Um jornalista dinamarquês facilitou a introdução séria, honesta e adulta sobre o papel da mídia na discussão da pauta nacional que, neste momento , envolve política, esporte, nossos problemas urbanos e a cordialidade brasileira.
Esse debate começou em 1936 quando o pensador Sergio Buarque de Holanda trouxe para as livrarias uma edição crítica do espelho de corpo inteiro do brasileiro visto como modelo do homem cordial. Conceito mal explicado até hoje, finalmente esclarecido com a edição recém lançada que tira de cena a exaltação do caráter e da bonomia brasileiros. Tem mais a ver com critérios afetivos e aproveita o impulso revisionista que o momento brasileiro propiciou nos últimos meses.
Empreendemos o caminho inverso que pretendíamos, soltamos as rédeas da economia tentando escapar dos significados muito óbvios, e tentando ser mais cordiais que o sugerido por Buarque de Holanda — e/ ou Gilberto Freyre, que propôs o tema ao sociólogo.
Ninguém teria coragem de ser ante cordial. Parecia que vacilávamos no conceito.
Mas agora o circo vai acabar e desmascarar o modo de ser do homem urbano que não quer perder o momento do prazer.
Agosto vai por fim ao espetáculo e trazer a realidade do inicio da votação do impeachment, entrar em discussões que transformam o homem cordial das Olimpíadas num defunto distante — e traz à tona um debate de intolerância, falta de ética, a relação nada cordial dos nossos políticos. E o que mais trará com a saída de Dilma e a entrada de medidas duras, adultas, que na Argentina já levaram à greve de 24 horas ?
Agora sim um mergulho a seco
A imprensa local e internacional , que já tinha trocado o medo da zica e da “desástrofe”( mistura de desastre com catástrofe) pelo encantamento com o Rio, volta às críticas adultas , às vezes perversas, sem colher de chá de bondades, para tentar explicar onde foi que erramos e que modelo devemos adotar.
Do 10º lugar anunciado para as brasileiros nas Olimpíadas caímos para o 13º , mas o susto da queda nos fez escalar o placar sem as forças místicas do candomblé como pretendiam os franceses. Fugindo da cultura do fracasso e encerrando com Tico Tico no Fubá, forró, maracatu e Carmem Miranda estilizada.
Nesta área só nos resta aguardar Tóquio daqui a quatro anos e, quem sabe, num ânimo mais positivo do Brasil capaz de estimular nossos atletas.
Já no ranking mundial do cenário político-econômico não houve escaladas neste final de agosto.
É nesse momento que o pensamento do jornalista dinamarquês Ulrik Haegerup entra em cena. Ele insiste na importância do noticiário construtivo, não enganativo, mas capaz de suprir as pessoas com matérias que não apelam para o marketing, o Ibope, as chamadas dramáticas visando altas audiências.
Saímos da corrida dos 100 metros rasos, do nado livre e das ginásticas artísticas para disputas de cães hidrófobos no páreo de Brasília. Sem o conceito de Ulrick Haegerup engataríamos na imprensa “fast food” acelerada, o que só atordoaria mais ainda a já turbulenta nação.
“Slow food” para o cérebro é, segundo Haegerup, o caminho indicado. Racionínio, elaboração e cuidado para decidir o futuro, “slow food for thought” é o tipo de comida proposta para a imprensa na Pós Olimpíada.
Sem ilusões, ninguém garante que, por ser “slow”, será menos penosa.
Nota da redação: Alberto Dines está retomando gradualmente a sua produção jornalística porque ainda se encontra em recuperação de um problema de saúde.