Na tentativa de driblar os censores, diversos blogueiros chineses tiveram a idéia de escrever sobre protestos ocorridos na província de Guizhou de maneira inusitada: de trás para frente. No final de junho, cerca de 30 mil manifestantes atearam fogo em prédios do governo para protestar contra a maneira como autoridades lidaram com a morte de uma adolescente na província de Weng´an. Segundo a polícia, a jovem teria se suicidado, mas moradores alegam que ela foi estuprada e assassinada por pessoas relacionadas a autoridades locais. A mídia estatal cobriu o assunto imediatamente, de acordo com o ponto de vista do governo, e censores foram rápidos em apagar conteúdo não-oficial na internet e desativar contas destes usuários.
Software inovador
A fim de dar mais trabalho aos censores, blogueiros desenvolveram um software que muda as frases para serem lidas da direita para a esquerda, em vez da esquerda para a direita, e verticalmente, em vez de horizontalmente. O sofisticado regime de censura da China – conhecido como o ‘Grande Firewall’, em analogia à Grande Muralha e ao dispositivo de segurança – pode automaticamente detectar frases repreensíveis. No entanto, o país tem um grupo talentoso e experiente de internautas que descobre maneiras de burlar a repressão.
A menos de um mês do início das Olimpíadas, o governo tem se mostrado pouco paciente com dissidentes – online ou não. No dia 27/6, autoridades em Nanjing condenaram o jornalista Sun Lin a quatro anos de prisão, por publicar artigos no sítio dissidente Boxun; ele também foi acusado de ‘reunir multidões para causar distúrbio social’. Desde o inicio do ano, 24 jornalistas, ciberdissidentes e ativistas foram presos no país, de acordo com a organização internacional Repórteres Sem Fronteiras.
Outras tecnologias também vêm sendo usadas na China, que conta hoje com 221 milhões de internautas. O jornalista-cidadão Zhou Shuguang, por exemplo, usou o serviço de microblog via celular Twitter para divulgar notícias sobre o protesto em Guizhou. Ele também tem um blog hospedado em um servidor fora da China.
Meio popular
Até o presidente Hu Jintao optou por usar a rede para se comunicar – ainda que de forma tímida. No dia 20/6, Jintao participou pela primeira vez de um bate-papo online, no sítio do jornal oficial Diário do Povo. Ele comentou à equipe do diário que o compartilhamento de informações tornou-se mais rápido e conveniente com a internet – o que aumentou o papel da opinião pública do país. Jintao evitou utilizar o teclado e usou o microfone para responder às três perguntas permitidas na conversa online: ‘você usa a rede? o que você faz na internet? você lê sugestões enviadas online?’. A resposta foi sim para todas as questões. Informações de Juliet Ye e Geoffrey A. Fowler [Wall Street Journal, 2/7/08].