Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O TCC como porta de entrada na profissão

Todo trabalho científico é uma travessia. E o Trabalho de Conclusão de Curso, o TCC, não é diferente. Mais do que uma viagem, uma travessia porque carrega consigo o inesperado, o incerto, a dúvida, por mais que as técnicas e metodologias sirvam como bússolas apontando à busca pela questão norteadora.

Independente do grau de complexidade, não existe receita pronta para a construção do trabalho de desvendar ou desvelar o objeto de pesquisa. São os referenciais metodológicos e teóricos, somados às bagagens e inquietações de professor e orientando, que vão solidificar a investigação – a primeira em densidade da maioria dos alunos de graduação –, ainda que toda verdade seja provisória na ciência.

E neste contexto de rotinas aceleradas pela tecnologia, permeada pela ideologia do prazer, e pouca paciência para o que não for dropado ou divertido, o TCC traz à tona dois requisitos que nunca saíram de moda: escrita e leitura. Ambos indispensáveis para o registro e avanço do conhecimento, auto desenvolvimento e pensamento crítico, além de fator decisivo de empregabilidade.

Desde os primeiros semestres de curso, os estudantes de Jornalismo devem ser estimulados a pesquisar – base para a realização e análise de produtos informativos, interpretativos e opinativos. Chegada a hora do TCC, é mais do que pertinente que a monografia, embora com todas as implicações e limitações, traga à tona elementos que não conseguem emergir com tranquilidade no cotidiano e na academia. Abre-se, ao final de oito semestres, um espaço para pensar dualidades, cenários, sujeitos, imaginários e processos.

O peso e a leveza da primeira vez

Longe de comparar com Dissertações e Teses, do ponto de vista ideal, o que se esperar da monografia? A presença da profissão em diferentes formatos, seja mostrando bastidores, rotinas de trabalho, conflitos morais ou a vilania e o protagonismo ao público, por exemplo. Independente da perspectiva metodológica, é um objeto rico, vivo e multifacetado. Um corpus, ou amostra, adequado ao proposto na pesquisa. A aplicação de técnicas que permitam uma exploração de dados, uma (re)leitura da realidade, com reflexões à luz da teoria. Enfim, com um compromisso de trazer o balizamento de paradoxos do campo profissional no presente.

E para avaliar? Identificar a base teórica apresentada, organização da pesquisa e a estruturação convicta com início, meio e fim, guiada por metodologia apropriada. Cabe destacar a importância da ética, por vezes tão negligenciada do debate universitário e da esfera pública, sem a qual a ideia de pós-modernidade e humanidade fica comprometida. Isso para que estimulemos o avanço de profissionais com capacidade de análise e contextualização, que despertem a cidadania em sua essência junto à audiência – seja na percepção, seja no imaginário.

Ao final do ano passado, ao completar quatro anos na docência, tive a oportunidade de orientar TCC’s de graduação e participar de bancas dentro e fora da instituição de ensino onde trabalho. Foi uma estreia permeada por convicções e dúvidas. Resolvi transpor para o papel pensamentos de quem enfrenta o frio na barriga de orientar e avaliar este tipo de produção de conhecimento pela primeira vez. Quando vemos grandes orientadores, mestres na arte de guiar da escuridão à luz, temos a impressão de que já nasceram assim – lapidados.

Raros são os registros que compartilham os primeiros passos nesse ofício que exige olhar isento, domínio de bibliografia, noção metodológica, coragem e amor à atividade profissional. Avançaria ainda mais: o desafio posto está em bancas e orientadores dispostos a caminhar na direção de respostas e soluções para as angústias e metamorfoses do campo do que propriamente a crítica do criticável, encontrada em larga escala em eventos científicos e publicações – ou ainda, sobremaneira, mergulhos profundos de teoria com conexões rarefeitas com modelos práticos.

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Leandro Olegário é jornalista e professor de Jornalismo