Em 2017, a expectativa será quanto à postura dos novos mandatários, mas também da imprensa. A definição nesse domingo (30/10) do próximo cenário político não surpreendeu ninguém. Sendo contrárias, ou a favor, as cidades em que foi realizado o 2º turno do pleito apenas deram sequência a um crescimento da ala conservadora, à comprovação de desgaste do Partido dos Trabalhadores, assim como do que se considera a esquerda no país.
As legendas em destaque nessas eleições, PSDB e PMDB, continuam a sair quase que diariamente na mídia, seja envolvidas em laços e vertentes da Lava-Jato, seja em análises de cientistas políticos nada otimistas. Porém, nada que tenha desencorajado o eleitor brasileiro a se enveredar por uma escolha à direita.
O ceticismo de alguns após o impeachment da presidente Dilma – sobre se outros caciques de outras legendas também seriam atingidos por investigações no Planalto – se enfraquece após a prisão de Cunha e da aproximação do presidente do Senado, Renan Calheiros. As denúncias, matérias, editoriais e também artigos que colocam em cheque a direita não apenas não tiveram reflexos nas urnas, como colocaram em dúvida a relevância do trabalho da imprensa e sua efetividade.
Em capitais de expressão como BH, RJ e SP venceram um ex-presidente de um clube de futebol, um líder religioso e um empresário. Não se pode afirmar que hoje o eleitor está baseando suas escolhas em tudo, desde que não seja político, ou em qualquer coisa, que não seja político. Mas fato é que os vencedores nessas capitais não têm como destaque uma trajetória política.
Para que lado vai a imprensa?
Já para os que perderam pontua-se que as críticas às instituições como família tradicional, igreja e ao empresariado não trouxeram os louros da vitória. Destaca-se ainda que em cidades como o Rio de Janeiro a esquerda se uniu em torno do PSOL, indiferente em outras eleições diante do PT que na época era o símbolo máximo da esquerda no Brasil. A legenda ganhou corpo e o apoio também da ala artística, com adesão de músicos, atrizes e atores. Contudo, não adiantou.
Mas agora, definidas na mesa as cartas para 2017, os olhos se voltam à imprensa. Diante de uma tendência do eleitorado brasileiro, que também é ouvinte, telespectador e leitor, a mídia se portará como oposição? Ou o recado nas urnas afetará o trabalho de reportagem? É possível que a mídia encontre no recado das urnas algo para militar, ou irá se intimidar? A tendência de um eleitorado conservador será vista como algo complexo, problemático ou indiferente? É possível que os tidos como grandes veículos de comunicação apenas façam jornalismo, ou serão canais para repercutir guerras sem fim entre direita e esquerda (mesmo que ambos os lados não sejam bem definidos, ou claros no Brasil)?
Bem, sobre o futuro… não cabem mais previsões sobre quem vencerá nas urnas e conquistará o gosto dos brasileiros. Após os últimos acontecimentos, cabe agora a expectativa sobre o trabalho dos representantes da população, e de quem a abastece com informações.
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Leonardo Rodrigues é jornalista e chargista.