Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Orquestra da crise toca plim-plim

A imprensa brasileira é grotesca, para não dizer coisa pior. Cabe a ela ter ética, imparcialidade e senso de realidade dos fatos, sempre fiel à verdade. Como disse, ela é grotesca, não cumpre com a decência e a honradez de sua missão: informar, isenta de interesses mesquinhos que gerem ganhos a uma parcela privilegiada.

A mídia televisiva e radiofônica por sua vez se apodera do que é público para defender o privado. A concessão de radiodifusão, que era para ser usada em benefício de todos, levando informação e prestação de serviços – bem como forma de levar cultura a todas as partes do país por meio de uma programação afinada com as necessidades da população – se transforma desde muito cedo, logo na forma em que a lei foi outorgada, ao passo que ofertou com total facilidade espaço no espectro eletromagnético o usufruto para interesses individuais. Repito, um bem público que deveria ser voltado para os interesses de toda a sociedade. De que grande imprensa estou falando? Você vai ver por aqui!

É medíocre falar que ao se defender um meio de comunicação está se resguardando o direito de liberdade de imprensa. Isso não é uma realidade. O direito de imprensa deve ser amparado em toda a democracia no planeta, porém se faz necessário que a mesma imprensa saia da postura ordinária e mentirosa, além de tendenciosa e manipuladora, em que se encontra, destinada exclusivamente para os interesses capitalistas e arbitrários de políticos e empresários, que dela fazem prostituta e corrupta, além de receptadora do furto praticado.

Não se deve defender apenas o direito de liberdade da imprensa, mas também o direito de opinião de todo cidadão, inclusive quando essa mesma imprensa implanta informações maliciosas ou usa de sensacionalismo para abordar determinado assunto. O fato sendo exposto de forma tendenciosa ou arbitrária deve, sim, ser repugnado e combatido pela população.

Informação é poder

Falar em direitos de liberdade passa primeiramente pelo crivo dos deveres que se têm com o coletivo. A Rede Globo de Televisão se coloca em todas as ocasiões como vítima quando os seus direitos de cobrir fatos são repudiados pela população, afirmando estar em perfeita consonância com a verdade e imparcialidade. Isso é uma utopia, afirmação descarada e repugnante.

Mas o que todo mundo sabe, ou pelo menos identifica, é que a sua forma de fazer jornalismo passa pelo descaramento de se colocar em posição consolidada em dado lado da história. A estratégia passa longe de ser tão demasiadamente notada, mas não precisa ser tão aparente para ser óbvia em tantas reportagens e matérias, além de ser clara a posição pela forma como seus âncoras as expõem nas bancadas dos telejornais. Esses têm em sua escala a ideia da desconstrução de outras ideias, sendo o alvo a mente frágil da população desinformada dos reais propósitos, na qual é desmiuçada a todo momento por analistas e comentaristas adestrados para falar o não e omitir o sim e vice-versa.

O “espera aí não é comigo” é sempre válido e recorrente quando a carapuça é descartada e não se faz dela companheira pelos os políticos que são pegos em corrupção. A resposta é sempre um “não”.

Isso também acontece com os meios de comunicação. A corrupção também está presente nessas empresas. Como foi lembrado, elas fazem uso de sua licença pública para não somente gerar capital particular, como também meio de auxílio para que esses políticos se beneficiem de forma ilícita do capital público.

Uma coisa leva a outra. Informação é poder, por sua vez isso se consolida por meio do capital. Isso pode ser exemplificado pelo fato que de norte a sul do país os meios de comunicação são de propriedade de políticos.

O vazamento seletivo de informações

Costumo dizer que uma campanha política passa por vertentes bem aparentes e corriqueiras: as malas de dinheiro e pelas propagandas. Tais são arranjadas no Brasil de forma cultural e medonha: por meio ilícito e desigual e por farsas plantadas em emissoras de rádios, televisão e jornais. Essa propaganda tem dupla função, ser a favor de uns políticos, como também contra outros. É o famoso tiroteio nos noticiários.

Partidos tradicionais como PMDB, DEM (antigo PFL) e PSDB são os que mais têm em seus quadros de afiliados, os chamados coronéis da mídia, nos quais todos têm em seus currais eleitorais emissoras trabalhando disfarçadamente em benefício. Elas a todo instante tentam desfazer, por meio de notas e reportagens – ou mais comumente, abafando o caso-as ações ilícitas de seus proprietários.

Não é de se estranhar que políticos desses partidos não estejam sendo abordados nas mídias por seus deslizes corriqueiros com o dinheiro público envolvido. O motivo já é de ser deduzido pelos caros leitores.

Desse emaranhado de interesses de manipulação das massas podemos fazer uma associação crucial. O papel que a Globo desempenha nesse pacto é o de regência nebulosa do poder da informação. Tudo passa em comum acordo com seus associados – os políticos donos de emissoras.

Uma rede nacional com várias de suas afiliadas dominadas pelos políticos. Todos juntos em uma grande tarefa: colocar panos quentes em informações que tragam à tona o que está por trás do jogo de interesses. Dessas artimanhas nasce a farsa mais conhecida atualmente: o vazamento seletivo de informações – dada a demanda da vez, a Operação Lava Jato.

Uma nova postura ética e moral

Vários políticos do congresso envolvidos em roubo de dinheiro público e apenas alguns são denunciados. Em específicos casos são feitas grandes coberturas. Já em outros, pouco casos se faz dos fatos, mesmo sendo mais contundentes, como é o caso do presidente da Câmara, Eduardo Cunha e do campeão em citação em delação premiada, o senador Aécio Neves.

A oposição vira manchete nas principais páginas como os salvadores da pátria, embora todos estejam diretamente ou indiretamente ligados em desvios de dinheiro público, como é o caso do senador Aécio Neves – segunda vez citado neste texto. Definitivamente a grande imprensa brasileira, bem como a política, tem várias coisas em comum. O descaramento e a hipocrisia reinam em comum acordo em livre acesso a ambos os meios.

Digo mais, a grande imprensa brasileira não somente coaduna com a política escabrosa que se faz no país, bem como é parte importante nesse jogo. A tal liberdade de imprensa é tão defendida, e de fato é necessário que a seja, mas também entendo que é ainda mais importante, que está mesma imprensa – que quer valer seu direito, se faça honrada em seu papel de levar informação com imparcialidade verdadeiramente digna.

Os direitos são atrelados aos deveres. Em relação a imprensa brasileira – falo agora de todas, imprensa, TV e rádio – faz-se necessário deixar a prostituição e a corrupção desenhada junto à politicagem e criar uma nova postura ética e moral, afinada com os interesses da população.

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Francisco Julio Xavier é jornalista