Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Joaquim Vieira

‘Um jornal sem site é como se não existisse. Mas um site não é mero repositório de matéria publicada – tem vida própria

Na primeira quinzena do mês, o provedor recebeu uma revoada de reclamações de leitores do PUBLICO.PT que se sintetizam na exposição de um deles, Ricardo Quintas (R.Q.): ‘1) fotografias em ‘negativo’ quando são clicadas, tornando impossível a sua visualização; 2) mensagem a dizer ‘edição inexistente’; 3) anúncios de dupla folha que dificultam a ‘navegabilidade’ do site e a visualização das notícias; 4) textos em latim (?) em vez do texto da notícia; 5) textos com tags [marcadores] esquisitos que tornam difícil a respectiva leitura, por exemplo: ‘…pobreza u2013 as mais relevantes desde a criação do rendimento mínimo garantido em 1996 u2013, insistem na denúncia de aumento da pobreza entre nós, que nenhum indício confirma, antes pelo contrário. Se existe uma verdadeira expressão de u201Cinimizade políticau201D(…)’; 6) notícias só visíveis com a opção ‘Utilize o clip para poder visualizar a notícia’, mas que depois têm um tamanho de font [tipo de letra] impossível de ler’.

A possível erupção do latim (língua morta sem aparente motivo para ressuscitar em meio tecnológico tão avançado) intrigou sobremaneira o provedor. Porém, uma reclamação idêntica de outro leitor, José Luís Ferreira (J.L.F.), fez luz sobre a questão: ‘O título da entrevista de Ana Gerschenfeld a Marilyn vos Savant [9 de Junho] era seguido do seguinte destaque: ‘Lor sum ad te modo od tat ex et, velenis odolore diat, venisim endiam dunt lore tat essequat nonse essequisis ectet er sit niat’ (interessantíssimo texto não sei se em latim da Baixa Idade Média de Xabregas, se em minderico, mirandês…, quiçá em esperanto…)’. Não sendo versado em dialectos perdidos, o provedor atreve-se a dizer que se trata antes do resultado de uma teclagem aleatória no computador por um técnico informático, com vista à sua substituição pelo verdadeiro destaque, o que não se chegou a operar.

O provedor recebeu do director do PÚBLICO a explicação de que o jornal mudara de plataforma informática no início do Junho, pelo que se deveria tratar de questões da aclimatação (que não afectam só os seres vivos). ‘Os problemas que identificámos tinham a ver com isso e têm vindo a ser progressivamente resolvidos, conforme se vão detectando bugs [anomalias informáticas]’, concluía José Manuel Fernandes.

A verdade é que esse tipo de críticas diminuiu drasticamente nos últimos dias, pelo que o provedor presume que tudo regressou à normalidade. Mas as reclamações sublinham o impacte actual do site do PÚBLICO, de que cada vez mais gente depende para se informar, sem ler a edição em papel.

Hoje, na verdade, um meio de informação sem página na internet é como se não existisse. É um dado de civilização: o crescimento exponencial do consumo de informação na rede obrigou os media tradicionais não só a criarem sites próprios mas também a investirem cada vez mais no seu desenvolvimento, já que não podem ser considerados meros repositórios de matérias publicadas noutros suportes, mas órgãos de informação com autonomia própria, linguagem diferenciada e conteúdos específicos.

Pelos padrões nacionais, o site do PÚBLICO apresenta um interessante nível evolutivo, traduzido num crescente número de contactos diários, mas há muitos leitores, que fazem comparações com sites de jornais estrangeiros sem se levantarem da cadeira, a exigirem sempre mais e melhor.

É o caso de João Florêncio, que escreve de Londres: ‘Como português residente no estrangeiro, tenho por hábito consultar o PUBLICO.PT diariamente. Ora o que me espanta é a pobre qualidade editorial das notícias apresentadas no site. Tendo eu sido leitor regular da versão impressa do vosso jornal enquanto vivia em Portugal, surpreende-me muito pela negativa a distância abissal que separa o jornal propriamente dito e as ‘notícias’ disponibilizadas online para leitura gratuita, frequentemente pobres na linguagem utilizada, bastantes vezes parciais e por vezes desactualizadas. (…) Gostaria de vos deixar um exemplo de jornalismo online de qualidade: www.guardian.co.uk [site do diário britânico The Guardian]’. Também R.Q. é severo no julgamento e exigente no modelo: ‘Nunca vi um site de notícias tão mal feito como o vosso. É pena. Vejam por exemplo o site da revista The Economist. É simples e confortável de ler’.

Independentemente da acusação de parcialidade que o leitor não comprova (e o provedor não detecta), e mesmo descontando os exageros de muitos dos que se habituaram a reclamar através da web, estes sinais de desapontamento e exigências de melhoria deveriam ser tidos em consideração pelos responsáveis do PÚBLICO. Claro que os cânones apontados (a que se podem juntar muitos outros) resultam de um grande investimento que não caberá na dimensão deste jornal, mas não é um facto que o PÚBLICO sempre fez gala de se equiparar ao que de melhor se produz no jornalismo internacional?

A frustração cresce entre assinantes do PUBLICO.PT, com acesso a matérias que outros não podem ler. É o caso de Paulo Fonseca: ‘Como assinante do jornal por via electrónica, penso ter direito aos mesmos conteúdos de quem compra um jornal na rua ou o assina em papel. A questão é esta: o PÚBLICO entende disponibilizar os conteúdos do caderno principal e do P2 de uma forma diferente do que faz com os suplementos Fugas, Ípsilon e Pública. Ou seja, para os dois primeiros temos uma versão igual ao jornal e para os suplementos uma versão apenas em texto, mal apresentada e sem ter nada a ver com o jornal. Além disso, o que no meu entender é mais grave, nem todas as semanas os suplementos, pelo menos o Ípsilon, tem todos os conteúdos. Já por mais de uma vez reparei que as críticas dos discos não constam em algumas edições, por exemplo a de hoje [2 de Maio]. Isto é enganar as pessoas que assinam por um ano o jornal. Será que o PÚBLICO disse em algum sítio que quem assina o jornal pela internet (e já o faço há um bom par de anos) não tem direito a determinada informação, ou essa informação não é disponibilizada da mesma forma que o restante jornal?’

J.L.F., que diz comprar a edição impressa e ao mesmo tempo assinar a online (50 euros/ano), faz as contas de quem apenas subscreve o PUBLICO.PT: ‘Em lugar, neste momento, de pagar por semana 4×0,90 + 3×1,40 = 7,80 euros, paga 8,78 euros [por um] serviço – recordo – que, apesar de com maior qualidade, noutros media (a generalidade deles) é gratuito’.

Inevitavelmente, sob a emoção do protesto, surge até a ocasional ameaça de não renovar a assinatura do PUBLICO.PT ou a pergunta sobre se é possível a sua suspensão imediata, com reembolso do remanescente.

O provedor dá ainda conta de queixas sobre algumas funcionalidades do site, sobre gralhas nas notícias online, sobre o automatismo na forma como se promove textos (por exemplo, retirar as palavras iniciais para chamada, como aconteceu com uma crónica de Vasco Pulido Valente assim destacada: ‘Com o risco de repetir Constança Cunha e Sá, insisto no tema’), sobre a ausência de constante actualização (enquanto é noite e madrugada em Lisboa) ou sobre insuficiências do motor de busca.

Recomendação do provedor. Tendo em conta o actual papel da informação online e a sua previsível evolução, e tanto mais que o PÚBLICO já possui liderança neste segmento, o reforço da aposta do jornal no sector deverá acolher com especial atenção o ponto de vista dos utilizadores.

CAIXA:

A espuma dos dias

Que se passa com este jornal? Uma notícia é publicada duas vezes na mesma edição (31 de Maio), nas págs. 10 e 40, respectivamente com os títulos ‘MTD quer ‘dar voz’ aos desempregados’ e ‘Desempregados têm movimento associativo’; o mesmo acontece com a crónica ‘A minha TV’, de Jorge Mourinha, saída com o mesmo título e o mesmo texto em dois dias seguidos, 17 e 18 de Junho; num artigo sobre os 113 anos dos corn flakes – flocos de milho – (págs. 2/3 do P2 de 31 de Maio), fala-se sempre em trigo e ‘flocos de trigo’; na secção ‘Pessoas’ de 10 de Junho, diz-se que Joan Collins acaba de participar ‘num jantar de beneficência organizado pela mulher do ex-Presidente da União Soviética, Raisa Gorbachov’, falecida há nove anos (o jantar foi iniciativa da Fundação Raisa Gorbachov); escreve-se, na pág. 9 de 17 de Junho, que o realizador Manoel de Oliveira será homenageado na ‘Cimeira Ibérica, na Cidade do México, entre 1 e 5 de Outubro’, quando se trata do I Congresso da Cultura Ibero-americana; não chegam ao fim o obituário de Albert Cossery publicado nas págs. 10/11 do P2 da passada sexta-feira (terminando em ‘Sigamos, por isso, o princípio do prazer de Cossery. Leiamos os seus’), uma notícia sobre Tom Cruise em ‘Pessoas’ de 18 de Junho (‘… o de um dos filmes de’), duas crónicas de Desidério Murcho (de 17 de Junho – ‘… nos dicionários de língua inglesa: abro um, e os’ – e de 24 de Junho – faltando pelo menos um ponto final em ‘… é como fazer uma lei que oferece chocolates’) e a crónica de Paulo Varela Gomes de 18 de Junho (‘O problema maior destes missionários obcecados, os do ‘Ocidente’ e os do ‘Oriente’, não’).

De todos estes lapsos, o PÚBLICO só corrigiu (na edição de ontem) o do artigo sobre Cossery. Em relação ao resto, os leitores, alguns dos quais detectaram as falhas, ficaram em branco. Ironiza Luís Filipe Lopes sobre um dos casos: ‘Gostaria de ter lido a conclusão do raciocínio de Desidério Murcho, mas, enfim, talvez esteja a pedir de mais. Não está provado que os artigos tenham que terminar por um ponto final…’

Não são só os textos que não têm fim (o que torna a sua leitura exasperante), é também este problema, para o qual o provedor já uma vez alertou, que parece fácil de evitar, mas cuja solução o jornal ainda não encontrou.

Desde 3 de Junho, duas edições após o provedor ter criticado referências erradas nas previsões para os dias seguintes da página meteorológica, os mapas com essas previsões deixaram de conter a indicação dos dias. Assim, de facto, evita-se qualquer erro, mas não parece que os leitores fiquem mais bem servidos.’