Se na edição 591 deste Observatório a imagem da cobertura de Dilma, Lula e o PT, retratada pelo Manchetômetro (o monitor da imprensa do Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública da UERJ), revelou hostilidade e rejeição por grande parte da grande imprensa, que tipo de sentimento o PSDB tem despertado nos principais jornais impressos? O que a mesma fonte nos informa sobre isso?
Para responder a esta questão, o projeto coordenado por João Ferez Júnior examinou uma série de dados sobre colunas e artigos de opinião publicados nos jornais Folha de São Paulo, O Globo e O Estado de São Paulo desde o início de janeiro de 2015 até momento presente sobre o PSDB. Os dados são atualizados todos os dias e só entram no cálculo dados sobre os jornais impressos. Ficaram de fora o Jornal Nacional da TV Globo e os editoriais das publicações.
No período pesquisado (27/2), foram registrados nos gráficos do estudo os dez jornalistas e comentaristas que mais escreveram sobre o PSDB nos três grandes jornais brasileiros. Quantos defenderam, criticaram, ou foram indiferentes ao partido de FHC, José Serra e Aécio Neves? Qual foi o padrão dos comentários? Não vou comentar ou citar nomes de profissionais da imprensa. Apenas os políticos com presença autoral nela. Comecemos pelo diário carioca:
Agora, vejamos como foi a produção da Folha de São Paulo:
E o Estadão? Qual a imagem sugerida pelo gráfico abaixo? Rejeição, aceitação ou indiferença? Qual é a cor predominante? Azul (apoio), laranja (neutro), ou marrom (contrário)?
O que salta aos olhos, em primeiro lugar, é o tamanho do conteúdo sobre o PSDB: a Folha produziu um volume maior de artigos que o Globo e o Estado de São Paulo somados. Observem a linha de baixo (eixo de x): o líder na produção da Folha escreveu mais de 30 matérias de opinião, em um total de 61 matérias. Contra as 19 publicadas no Estadão e as 35 do Globo. A pesquisa só envolveu matérias de opinião. Notícias não entraram na conta. O que diminuiu bastante o universo de matérias publicadas em todos os periódicos.
Em segundo lugar, o sentimento em relação ao partido evoluiu, na Folha e no Globo, para uma avaliação neutra. Sete em dez articulistas, nos dois periódicos, hoje preenchem as páginas de seus respectivos jornais com abordagens indiferentes ao PSDB.
Quem rejeita o PSDB, hoje, no Globo e na Folha e no Estadão? No diário carioca, um jornalista, um comentarista e um ex-blogueiro da revista Veja continuam a rechaçar o partido. Na Folha de São Paulo, o secretário da Redação do jornal e um político da esquerda continuam a resistir contra o partido da social democracia brasileira. Examine o gráfico com desassombro, caro (a) leitor (a). A oposição ao PSDB na imprensa fez estranhos companheiros.
A Folha de São Paulo mostrou leve tolerância ao PSBD. Pelo menos no início de 2015. Como no Estadão, dois articulistas ainda persistem em pautas negativas sobre o PSDB. O Estadão, por sua vez, publica José Serra e Fernando Henrique Cardoso. O PSDB tem forte presença nos dois jornais de São Paulo, cidade que assistiu com desconfiança o surgimento do PT há 36 anos, e que abriga grande oposição ao partido de Lula e Dilma.
Por isso, a imagem do PSDB pelos articulistas do Estado de São Paulo foi um pouco diferente. Quatro em dez autores de opinião do jornal publicaram matérias favoráveis ao PSDB entre o início de janeiro de 2015 e 28 de fevereiro de 2016. Entre eles José Serra e Fernando Henrique Cardoso. Apenas três publicam contra o partido e quatro continuam neutros: a imagem da produção investigada no Estadão resultou no gráfico mais “azul” de todos. Se Aécio Neves escreve para a Folha de São Paulo, FHC e José Serra colaboraram no mesmo período com o Estadão. Nenhum deles, por razões óbvias, produziu artigo ou coluna contra seu próprio partido. Acham injusto, leitores (as)? Do ponto de vista quantitativo, não é. A produção dos políticos do PSDB é bem pequena, quando comparada a dos jornalistas e comentaristas dos periódicos.
O Globo apresentou uma imagem indiferente ao PSDB. A Folha também, mas em outros termos: ela publica com mais frequência matérias que vão contra os padrões editoriais do jornal. Como os de Jânio de Freitas e Marcelo Freixo. O Estado de São Paulo tem a melhor percepção em artigos de opinião sobre esse partido, segundo a análise da série de colunas e artigos de opinião publicados nos três mais representativos periódicos da imprensa brasileira. Foi o jornal que menos publicou matérias de opinião sobre o PSDB.
A Folha publicou mais colunas e artigos sobre o PSDB. Como no jornal carioca, sua produção revelou indiferença, mas partiu de uma pequena aceitação inicial que nunca aconteceu com o Globo. A boa receptividade inicial foi a marca registrada do gráfico sobre o jornal Estado de São Paulo, onde as contribuições dos políticos de peso nacional desse partido produziram um mapa que demonstra, de uma forma ou de outra, maior receptividade as propostas do partido. Mesmo quando defendidas agora apenas por seus políticos, e um comentarista ainda fiel ao PSDB.
Há uma constatação importante a ser feita, e ela envolve o PSDB, o PT e a imprensa: os nomes mais importantes do PSDB têm presenças fortes em dois dos três mais importantes periódicos impressos do país. A pesquisa mostrou que Aécio publica na Folha, enquanto FHC e José Serra defendem seus pontos de vista no Estado de São Paulo. Observa-se, em um breve olhar sobre os gráficos acima apresentados, uma relação orgânica entre o PSDB e a imprensa que o PT não tem. Onde estão os grandes nomes do PT nos nossos grandes jornais?
Não acredito em “imprensa golpista”, digam o que quiserem todos os que testemunham o trabalho muitas vezes tendencioso dos nossos meios de comunicação de notícias. O PT não vai romper o cerco da mídia (iniciado em 2005 com o “mensalão”) com uma tropa de choque de blogueiros, revistas e militantes da esquerda. A grande imprensa brasileira tem um forte poder de agendamento, e os políticos do PSDB fazem parte dela como comentaristas de alto poder de fogo. O PT não tem como responder a isso.
A falta de uma presença maior na imprensa pode não ter sido decisiva na reeleição de Dilma Rousseff. Mas passou a ser crucial quando seu governo demonstrou os primeiros sinais de desgaste entre a população, e a economia brasileira começou a ceder conquistas preciosas em sua queda.
***
Sergio da Motta e Albuquerque é mestre em planejamento urbano, consultor em urbanismo, professor universitário e tradutor.