Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Manipulaçãozona e manipulaçãozinha

‘O bispo disse que certa vez Mateus (7:3) deve ter dito: `Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?´’

Sobre a eterna rixa entre Globo e Record, que essa semana protagonizaram um combate deplorável, além de antiético, em pleno horário nobre da TV brasileira, comprovou-se, primeiramente, que o auge da disputa pelo mercado midiático nacional, e também pelas fatias das cotas publicitárias, está mais aceso do que nunca; claro, a Globo tem uma influência e um poder inigualáveis, mas a Record como concorrente imediata, tenta pegar carona na onda da TV carioca. A troca simultânea de acusações nos jornais Nacional e da Record gerou uma celeuma digna de final de Copa do Mundo quando o juiz não marcou aquele pênalti claro. A questão foi erroneamente desviada para o campo religioso, colocando em confronto a fé de católicos e evangélicos além dos limites religiosos. Neste caso, nenhuma das emissoras teve prudência. Mas não cabe discutir esse tema aqui.

Um fator que não foi posto em xeque no ataque da Record à emissora dos Marinho foi que ninguém pode afirmar que a Globo esteja patroneando a reinvestida do Ministério Público, embora essa opinião tenha ficado implícita, nas entrelinhas. A rede Global aproveitou a deixa do MP para explorar e escancarar de vez os podres da Record, de forma explícita mas sem perder o sentido de legítimo jornalismo investigativo, porém deixando transparecer o que ela pensa sobre a rival. Contrariamente, o Jornal da Record e sua editoria, obviamente representando a figura de Edir Macedo, se puseram a defendê-lo argumentativamente, e sim, a atacar a Globo de maneira fortuita. Um grande erro, fraqueza, pois perderam a razão no momento em que, ao invés de se defender dignamente, cederam à pressão e ímpeto da investida contrária e caíram no alçapão e no piti. Entraram na defensiva, deixando clarividente que não detinham uma resposta coerente frente às denúncias.

Escândalos da vida pregressa

A rede Globo, por sua vez, soube com maestria maquiar seus ataques à outra com uma classe ‘cesartraliana’, citando o nome ‘Record’ oportunamente. Na Rede Record, o tratamento foi outro: prevaleceu o sensacionalismo e o descaramento agredindo diretamente. Valeu-se das repetitivas matérias-circulares (exibidas em praticamente todos os programas), que mostraram tudo aquilo que somente poucos sabem sobre o passado vil e sombrio da grandona, fatos sobre a amigável relação da família Marinho com a ditadura, Time Life, Proconsult e a impagável expressão bovina de Cid Moreira discursando o direito de resposta dado a Brizola.

O mais banal foi a Record usar a popularidade de Lula para agredir a ‘Grobo’, incitando sua posição contrária ao presidente como forma de desmerecimento. Na mesma matéria, glorificava a Record, mostrando o lado benevolente da igreja Universal, exibia toda a grandiosidade, toda a megalomania, o sonho abstrato da liderança (im)possível, porém focava também nas ações sociais exercidas pela igreja (e é para isso que ela foi criada e isenta de impostos), indiscutíveis, mas que não eliminam a real acusação de desvio de fundos. Outro ponto de destaque observado foi que a TV Globo ofereceu o legítimo direito de resposta ao advogado do grupo acusado. A Record apenas despejou todos os escândalos que envolveram a vida pregressa da ainda hoje nefasta Globo.

A realidade nua e crua

A postura mais incoerente se revela na afirmação importante e relevante com que a Record se refere ao dízimo como ‘doação espontânea’, mas ao mesmo tempo critica a Globo por manipulação; as pessoas assistem às besteiras da Globo espontaneamente também, ou seja, existe manipulação da informação pela Globo, logo existe manipulação da fé dos fiéis pela Record. Manipulação essa que, teoricamente, se reflete nos 1,4 bi de faturamento anual da Iurd. Sobre o monopólio da informação de que a Record acusa a Globo é um delírio, um delírio antigo. Hoje, esse argumento não se justifica, até mesmo porque a própria Record e a Band se estabeleceram como forte contraponto à qualidade jornalística da Globo – e o que falar da internet, onde não há controle da informação, reitero, a tese do monopólio já não é.

Este disparate entre as duas será benéfico para os telespectadores e brasileiros em geral, pois estamos vendo as duas emissoras se anularem na mesma vala. Estão aparecendo suas verdadeiras faces, a realidade oculta está emergindo nua e crua, dos dois lados. Ou dá ou desce. Amém.

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Estudante de Comunicação Social – UEPB, Remígio, PB