Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma entrevista reveladora

A imprensa tem muitas formas de prestar serviço aos leitores e uma das mais eficientes – como mostrou a edição corrente de Veja (12/8/2009) – ainda é a entrevista. A entrevistada do espaço nobre da revista – as páginas amarelas – foi a psicóloga Rozângela Alves Justino, aquela que se propõe a ‘curar’ homossexuais arrependidos. Para muitos, a entrevista poderia parece um endosso das posições da profissional punida pelo Conselho de Psicologia. Mas, ao fazer as perguntas certas, acabou revelando mais do que qualquer manifesto ou protesto que possam fazer os que não concordam com a psicóloga.

Sem uma palavra que a entrevistada pudesse considerar ofensiva, a repórter Juliana Linhares conseguiu mostrar aos leitores o que pensa, ou o quanto delira, a psicóloga. E teve uma boa colaboração da arte, que fotografou a personagem, a pedido dela mesma, com máscara e óculos escuros porque não quero ‘entrar no meu prédio e ter o porteiro e os vizinhos achando que eu tenho algum problema ligado à sexualidade’.

A psicóloga acabou comprovando o ditado: ‘Não há perguntas inconvenientes. As respostas é que podem ser.’

Homossexualismo e nazismo

As respostas mais reveladoras.

Sobre a punição que recebeu:

‘Há no Conselho muitos homossexuais e eles estão deliberando em causa própria… Além disso, esse conselho fez aliança com um movimento politicamente organizado que busca a heterodestruição e a desconstrução social através do movimento feminista e do movimento pró-homossexualista, formado por pessoas que trabalham contra as normas e os valores sociais.’

Sobre o número de pessoas que ‘ajudou’:

‘Nunca me preocupei com isso. Psicólogo não está preocupado com números. Eu vou fazer isso a partir de agora. Vou procurar a academia novamente. Vou fazer mestrado e doutorado. Até hoje eu só meu preocupei em acolher pessoas.’

Sobre religião:

‘Sou evangélica desde 1983. Nos anos 70 aconteceu algo muito estranho na minha vida. Eu comprei um disco do Chico Buarque. De um lado estavam as músicas normais dele. Do outro, em vez de tocar Carolina, vinha um chamamento. Eram todas canções evangélicas. Falavam da criação de Deus e do chamamento da ovelha perdida. Fui tentar trocar o LP e, na loja, vi que todos os discos estavam certinhos, menos o meu. Fiquei pensando se Deus estava falando comigo.’

Sobre o nazismo:

‘O ativismo pró-homossexualismo está diretamente ligado ao nazismo. Escrevi um artigo em que mostro que os dois movimentos têm coisas em comum. Todos movimentos de desconstrução social estudaram o nazismo profundamente porque compartilham um ideal de domínio político e econômico mundial. As políticas pró-homossexualismo querem, por exemplo, criar uma nova raça e eliminar pessoas.’

Uma análise do perfil psicológico

A repórter fez as perguntas certas e teve sorte. A psicóloga falou mais do que devia ao criticar feministas, ao revelar o ‘chamamento’ vindo através de um simples LP e ao ‘denunciar’ uma conspiração mundial de inspiração nazista.

O material publicado é, sem dúvida, suficiente para que o Conselho de Psicologia analise novamente o caso dela. Ou a moça delira ou encontrou um marketing perfeito para ganhar notoriedade, embora diga que não tem nenhum desejo de ficar famosa: ‘Nunca almejei ir para a mídia, ser artista, ser fotografada.’

Enquanto o Conselho estuda o caso da psicóloga, o resto da imprensa poderia aproveitar para ouvir os colegas de profissão de Rozângela – especialmente os que não estão na mídia nem oferecem curas milagrosas (a maioria) – e pedir que eles analisem, para os leitores, o perfil psicológico dessa senhora.

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Jornalista