Existem muitas maneiras de buscar conhecimento. Sentar à beira de um lago, a fim de observar os peixes nadando. Ler um livro. Assistir a um filme. Abrir um jornal e manter-se atualizado a respeito dos principais acontecimentos de nosso tempo. Seguindo nesta última linha, é justamente a imprensa – de jornais, sites, rádios, televisão etc. – o assunto deste texto. Até que ponto a necessidade de audiência atrapalha a função social dos veículos de comunicação? Ou seja, até que ponto atrapalha o compartilhamento de conhecimento?
A imprensa faz parte de um contexto que forma opinião. Em 2015, o noticiário foi péssimo em razão da tempestade política no Brasil, somada a outras crises registradas planeta afora. Eximir-se de comunicar as principais mazelas da civilização seria fraudar o jornalismo. O gosto pela notícia de cunho negativo, contudo, num universo que também comporta milhões de notícias positivas, é uma chaga das redações.
Os veículos têm a tarefa hercúlea de se manter atrativos; caso contrário, o modelo de negócios ruiria. Para isso, está entre os principais valores-notícia das redações o fato que choca, que gera repercussão. Conteúdos que edificam, mas nos fazem chorar ao mesmo tempo. Essa dinâmica é sensível nos telejornais. Os primeiros blocos metralham o espectador com notícias trágicas. No encerramento, uma reportagem menos dolorida. A tensão diminui, mas não sem deixar cicatrizes.
Ainda nesse espectro, é surpreendente observar como os telejornais de horários nobres se modificaram. Anos atrás, o tipo de notícia veiculada atendia ao público da manhã, por exemplo. Digamos que crianças e donas de casa. Hoje, não há horário para noticiar, com grande interesse, tragédias de diferentes magnitudes. É bombardeio atrás de bombardeio. O cenário negativo de nosso país virou atração para todo e qualquer receptor.
Imprensa divide a responsabilidade
Notícias inspiradoras ganham pouco espaço. Essa é verdade (e ela agrava um clima de pessimismo coletivo). Mas seria injusto condenar a imprensa como principal força-motriz da infelicidade alheia. Inúmeros sociólogos criticam o esfacelamento do tecido social. A corrupção contaminou as esferas pública e privada. Há uma crise de valores morais, na qual o bem e o mal estão separados por uma linha tênue.
Se o jornalismo é pouco propositivo, ele divide essa falha com outros segmentos da sociedade. As escolas, por exemplo, com professores desmotivados e alunos alienados. As famílias, igualmente, são estruturas que passam por intempérie. Crianças e jovens ficam à mercê de uma base educativa ruim, que não impõe limites ou referenciais. Em vez de um mundo colorido, cheio de possibilidades, veem um mundo escuro, engessado.
A imprensa deve formar, informar e entreter, embora às vezes se esqueça de seus princípios basilares. No que corresponde a ela, cabe uma revisão conceitual sobre assuntos que vão, de fato, contribuir para o enriquecimento intelectual da audiência. O jornalismo, se propondo a conteúdos pessimistas, exclusivamente, não cumpre sua função social. Está na hora de voltar a cumpri-la. Quem sabe isso não inspire outras pessoas e setores a fazer o mesmo?
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Gabriel Bocorny Guidotti é jornalista e escritor