Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mario Vitor Santos

‘Um cronista achará difícil descrever a velocidade dos acontecimentos que abalam o jornalismo nos últimos dias. Impossível reproduzir a temperatura das acusações, desmentidos, golpes, contra-ataques, ameaças, estratégias e ilações trazidas a público nos últimos dias. Há um somatório de versões apresentadas na mídia como se fossem fatos.

Nenhuma instituição é preservada, a começar pelos meios de comunicação. Há uma demonização dos que divergem, vinda de todos os lados. Jornalistas trocam acusações, denunciam, pedem cabeças. Policiais, juízes, parlamentares, autoridades, advogados, todos brigam entre si, em público e mais ainda nos bastidores.

As estocadas vão em todas as direções e atravessam os níveis hierárquicos. Não há neutralidade possível, todos são suspeitos. O aspecto é um caos, de excitada conspiração.

Nesse clima, não se sabe mais o que é informação e contra-informação, contradenúncias, contra-sentenças. Blogueiros, colunistas e repórteres protagonizam um festival de prejulgamentos. Fazem-se ameaças, juras de vingança. Há exceções, mas é difícil destacá-las.

Qualquer informação ou opinião leva a que seu emissor tenha a credibilidade imediatamente questionada. De um lado, estão tipos qualificados como carbonários, acusados de estar incrustados na Polícia Federal, no Ministério Público, na Justiça e na mídia, dispostos a tudo para reeditar uma espécie de Operação Mãos Limpas e, finalmente na história do Brasil, levar ricos para a cadeia. Do outro, policiais, promotores, juízes, jornalistas e veículos de comunicação são acusados de estar vendidos a Daniel Dantas e seu grupo.

Expressões mais cautelosas, e obrigatórias, como ‘suposto’, ‘presumido’, ‘segundo’, ‘de acordo’ são raras. Perguntas que deveria ser tidas como sinceras, verdadeiras, sem malícia são tachadas de ridículas. O benefício da dúvida ou da boa fé é recebido com a suspeita de intenções veladas.

No tiroteio interno a cada instituição, os ‘agentes’ de cada lado instituem um vale-tudo para antecipar e anular o próximo lance do outro. Policiais acionam aliados na Ministério Público, que lança mão dos ‘seus’ juízes, e todos os anteriores sempre obtêm a adesão voluntária de um repórter.

A união da TV com os blogs arrasta os outros veículos na enxurrada. A medida do sucesso é a rapidez e a certeza fingida na denúncia. Há uma gritaria de briga de turma, em que amigo ajuda amigo e o inimigo do meu amigo é meu inimigo. Repórteres rendem-se à certeza maledicente das conversas de boteco.

Falta respeito aos procedimentos técnicos fundamentais do jornalismo. Falta separação rígida, inflexível, entre informação e opinião. Falta apuração, checagem e cruzamento de informações com fontes dignas de credibilidade. Falta não ceder um milímetro ao sensacionalismo, ao escândalo e ao denuncismo. Não publicar como certo aquilo que não foi confirmado. Faltam distanciamento, imparcialidade equilíbrio. Jornalista não é parte, nem toma partido. Falta mandar cada macaco para o seu galho, acabar com a bloguização do noticiário, o que contribui para fragilização do jornalismo por envolvê-lo na degradação dos direitos civis que justificam sua existência.

A luta pela precedência não justifica ataques à ética. Não se podem obter resultados corretos por meios condenáveis, o que iguala todos aos criminosos. Uma velha lição do jornalismo: a longo prazo, vai prosperar quem mantiver atitude profissional. E mesmo que não fosse assim.

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O iG, Dantas e a PF (8/7/08)

O iG realiza uma cobertura insuficiente da mais espetacular de todas as operações da Polícia Federal. Foi preso hoje o banqueiro Daniel Dantas, dono do banco Opportunity, importante acionista minoritário da Brasil Telecom, que é proprietária do iG.

Dantas foi, entre 1999 e 2005, o principal administrador da Brasil Telecom. Essas informações não são divulgadas em nenhuma reportagem do iG hoje. No recente processo de venda da Brasil Telecom para a Oi!, ainda não concluído inteiramente, Dantas teria recebido R$ 1 bilhão para retirar-se da sociedade e abrir mão dos processos que movia contra os fundos de pensão e outros sócios seus na Brasil Telecom, permitindo assim a venda da empresa. Essas informações também não aparecem na cobertura do iG, que se baseia em notícias enviadas por parceiros, em especial de reportagens produzidas pela Agência Estado.

Foram presos, além de Dantas, mais 16 pessoas, entre elas o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e o investidor Naji Nahas, que a mídia há décadas vem chamando em coro de ‘megaespeculador’. As acusações são formação de quadrilha, evasão fiscal, tentativa de corrupção de um delegado (a quem teria sido ofertado R$ 1 milhão para retirar Dantas e sua mulher das investigações).

Do que foi possível observar até agora, a cobertura do iG demonstra lentidão, falta de informações confiáveis e pouca transparência. O tom das notícias é mais uma vez dominado pela Polícia Federal (que agora aponta que Nahas influenciaria até as taxas de juros do Federal Reserve norte-americano, o que provavelmente o transforma no homem mais poderoso do mundo).

O iG deu voz à defesa dos acusados, mas de maneira ainda tímida. Saber como agir numa situação dessas pode ser complicado. Atingir a verdade dos fatos é impossível a essa altura. Mais do que nunca, o jornalismo é a única saída.

É necessário perseguir a informação, procurando manter o distanciamento, o equilíbrio e rejeitando a manipulação e o pré-julgamento. Isso exige firmeza, paciência e técnica.

É um esforço imenso, pois a maré acusatória, a dependência das versões vazadas e divulgadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público criam um ambiente de condenações quase intransponíveis. Muitos agem de maneira emocional e precipitada. Operações de vingança misturam-se a apurações sérias. Nesse clima, o respeito à checagem da verdade e ao contraditório ficam muito difíceis.

Cabe ao iG ter clareza de suas debilidades até agora, para tentar superá-las:

1) é constrangedora a falta de informações exclusivas sobre um tema tão próximo do iG. Mesmo informações básicas como a trajetória de Dantas na Brasil Telecom e sua situação atual na empresa deveriam ser informadas. A mídia não é transparente nas informações que envolvem seus controladores.

2) falta de agilidade na audição e edição das opiniões dos acusados (que, como é comum nesses casos, já estão sendo tratados como criminosos pela maioria dos jornalistas, que ecoam o que ouvem da PF).

3) ausência de reportagens que apontem as repercussões políticas (as insinuações avançam contra a ministra Dilma Roussef, o que parece favorecer seus adversários na silenciosa corrida pela candidatura petista à sucessão do presidente Lula).

4) ausência de reportagens sobre implicações econômicas, como a situação da fusão entre a Oi e a Brasil Telecom, que altera o mercado de telefonia. As investigações de alguma maneira afetam a venda da Brasil Telecom para a Oi?

5) é preciso investigar o que muda no envolvimento do governo via BNDES e fundos de pensão, que vinham negociando com o Opportunity.

6) Diz-se que Dantas é uma espécie de arquivo vivo e que teria munição para retaliar os que julga estarem por trás de sua prisão. Qual seria essa munição?

7) Dantas foi preso como parte das investigações do mensalão, o que aparentemente reacende uma fogueira que o governo Lula gostaria de ver apagada. A Polícia Federal é teoricamente subordinada ao ministro da Justiça Tarso Genro que responde ao presidente Lula. Quais são os bastidores dessa operação?

8) Luis Demarco, inimigo de Dantas, mais do que nunca, deveria ser procurado.

9) Diante da Polícia Federal e seus porta-vozes no jornalismo (que já começaram a classificar a operação como exemplo de profissionalismo e paciente critério), como dar voz a todos os acusados, respeitando as suas versões e duvidando das acusações oficiais?

10) As dificuldades de reportagem e apuração próprias ao iG se agravam pela situação particular do portal e de sua empresa-mãe, que está sendo negociada enquanto um seu acionista e antigo administrador é preso. Será que o iG tem condições de acompanhar adequadamente esse tema?

É um teste para medir a independência editorial do portal nas condições mais adversas. Nenhum veículo brasileiro passaria por ele. Será que o iG passa?

Esportes, aparência e essência (8/7/08)

Na madrugada de hoje, entrou no ar o novo site do iG Esportes. Uma embalagem nova, o que é positivo. A estréia contou também com entrevista exclusiva do jogador Kaká. Obviamente, há muito a melhorar.

Conteúdo próprio tem sido uma aposta do iG Esportes desde o final do ano passado, mas os resultados ainda precisam aparecer mais. Faltam pautas e reportagens (não só entrevistas) produzidas pelo iG. Grande parte das notícias destacadas vem de agências. É preciso temperá-las com exclusivas fortes, produzidas na casa.

Além disso, o futebol – principalmente do eixo Rio-São Paulo – ainda domina o site. Internautas interessados em basquete, tênis, automobilismo e ginástica estão sendo excluídos. Com a nova organização do site, com abas visíveis para cada esporte, é perfeitamente possível equilibrar os destaques para cada modalidade.

Afora isso, a navegação está melhor, o site está mais organizado e, sem dúvida, bonito. A renovação veio em boa hora. A um mês das Olimpíadas, o novo site pode chamar novos internautas e agradar quem já acessava o iG Esportes.

A campanha eleitoral no iG (8/7/08)

O site de Eleições do iG entrou no ar na noite de ontem, com atraso, pois a corrida para os cargos municipais já tinha começado. Apesar disso, traz reportagens e conteúdo exclusivo. Destaque para um golaço do iG: a realização do primeiro debate aberto da internet com candidatos à Prefeitura de São Paulo.

Por enquanto, a cidade tem sido privilegiada pela cobertura, não só pelo debate, mas também pelo destaque e pela quantidade de notícias sobre a região. Se quiser desempenhar um papel relevante para os leitores, o iG tem que acompanhar a disputa nas principais cidades.

A participação do internauta encontra meio inovador no envio de perguntas em vídeo para os candidatos de São Paulo, além de receber mensagens de celular. Falta um calendário das Eleições logo na capa do site.

Além disso, o iG assumiu uma liderança na contestação à resolução do Tribunal Superior Eleitoral que censura a campanha eleitoral na web. Deveria destacar isso no site, transformando-a em campanha permanente até sua revogação.

O trabalho está apenas começando. A disputa é longa e o tema será novamente abordado.

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Flip, realidade e sonho (7/7/08)

Em comparação com o ano passado, o iG saiu-se bem melhor nesta edição da Festa Literária de Paraty. Os destaques foram os blog de Sérgio Rodrigues e Jorge da Cunha Lima e o acompanhamento feito em tempo real pelo repórter Marco Tomazzoni.

Os evidentes progressos iniciais em planejamento e organização da cobertura mostraram resultados. O trabalho talvez demore a render audiência junto a um público mais qualificado como o da Flip. Para isso, vai ser necessário mostrar continuidade e consistência ao longo do tempo.

Alguns aspectos a destacar:

1) A cobertura literária não pode viver apenas de surtos, como os que acontecem durante eventos como as feiras do livro e a própria Flip. Esses devem ser usados como estímulo para a criação de edições jornalísticas do iG com periodicidade regular comandadas por editores e equipes especializadas e voltadas para a literatura;

2) No futuro será importante manter a organização básica e também imprimir mais criatividade e ‘faro jornalístico’ à cobertura. Faltou identificar personagens e temas que rendessem boas reportagens e entrevistas, dando mais peso aos temas;

3) A cobertura das mesas, ou seja, daquilo que os palestrantes falam durante as sessões, é o filão essencial;

4) Os debates já estão sendo transmitidos ao vivo, o tende a satisfazer o apetite dos mais ávidos. Cabe ao tempo real dar um resumo imediato e aos blogs ressaltar aspectos interessantes e fazer comentários críticos;

5) A cada edição da Flip vai ficar mais importante o trabalho de planejamento e preparação informada das pautas, bem como o uso de equipes capazes de obter as entrevistas com quem é mais relevante falar.

O que falta no acompanhamento do dia-a-dia da literatura (especialmente no iG) sobra nesses eventos. Há exagero e redundância. Os veículos tendem a ceder demais a um inevitável tom de cobertura de celebridades e a descuidar das questões mais enriquecedoras.

As obras e as trajetórias dos autores participantes não são bem conhecidas pelos jornalistas. Há uma tendência a aceitar e a desenvolver pouco aquilo que é dito pelos escritores. Uns autores viram estrelas instantâneas em Paraty e são sufocados por perguntas de entrevistadores desinformados. Outros, que são tão ou até mais relevantes, passeiam relativamente ignorados pelas ruas da velha cidade, sem que nenhum repórter tenha informação e preparação para estimulá-los a uma conversa que revele a riqueza de seus conhecimentos, experiências e opiniões.

A literatura sempre está ligada a vários outros temas, como a política, o esporte, a filosofia, a arte e os temas internacionais. Quem acompanha essas questões no dia-a-dia do iG também deveria ser acionado para, ao lado da equipe de especialistas em literatura, cobrir a Flip. A partir do padrão básico alcançado neste ano, dá para sonhar mais alto.’