Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalismo multifacetado

Em minha época de escola, as matérias seguiam uma ordem lógica: português, matemática, biologia, física etc. Com o mundo em constante movimento, a realidade do ensino mudou. Hoje os níveis fundamental e médio compõem, em seu currículo, uma série de temas que procuram abrigar o advento de novas tecnologias, algo que estimula estudantes a sonhar para bem além das profissões tradicionais. Há assuntos tão diferentes e complexos que os nomes são até difíceis de pronunciar.

Se as temáticas se ramificaram, é natural pensar que a comunicação também mudou. Afinal, o jornalismo tem por obrigação tratar das novidades e o faz especialmente em suplementos destacados nas mais diferentes mídias. As redações se esforçam ao empregarem editores de política, economia, polícia etc. Mas onde estão os editores de matérias sobre programação? E profissionais que falem com naturalidade sobre trânsito ou geologia?

Jornalista é, de fato, um generalista. Entretanto, havendo conhecimento numa área, certamente o trabalho fica facilitado. Não é simples entrevistar pessoas que usam linguagem própria – verborrágica – para expor conceitos de sua expertise. Traduzir as entrevistas, às vezes, leva mais tempo que fazer a entrevista em si. Dito isso, o jornalismo precisa estar em constante adaptação. Já existem, por exemplo, inúmeros sites de conteúdo vertical, isto é, aqueles que tratam de um único tema. Muitos já se tornaram referência em termos de conteúdo.

Imperativo de sobrevivência

A descentralização da mídia tradicional é boa para os novos jornalistas. Tratar de temas que não ganhariam espaço na imprensa abre novos caminhos. Tenho um amigo, por exemplo, que criou um canal no YouTube exclusivamente sobre quadrinhos. O assunto quadrinhos ganharia destaque na televisão, por exemplo? Outro colega pensa em abrir uma assessoria de comunicação para juristas e escritórios de advocacia. Traduzir o juridiquês é o objetivo dele. Na equipe, provavelmente precisará de profissionais que falem de direito do trabalho, tributário, ambiental etc. O generalismo seria temerário aqui.

Num mercado competitivo, portanto, não bastam profissionais que “falem de tudo”. É impossível falar de tudo com credibilidade. Com tempo de produção, talvez. De outro modo, o ritmo dos jornalistas – de três a quatro pautas por dia – sepultaria a qualidade da informação. E aí choveriam críticas de entrevistados e de leitores, que não perdoam erros grosseiros.

O segredo para um futuro profissional satisfatório, nesse contexto, é a especialização da especialização. As áreas do conhecimento apresentam grupos, subgrupos, ramificações dos subgrupos… e assim segue o baile. Jornalistas capacitados para produzir conteúdo sobre tais assuntos não são mais uma possibilidade no novo século, mas sim, uma exigência, um imperativo de sobrevivência.

Gosta de um tema? Aposte nele. Sempre haverá alguém que queira ler, ouvir ou assistir. Basta estudar e saber no que se especializar. Trata-se de uma escolha difícil, mas que, se der certo, beneficiará emissores e receptores.

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Gabriel Bocorny Guidotti é jornalista e escritor