Em 1978, quando a Vale começou a explorar o minério da Serra dos Carajás, Parauapebas não passava de um ponto perdido no mapa em meio à selva amazônica. Mas visto hoje por imagens de satélite, o lugar se revela como uma cidade vizinha a uma grande ferida marrom-avermelhada, o resultado de 38 anos de extração ininterrupta de minério em plena floresta.
Desde sua fundação, a população de Parauapebas saltou de 11 mil para 190 mil habitantes. Altamente dependente da riqueza mineral, o PIB local cresceu a uma média de 144% entre 2008 e 2011, durante o auge do ciclo das commodities impulsionado por importações chinesas. Mas mesmo com taxas de crescimento invejáveis, o lugar é marcado por forte desigualdade econômica.
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De um lado, a bonança tem proporcionado a Parauapebas luxos como um shopping center, condomínios de classe média alta e uma boa rede de hoteis e restaurantes. Parauapebas também é reconhecida pela Floresta Nacional de Carajás, uma reserva florestal intacta de 393 hectares cercada e mantida pela Vale. A reserva abriga também o núcleo urbano de Carajás, um bairro murado com cerca de 1 300 residências em ruas arborizadas onde vivem funcionários da Vale. Dotado de uma bela infraestrutura, o núcleo conta com facilidades como escola, hospital, cinema e um aeroporto próximo.
O saneamento básico é outra carência gritante. O índice de coleta de esgoto é de apenas 13% e 25% dos domicílios não contam com banheiro ou água encanada. No Mapa da Violência de 2015, a cidade ocupa o nada honroso 152º lugar no ranking, com uma taxa de média de 37,3 homicídios por 100 mil habitantes. Parauapebas também permanece vulnerável ao fluxo de migrantes pobres que chegam pela estrada de ferro Carajás, mantida pela Vale, através de estados como o Maranhão. Tal coleção de mazelas indica que a riqueza do minério ainda não foi revertida em termos de desenvolvimento humano para o conjunto da população.Mas no lado da periferia, a paisagem é desoladora. Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil, nada menos do 35% da população permanece em condições vulneráveis à pobreza. Cerca de um terço dos habitantes são indivíduos com 18 anos ou mais que não terminaram o ensino fundamental e tampouco têm ocupação formal.
É preciso reconhecer que, em boa medida, a responsabilidade no trato da coisa pública em Parauapebas cabe à própria sociedade local e à classe política, responsável direta pela gestão municipal. Mas a outra parte dessa mesma responsabilidade cabe à Vale, através do impacto causado pela mineração.
Segundo a empresa, apenas em 2014 ela investiu R$ 100 milhões em ações socioambientais no lugar, em atividades variadas que vão da capacitação da mão de obra a programas de conservação ambiental. Mas diante das carências e do horizonte de esgotamento do minério de ferro no município num prazo de 18 anos, está claro que Parauapebas continua vulnerável para lidar com seus desafios presentes e futuros – em plena selva amazônica.
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Carolina Marins, Cauê Félix e Letícia Fuentes são alunos da disciplina de Ética, na Graduação em Jornalismo, na Escola de Comunicação e Artes (ECA), na USP