Vai ser difícil esquecer este ano pelas péssimas memórias, a corrupção lavando a Jato, os populismos de esquerda ou de direita espalhados pelo mundo , Turquia, Polônia, Hungria de um lado, Venezuela, Cuba de outro — e passando por aqui.
Bom virar logo para 2017 com os melhores votos. Para o jornalismo temos muito a desejar. A lista é longa:
Que a cultura ocupe mais espaço na mídia que a economia.
Que a economia ganhe mais espaço que a política.
Que as manchetes de política não sejam sinônimo de corrupção.
Que a corrupção não conste de todas as matérias da rubrica política.
Que os jornais de TV e rádio se dissociem da cobertura policial ,sangue , assassinatos, estupros.
Que a cobertura do Rio de Janeiro fique distante da violência e que da paisagem da Cidade Maravilhosa não constem fuzis, barricadas, coletes anti-balas.
Que o pastor e prefeito eleito do Rio, Marcelo Crivella, troque os votos que fez em seu discurso de posse de, “em vez de qualquer acusação de jornal, uma oração em favor da vida humana…”, para “que continuem as acusações de jornal em favor da vida humana”.
Que a mídia nos presenteie com artigos, matérias e notícias que façam pensar, refletir, produzir, substituindo a atual obsessão por corrupção, violência , desemprego.
Que a sociedade brasileira refletida na mídia não nos deprima ou nos afaste tanto do comportamento das sociedades do Primeiro Mundo, e que não nos envergonhe com deslumbramentos, mesquinharias, ignorâncias.
Que os profissionais que cobrem cultura no rádio e TV aprendam a pronúncia francesa e não poluam nossos ouvidos pronunciando qualquer idioma com sotaque fajuta aprendido nos filmes americanos.
Que ao ler ou ouvir notícias, o brasileiro recupere o orgulho de ser cidadão.
Que possamos elogiar ao menos uma medida publicada entre as adotadas por um governante, seja ele quem for.
Que as redes sociais não confundam, chutem ou enrolem tanto.
Que a imprensa brasileira seja bem escrita e ilustrada, e dê prazer em ler e ver.
Que surjam mais Piauís ou que, pelo menos, a já existente não desapareça.
Que as páginas de cultura tratem de cultura e não de blockbusters.
Que a educação seja prioridade dos governos para leitores, ouvintes. Que os inventivos criadores de blogs não assassinem a língua portuguesa solapada por asaps, memora, xos, spoilers; que desenvolvam capacidade crítica e não embarquem nos populismos de um lado ou do outro.
Que a imprensa de papel sobreviva junto com a virtual, assim como o papel e a caneta Bic.
Que o essencial seja o conteúdo e não o suporte.
Que o pensamento mágico não se destrua por falta de alimento da mídia.
Que assim seja 2017 no jornalismo.
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Alberto Dines é jornalista, escritor e cofundador do Observatório da Imprensa