Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo

CASO DANIEL DANTAS
Irany Tereza

Reestruturação da Oi tem apenas 20% de recursos privados

‘Os sócios privados AG Telecom (do grupo Andrade Gutierrez) e La Fonte (do grupo de Carlos Jereissati), que irão controlar a ‘supertele’ nacional resultante da compra da Brasil Telecom pela Oi, participaram com apenas 20% dos investimentos diretos da reestruturação da Telemar Participações, que controla a Oi. Dos R$ 2,9 bilhões investidos para enxugar a estrutura societária da empresa, R$ 2,5 bilhões vieram do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e apenas cerca de R$ 400 milhões de La Fonte e Andrade Gutierrez.

Hoje, o banco de fomento estatal é o acionista majoritário da Telemar, com 31,4% de participação no capital. Em abril deste ano, teve de aportar recursos e elevar sua participação, anteriormente de 25%, para tornar viável a reestruturação que retirou da sociedade o Opportunity, o Citibank, a GP Participações e seguradoras do Banco do Brasil. A idéia é o BNDES vender boa parte disso em leilão na Bolsa de Valores de São Paulo, para ficar com uma parcela de apenas 16,9%. Mas a venda só deve ocorrer depois de efetivada a compra da BrT.

As duas operações – reestruturação da Telemar e compra da Brasil Telecom – são distintas, mas atreladas. A recomposição acionária do grupo Oi, porém, é irreversível, mesmo que a compra não seja concretizada. Todo o aporte de recursos aprovado em abril pelo BNDES já foi liberado para pagamento aos acionistas que deixaram o bloco de controle. Para que AG e La Fonte comprassem parte do GP, por exemplo, o banco teve de subscrever debêntures, no valor de R$ 1,330 bilhão, resgatáveis em 12 anos.

O grupo Oi, que alinhava as operações financeiras para compra da BrT, por R$ 13 bilhões, em meio ao escândalo envolvendo o Opportunity – e antes mesmo de ter a certeza da mudança da legislação do setor e da anuência da operação pelo órgão regulador -, informou ontem que pretende captar R$ 3 bilhões via lançamento de bônus no exterior, empréstimo bancário ou empréstimo com organismos multilaterais.

Nesta semana, a operadora surpreendeu o mercado ao divulgar a obtenção de um empréstimo de R$ 4,3 bilhões no Banco do Brasil para financiar a operação, causando especulações quanto à participação de dinheiro público no negócio. Os acionistas sustentam, porém, que pagarão, tanto o empréstimo quanto o aporte do BNDES, a juros praticados no mercado. No BNDES, por exemplo, as debêntures conversíveis serão remuneradas pelo IPCA mais 5% ao ano. No Banco do Brasil, o custo foi de CDI mais 1,8% ao ano, com prazo médio de 4,9 anos.

‘A maior parte da estrutura de capital para aquisição da BrT já foi obtida’, informou o grupo Oi em comunicado distribuído ontem. A empresa informou que, depois das operações de financiamento, haverá uma segunda etapa, já em andamento, com emissão de notas promissórias no valor de R$ 3,6 bilhões com os bancos Santander, Bradesco e Itaú.

‘A Oi iniciou estudos para realizar a terceira e última etapa do programa de financiamento para a compra da Brasil Telecom. A companhia pretende obter, até o fim de outubro, cerca de R$ 3 bilhões para completar a necessidade de funding para a aquisição’, diz o comunicado da empresa.

As operadoras Oi e BrT foram as que mais receberam recursos de linhas do BNDES, entre todas as operadoras de telefonia, desde a privatização. De 1998 a 2007, as duas obtiveram mais da metade dos R$ 21,8 bilhões liberados pelo banco para o setor – R$ 6,5 bilhões foram para a Telemar e R$ 6,1 bilhões para a Brasil Telecom. As concorrentes, porém, por serem multinacionais, têm mais facilidade de captação no exterior.’

 

 

Renato Cruz

Estudo aponta efeitos negativos da BrOi

‘O governo federal apóia a compra da Brasil Telecom pela Oi com o argumento de que a criação de uma grande operadora nacional trará benefícios à sociedade. Um estudo encomendado pela Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TelComp), porém, apontou efeitos negativos da BrOi como política pública. A TelComp reúne as concorrentes das concessionárias de telefonia local.

O estudo, feito pela consultoria Pezco, aponta que a fusão terá efeito negativo na concorrência, pois irá tirar uma empresa do mercado. Haverá uma opção a menos em longa distância nacional e em centrais de atendimento. Além disso, apesar de elas pouco concorrerem entre si em outros serviços, como telefonia local, celular e banda larga, elas são competidoras potenciais, e deixarão de ser.

Segundo o estudo, haverá impacto neutro na universalização de serviços e efeito negativo no aumento da concorrência, no investimento do setor, no fomento à indústria local e na internacionalização. A mudança na legislação, necessária para que a aquisição da Brasil Telecom se realize, deve funcionar como um freio aos planos de investimento de outras empresas do mercado. Além disso, apesar de a nova empresa ter uma capacidade maior de levantar recursos, acaba tendo menos incentivo a investir, por causa da sua posição dominante.

INEFICIÊNCIAS

Na visão de Frederico Araujo Turolla e Maria Fernanda Freire de Lima, que assinam o estudo, combinar a concentração de mercado trazida pela BrOi a um incentivo à compra de equipamentos nacionais pode criar ineficiências que levariam a custos maiores para o consumidor. ‘Há meios mais efetivos para se atingir o objetivo de promoção da indústria nacional de equipamentos de telecomunicações, sem punir os usuários’, apontou o texto.

Quanto à internacionalização, o estudo aponta que a nova empresa encontrará mais incentivos para adquirir grupos locais, protegendo-se da competição, do que no exterior. ‘A expansão internacional, ainda que ocorra em momento posterior, deve ser muito limitada a alguns mercados próximos e pode não ter fôlego para a criação do verdadeiro campeão nacional assim pretendido’, diz o estudo. ‘Ademais, os mercados freqüentemente apontados como alvos têm seus ativos sobredemandados por outros players internacionais, o que faz com que as prováveis aquisições nestes mercados tenham má relação custo-benefício.’

O estudo apontou o ganho de eficiência como o único ponto positivo. Ele sugere uma série de medidas de incentivo à concorrência, para compensar os efeitos da criação da BrOi. Entre elas estão a abertura da rede local aos concorrentes, a separação funcional ou estrutural entre redes e serviços, o impedimento de operar redes superpostas (para criar alternativas de acesso aos clientes) e a saída do mercado de provimento de internet.’

 

 

ELEIÇÕES / EUA
O Estado de S. Paulo

Obama viajará acompanhado de jornalistas de alto nível

‘Ap, Reuters e NYT – A viagem pela Europa e Oriente Médio do candidato presidencial democrata Barack Obama, que começa na terça-feira, será coberta passo a passo pelos principais jornalistas dos EUA. Tanto os âncoras, apresentadores dos noticiários dos principais canais americanos, como os grandes colunistas e jornalistas dos principais jornais e revistas foram escalados para cobrir a viagem.

A atenção dada ao democrata está tirando o sono dos republicanos, que criticam o excesso de zelo da mídia com relação a Obama, o que não aconteceu nas vezes em que John McCain viajou para o exterior – foram oito viagens ao Iraque e uma, recente, à Colômbia e ao México, que despertaram pouco interesse da imprensa americana. Quando McCain esteve na Grã-Bretanha, em março, praticamente não houve cobertura televisiva.

Desta vez, as três principais redes de TV aberta dos EUA enviarão seus principais nomes. Brian Williams, da NBC, Charles Gibson, da ABC, e Katie Couric, da CBS, cobrirão cada passo do democrata, cuja agenda prevista inclui passagens por Jordânia, Israel, Alemanha, França e Grã-Bretanha, além de uma visita-surpresa a Iraque e Afeganistão.

BERLIM

O jornal alemão Berliner Zeitung afirmou ontem que o discurso de Obama em Berlim será realizado diante da Coluna da Vitória. A campanha democrata, porém, ainda não confirmou oficialmente o local do comício, que recentemente dividiu o governo da Alemanha – a chanceler Angela Merkel se opôs à presença do candidato no Portão de Brandemburgo, enquanto o ministro das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, foi a favor.’

 

 

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Márcia De Chiara

Empresas brasileiras de software já nascem globais

‘A velha crença de que as empresas precisam primeiro se tornar gigantes antes de ganhar o mundo está com os dias contados. Quase a metade das pequenas e médias companhias brasileiras de software já nascem globais, revela pesquisa do Instituto de Pós-graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead).

‘Em vez de esgotar o mercado interno e depois se internacionalizar, como ocorreu com empresas como Petrobrás e Embraer, por exemplo, essas pequenas e médias companhias percorrem um atalho para atingirem o mercado externo’, afirma o responsável pela pesquisa, que acaba de ser concluída, Luís Antonio Dib.

De uma amostra de 79 empresas brasileiras de software de pequeno e médio portes analisadas, 44,3% já nasceram globais ou se internacionalizaram em até cinco anos após a sua fundação. O pesquisador observa que esse número de companhias que nasce com negócios no exterior é relativamente alto.

Batizadas de ‘born globals’, essas empresas têm características comuns. Segundo Dib, elas apresentam mais capacidade de inovação e investem cifras maiores em pesquisa e desenvolvimento (P&D) em relação às demais. Além disso, são mais orientadas para os consumidores e fazem produtos sob medida para seus clientes.

A pesquisa também constatou dois outros traços comuns entre elas. ‘As born globals são mais especializadas e não têm um leque de atuação tão amplo como as empresas tradicionais’, diz Dib. Também, observa, o empreendedorismo dos fundadores dessas companhias é muito maior, comparado com as demais.

Dib destaca que o fato de empresas pequenas e muito novas nascerem internacionalizadas é um fenômeno recente, da década de 90. A incidência é maior, segundo ele, nas empresas de software porque essa indústria reúne um grande volume de conhecimento. ‘Elas tratam de uma idéia, não de um produto físico’, observa.

Para o pesquisador, existe uma forte relação entre esse movimento, a disseminação do uso da internet e a abertura comercial do governo Collor. ‘A internet abriu canais ‘, disse, referindo-se às facilidades de exportar softwares por meio da rede mundial de computadores.

A cearense Ivia, especializada em software sob medida, nasceu em 2000 e, dois anos depois, tinha clientes na Europa. ‘Nosso primeiro mercado fora do Brasil foi Portugal’, conta o sócio Marcio Braga. Ele lembra que, na época, ficou em dúvida entre expandir seus negócios em São Paulo ou ir para o exterior. Optou por se internacionalizar porque o mercado do Sudeste era muito mais concorrido do que o de Portugal.

Seis anos depois da internacionalização da companhia, Braga não tem do que reclamar. ‘Crescemos em ritmo mais acelerado depois da internacionalização’, diz Braga. No ano passado, a empresa faturou R$ 16 milhões. Desse total, entre 8% a 10% vieram do mercado internacional. Atualmente, a companhia tem 300 funcionários, 25 clientes ativos no País e três clientes em Portugal. Também está em negociação com empresas dos Estados Unidos e Inglaterra.

A carioca LAB 245, que produz softwares para gerenciamento de documentos eletrônicos, foi fundada em 1996 e cinco anos depois fez a sua primeira investida no exterior. O país escolhido, na época, foram os Estados Unidos. Acontece que, com os atentados terroristas de 2001, as empresas americanas paralisaram as negociações com a companhia brasileira. ‘Demos um passo atrás e focamos no mercado interno por causa da conjuntura. Agora, estamos voltando a prospectar clientes no exterior’, diz o sócio-diretor Marcus Hardman.

Hoje, a companhia exporta seus produtos para uma empresa de aviação de Angola, na África, e inicia entendimentos com um banco português para venda de seus softwares. Hardman observa que uma das vantagens de ter negócios no exterior é diversificar mercado e não ficar tão dependente dos clientes locais. Com 20 funcionários e cerca de 150 clientes locais, entre os quais conglomerados como Petrobrás e Odebrecht, o diretor da LAB 245 destaca que outra vantagem obtida pelas empresas que se internacionalizam é a redução de impostos oferecida pelo governo.’

 

 

MÍDIA & LITERATURA
Michael Kimmelman

Portugal quer poemas que poucos entendem

‘A mais recente polêmica envolvendo propriedade cultural ocorre em Lisboa e tem a ver com a correspondência de um poeta. E a discussão ajuda a conhecer o caráter de uma nação. Os herdeiros do escritor e poeta português Fernando Pessoa planejam leiloar no próximo trimestre a correspondência mantida por Pessoa com Aleister Crowley, místico britânico do início do século 20, escritor e praticante de magia negra. O ministro da Cultura de Portugal, José Antonio Pinto Ribeiro, é um dos que estão contra a saída dessas cartas do país.

A família já vendeu diversos cadernos de notas do poeta, adquiridos pela Biblioteca Nacional de Portugal no ano passado. Como muita coisa da obra dele ainda não foi publicada, os estudiosos temem que a dispersão desses escritos (Pessoa deixou cerca de 30 mil em baús em sua casa) torne mais difícil decifrar um dos mais volumosos e intrincados legados entre os grandes escritores da era moderna. Pessoa e Crowley começaram a se corresponder em 1930. Pessoa era o poeta reservado, provavelmente celibatário, desconhecido, que escrevia sob vários pseudônimos. Como colega astrólogo, a primeira vez que Pessoa escreveu a Crowley foi para corrigir seus cálculos. Crowley respondia assinando como ‘666’.

Ribeiro garantiu que o Estado tem poder para reter no país tudo o que considere patrimônio nacional. Mas Manuela Nogueira, sobrinha do poeta, informou já ter assinado contrato com uma casa de leilões, mas avisou que não há motivo para preocupação, pois todos os documentos estão sendo fotocopiados e as cópias estarão disponíveis aos estudiosos.

Grande parte das anotações de Pessoa pertence à Biblioteca Nacional; o remanescente, cerca de 2.700, é dos herdeiros. Os originais têm todos os tipos de notas rabiscadas e outros detalhes que mesmo uma boa fotocópia pode omitir. Para Eduardo Lourenço, um dos mais destacados críticos literários de Portugal, Pessoa tinha uma maneira de ser tipicamente portuguesa. ‘Isso tem a ver com o fato de que nós portugueses podemos ter tudo, mas ainda assim sentimos que não temos nada.’

Lourenço tem uma explicação para isso. ‘Portugal tinha descoberto metade do mundo no século 16, mas mesmo assim sentia ter fracassado por não ter descoberto a mentalidade nacional. É uma combinação de megalomania e humildade’, ressaltou. ‘Pessoa era um solitário, um dos grandes poetas que expressaram a solidão absoluta. Alguns dos seus poemas mostram tanta tristeza que são difíceis de ler, e isso é uma característica muito portuguesa, como mostra o fado’, analisou.

Naturalmente, Fernando Pessoa representava muito mais. Criado na África do Sul, ele falava três línguas, escreveu em inglês, francês, tinha ares de gentleman inglês, e criou, na sua obra, heterônimos, personagens imaginários por intermédio dos quais ele ?desaparecia?.

Seu mais famoso trabalho em prosa, O Livro do Desassossego, escrito sob o nome de Bernardo Soares, foi recuperado postumamente e reúne milhares de páginas de fragmentos literários (diz-se que Fernando Pessoa, que morreu de cirrose em 1935, aos 47 anos, interpretou mal os astros e achava que tinha apenas mais dois anos de vida). Durante esses anos, ele organizou suas notas de uma maneira que nunca pudessem ser colocadas numa única ordem e ficassem em aberto e para sempre impalpáveis, como uma sala de espelhos e, assim, requintadamente modernas.

O colombiano Jeronimo Pizarro, estudioso de Fernando Pessoa autorizado pelos herdeiros a fotocopiar as notas em seu poder avaliou: ‘Pessoa é como uma sombra, um homem invisível. Escreveu sobre ser o centro de um lugar onde não existia nada.’ Pizarro opôs-se a estereotipar o poeta como um nítido português, mas a diretora da Casa Fernando Pessoa, Inês Pedrosa, que é portuguesa, insiste que o escritor conseguiu captar a mentalidade do país. ‘Em Portugal, não gostamos de quem se destaca demais. É um problema cultural e ele escreveu brilhantemente sobre essa circunstância ridícula.’ No porão da Casa Fernando Pessoa, ela tirou dos velhos armários de Pessoa, alguns dos livros em que fazia anotações. (Só recentemente um poema de Alberto Caeiro foi descoberto na contracapa de um livro.) Em Uma Breve História do Cristianismo, de John M. Robertson, de 1902, Pessoa escreveu à margem de uma página, ‘excellent’, em inglês, referindo-se a uma passagem do livro que dizia: ‘Os refinamentos materiais da civilização engendraram nas cidades modernas uma nova neurose.’ Pessoa sublinhou as três últimas palavras.

‘Para Portugal não se trata somente de restos de algo sem importância, mas de Fernando Pessoa’, afirmou Eduardo Lourenço, referindo-se à correspondência com Crowley. ‘Um pintor pinta um quadro com a idéia de vendê-lo; um poeta não escreve com a idéia de vender seus manuscritos, muito menos Pessoa’, enfatizou. ‘Todas as grandes questões de filosofia, religião e política estão na sua obra da maneira mais radical e de uma forma fragmentária que reflete o homem e o criador. ?Como Deus não tem nenhuma unidade, como posso eu ter??, perguntou o poeta.’ E Eduardo Lourenço acrescentou: ‘Ele é o mais trágico dos poetas portugueses. E o prazer do infortúnio é algo particularmente português.’’

 

 

TELEVISÃO
Marcelo Rubens Paiva

O maconheiro do Fantástico

‘Se o consumo de maconha gera tráfico, que gera contrabando de armas, que alimenta organizações criminosas e um aparelho de Estado corrupto, discutir a sua descriminalização ou proibição interessa também aos não consumidores, que sofrem com a rotina da violência social.

No entanto, fugimos do debate. Nenhum personagem representa tanto a omissão como Tom, o adolescente maconheiro estrela de um reality show exibido em partes pelo Fantástico.

Ele agride o irmão, xinga a mãe, olha perturbado para o nada, come como um condenado em horas impróprias, a chamada ‘larica’, segundo o apresentador, e ri como um demente para as câmeras. Só sossega quando vai à praça freqüentada por outros ‘drogaditos’ e fuma com gosto um baseado do tamanho de uma caneta.

Tratado como um caso grave, o inglesinho Tom repercute por estas terras, levanta questões como o que fazer em casos parecidos. Internação em clínica especializada (há mais de 150 credenciadas pelo Mistério da Saúde) foi a saída escolhida pela interatividade.

Walter Benjamin quem afirmou que uma das características da modernidade é afastar os problemas dos lares, já que os familiares produtivos não podem ficar à mercê dos cuidados que exigem os inadaptados: loucos, depressivos, alcoólatras, viciados.

Tom tem problemas, merece cuidados, e o que fazemos com ele? Transformamo-no em estrela do show da vida, acompanhamos com câmeras as suas maluquices, o desespero da mãe, e abrimos espaço para especialistas revelarem os seus pontos de vista, enquanto a produção fica de olho no Ibope minuto a minuto.

Ele aponta a hipocrisia desse gênero de show: queremos realmente curar alguém ou faturar em cima do drama alheio? Quanto a família recebeu da BBC, produtora do programa, para protagonizar o show? Tom recebeu algum? Como se chama a exploração e exposição das fraquezas humanas, visando ao lucro e à obtenção de vantagens pessoais?

Não se perguntou se o adolescente ficou daquele jeito porque fumava maconha, ou fumava maconha por ser daquele jeito.

Conhecemos maconheiros. Não é mais tabu falarmos desse tema com franqueza. A maioria dos que nasceram depois dos anos 60 experimentou. Temos amigos que fumam maconha. Temos parentes. Até a minha mãe já fumou numa festa.

No meio estudantil, muitos são usuários. No meio artístico, nem se fala. Certamente os apresentadores de tevê, diretores, produtores, câmeras e técnicos têm amigos maconheiros, já viram usuários e sabem que ninguém fica daquele jeito. Para que estigmatizar algo que é tão delicado ao Brasil, onde o crime organizado e narcotráfico obtêm lucros significativos ante a nossa incapacidade de lidar com o problema?

Não serei eu o mártir dessa causa. Muitos que abriram o jogo e buscaram um diálogo franco – como Soninha Francini, que foi demitida da TV Cultura, depois de afirmar que experimentou maconha -, pagaram um preço exagerado pela ‘ousadia’. Lembra a frase de Keith Richards, guitarrista dos Stones: ‘Nunca tive problemas com drogas. Só com a polícia’?

Sairíamos ganhando se déssemos voz para o usuário defender o seu costume ritualista.

O Brasil quer se inscrever no time de grandes países. Sua economia é de peso. Culturalmente, é um País que inspira, cria uma legião de admiradores, propõe idéias novas no campo da moda, alegria, afetividade, relações humanas e estilo de vida. Na música, literatura, cinema e, claro, esporte, temos a nossa história, fãs, inovamos, recriamos.

No entanto, quando o assunto é direitos individuais – união civil homossexual, aborto, descriminalização da maconha -, estamos presos a tabus e idéias conservadoras, que não combinam com a fama de sermos o futuro. E aqueles que propõem discutir tais temas são reprimidos sob penas de leis anacrônicas e confusas.

Como a Lei 11.343, de 2006, que institui o Sisnad, Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas, que prescreve medidas para prevenção do uso indevido e estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito, mas que contraditoriamente estabelece como princípio ‘o respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana, especialmente quanto à sua autonomia e à sua liberdade, o respeito à diversidade e às especificidades populacionais existentes, a promoção dos valores éticos, culturais e de cidadania do povo brasileiro’, entre outros. Quem garante que a maconha não é parte da cultura e de rituais de um grupo, que quer garantir a sua liberdade e diversidade?

Você se lembra, na história recente, de alguma manifestação popular que tenha sido proibida no Brasil democrático? A Marcha da Maconha foi.

O Coletivo Marcha da Maconha Brasil é um grupo de indivíduos e instituições que trabalha de forma majoritariamente descentralizada, com um núcleo central que mantém um site de discussões na rede. O objetivo principal do Coletivo é criar espaços onde os interessados em debater a questão possam se articular e dialogar, estimular reformas nas políticas públicas sobre a maconha e seus diversos usos, ajudar a criar contextos sociais, políticos e culturais onde todos os cidadãos brasileiros possam se manifestar de forma livre e democrática a respeito das leis sobre drogas, exigir formas de elaboração e aplicação dessas políticas e leis – que sejam mais transparente, justas, eficazes e pragmáticas, respeitando a cidadania e os Direitos Humanos.

Muitos especialistas afirmam que o Brasil, diferentemente de outros países, não está preparado para uma lei mais liberal. Diante do impasse, a bandidagem sorri.’

 

Julia Contier

Gangorra no ibope

‘A audiência das novelas anda mais disputada que nunca. Depois de uma estréia fraca em ibope, com média na casa dos 35 pontos, a trama das 9 da Globo, A Favorita, suspira mais aliviada. O suspense que gira em torno de Flora (Patrícia Pillar) e Donatela (Claudia Raia) tem conquistado público gradativamente.

Nas duas semanas seguintes à estréia, entre 23 de junho e 5 de julho, a Globo registrou 37 pontos de média, com 58% de participação entre o total de televisores ligados em São Paulo. Do dia 7 ao dia 12 de julho, a média subiu para 39 pontos.

Já Os Mutantes, novela que entrou como continuação de Caminhos do Coração na Record, sente a audiência cair aos poucos.

Na semana da estréia, de 3 a 7 de junho, a trama de Tiago Santiago marcou 20 pontos no ibope. Na segunda semana caiu para 17. Recuperou um pouco o fôlego na terceira semana, com 18 pontos, mas voltou a cair para 17 nas seguintes. A última semana completa registrou 16 pontos de média no Ibope.

Enquanto isso, correndo por fora no páreo, o SBT viu sua audiência triplicar (de 5 para 15 pontos) na faixa das 22h, em função de Pantanal.’

 

 

MÍDIA & CINEMA
O Estado de S. Paulo

Artista chinês processa a DreamWorks

‘O artista chinês Zhao Bandi entrou com um processo contra a DreamWorks, produtora do cineasta Steven Spielberg, por considerar o filme Kung Fu Panda um insulto contra o panda, símbolo da China. Conhecido por incluir imagens de ursos panda em sua obra e de desenhos de moda inspirados nesse animal, Bandi se disse ofendido pelo fato de Hollywood ter ‘roubado’ o símbolo nacional e as artes marciais chinesas. Ele exigiu que a produtora de Spielberg peça desculpas publicamente através da imprensa chinesa. Bandi afirma que não espera ser compensado, apenas que a DreamWorks se encarregue dos custos judiciais.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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