Um informe da organização não governamental Global Witness divulgado em 20 de junho aponta o Brasil como o país mais perigoso para os ativistas ambientais com um saldo de 50 mortes ocorridas em 2015. A América Latina continua sendo a região onde mais ecologistas são assassinados, com 122 mortes. O estudo avalia que 2015 foi o ano mais sangrento deste século, com um total de 185 mortes, 69 a mais que em 2014.
O jornal EL Pais repercutiu o tema analisando o relatório da ONG que concluiu que as principais causas dos conflitos que contribuíram para a morte dos ambientalistas foram a mineração (42), a agroindústria (20), o desmatamento (15), as hidrelétricas (15) e a caça ilegal (13). Cerca de 40% dos mortos são indígenas.
Na lista dos 16 países investigados, as Filipinas contabilizam 33 mortes, vindo em seguida a Colômbia (26), Peru (12) e Nicarágua (12). Segundo Felipe Sánchez, que assina a reportagem do El Pais, “a madeira ilegal do Brasil representa 25% dos mercados mundiais.” O jornalista cita o assassinato de Raimundo dos Santos Rodrigues, marido da ativista Maria da Conceição Chaves Lima, do Instituto Chico Mendes, que levou 12 tiros em uma emboscada no ano passado. O casal combatia o desmatamento na Amazônia e hoje ela vive longe da família e da comunidade em um programa de proteção a vítimas e testemunhas ameaçadas.
Monitorando desde 2010 os casos de violência contra ambientalistas, a Global Witness registrou nesses cinco anos 735 assassinatos, sendo 77% deles na América Latina. O Brasil é o recordista com 207 mortes, seguido por Honduras (109) e Colômbia (105). Os três países somam 56% de todos os crimes no período. A ONG, com sedes em Londres, Washington e Califórnia, atua em prol dos direitos humanos e ambientais, denunciando abusos e violações, apesar das dificuldades na obtenção de informações oficiais.
Crimes ambientais movimentam até 258 bilhões de dólares
Em outro relatório, esse publicado em 4 de junho pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em parceria com a Interpol, apurou-se que os crimes ambientais em 2015 movimentaram de 98 a 258 bilhões de dólares, 26 % a mais do que 2014. Um crescimento alarmante para o secretário-geral da Interpol Jürgen Stock. Na última década, o crime ambiental tem subido de 5% a 7% ao ano, o que corresponde a duas a três vezes mais que a economia global.
O documento afirma que devido a legislações fracas e órgãos de segurança subfinanciados as redes criminosas internacionais e rebeldes armados estão lucrando com um comércio que provoca conflitos, devasta ecossistemas e ameaça espécies em extinção. O crime ambiental é o quarto maior negócio criminoso do mundo, depois do tráfico de drogas, falsificação e tráfico de seres humanos. Supera o comércio ilegal de armas de pequeno porte avaliado em cerca de 3 bilhões de dólares. O relatório especifica também os vários ilícitos ambientais praticados pelas organizações criminosas, entre eles o comércio ilegal de espécies, os crimes corporativos no setor florestal, a exploração e venda ilegal de ouro e outros minérios, a pesca ilegal, o tráfico de lixo tóxico e a fraude no crédito de carbono.
Em tempo: Enquanto a grande mídia e as redes sociais passaram ao largo do tema, a Agência Brasil, da Empresa Brasileira de Comunicação, reportou de forma exemplar o informe da Global Witness, em matéria assinada pela repórter Maiana Diniz.
Mais detalhes nos links:
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/06/19/internacional/1466330474_587241.html
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Sheila Sachs é jornalista