alguns elementos importantes, como a maturidade do mercado de ações e do sistema de relações com investidores da maioria das empresas de capital aberto. Ademais, há elementos socioeconômicos que precisam ser levados em conta, como os novos perfis de mobilidade da sociedade brasileira, o desenvolvimento recente das cidades de porte médio e o ingresso de 40 milhões de pessoas que deixaram a pobreza e começam a ter acesso a um consumo mais consistente.


À espera de aprovação


Apesar de não ser inédito, o conteúdo da reportagem de capa de Veja surpreende porque marca uma clara mudança de posição em relação ao estado da economia brasileira.


Não há, na revista, uma explicação para tal mudança na interpretação dos fatos econômicos – que, afinal, não apresentaram grandes viradas na semana que passou. O leitor também não deve esperar que Veja comece a aplicar no noticiário econômico um jornalismo menos marcado pelo viés ideológico. Talvez as motivações para a mudança nem estejam no ambiente jornalístico, mas em outras áreas de interesse da empresa que edita a revista.


Por exemplo, a Folha de S.Paulo noticiou na segunda-feira (2/3) a venda de um canal de TV do Grupo Abril para o empresário religioso R.R. Soares, proprietário da Igreja Internacional da Graça de Deus. O negócio ainda precisa ser aprovado pela Anatel. Pode não ter nada a ver com o súbito otimismo de Veja, mas não custa nada registrar.


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Uma história mal contada


A imprensa brasileira segue com o vício de abandonar no meio do caminho assuntos que cobriu com estardalhaço. O caso da jovem brasileira que declarou ter sido atacada por neonazistas na Suíça é um deles.


O fato em si não representa um tema capaz de produzir turbulências políticas ou de mexer com as relações diplomáticas entre os dois países. Mas, como chegou a ganhar manchetes, poderia ter recebido um pouco mais de luzes.


As informações disponíveis até agora induzem a variadas interpretações, razão pela qual o leitor deveria merecer esclarecimentos adicionais.


Mas a mídia se retraiu, depois de haver comprado a versão inicial e virado posteriormente para as suspeitas de que a jovem havia tentado produzir uma fraude com interesses financeiros. Também existe a hipótese, deixada vagamente no ar, de que ela tenha sofrido os efeitos de uma doença nervosa.


De qualquer maneira, fica a sensação de que a imprensa deixou o trabalho pela metade.