Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Não publicar é um favor

‘A varanda encontrava-se a dezesseis metros de altura, por cima de uma garagem, em frente da qual apenas havia a praia e o mar. Não havia uma casa em frente. Decidi-me a alugar uma escada de incêndio sobre rodas, de dezenove metros, e pedi emprestado aos homens que a acompanhavam uma camisa branca, um balde e um pincel, no intuito de fazer crer à Polícia holandesa que ia repintar um anúncio publicitário. A minha intenção era fazer-me içar com a ajuda dessa escada e fazer, a uma distância de 12 metros e o mais rapidamente possível, uma fotografia dos diplomatas no cimo dessa histórica varanda’.(Fotografia e sociedade, Gisele Freund, págs. 117-118).

É a partir do momento em que a imagem se torna, ela mesma, história de um acontecimento que se conta, numa série de fotografias acompanhada por um texto freqüentemente reduzido apenas a legendas, que começa o fotojornalismo propriamente dito.

Porém, o que se tem visto ultimamente são fotografias isoladas, com o fim de ilustrar uma história. Reside aí o problema: cada um inventa a sua. A história ganha maiores proporções quando ‘cai’ na internet pois, como se sabe, não existem leis que fiscalizem a rede. Alia-se a isso um público que não deseja apenas ser informado sobre os fatos e gestos das grandes personalidades, mas que se interessa por assuntos que têm a ver com a sua própria vida.

O que é afinal liberdade

No entanto, é preciso cautela. Entre tentar fotografar a reunião da Primeira Conferência de Haia e vigiar celebridades ‘a dar uma escorregadinha’ existe uma grande diferença.

A publicação de fotos como a do flagrante de Chico Buarque não tem a menor relevância, exceto o preenchimento da curiosidade de pessoas que querem conhecer as histórias de amor e a vida íntima das pessoas célebres e afortunadas e delas terem a permissão para sonhar e esquecer a sua própria existência, freqüentemente medíocre.

A mídia tem se apropriado cada vez mais da prática de coberturas leves e inconseqüentes, numa verdadeira disputa do público jovem com a TV, a Internet; ou, de acordo com a Veja, tem feito o bom jornalismo, defendendo a tese de que a publicação de intimidades de pessoas públicas faz parte dessa linha.

A minha preocupação é que a Veja, a exemplo de uma revista italiana, não comece a vender fofocas por telefone, tendo única e exclusivamente o compromisso com o leitor. É bom não esquecermos que a tentativa de feitura de imagens de ‘tão importante acontecimento’ já ocasionou mortes. Diante disso, faz-se necessário rever o que é afinal liberdade de imprensa. Enquanto isso, os curiosos de plantão agradecem o sono despreocupado (afinal, mídia, se você não disser, como vão saber?) e os que não fazem parte dessa linha agradecerão a não-obesidade mental.

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Estudante de Jornalismo da UFRN, Natal