Casos clássicos são relembrados sempre que as pesquisas, como nas atuais eleições, se mostram imprecisas ou orientam os candidatos na contramão dos reais desejos do eleitorado.
Em 1948, o republicano Thomas Dewey foi dormir presidente da República dos Estados Unidos. Acordou candidato derrotado: vitorioso nas pesquisas, foi batido nas urnas pelo democrata Harry S. Truman.
Em 1958, a Ford lançou um carro para dominar o mercado: um veículo inteiramente projetado com base numa gigantesca pesquisa de mercado. A pesquisa indicou que o público queria um carro discreto, confortável, econômico, para a família; nada de potência excessiva, já que o desempenho não era tão importante. O Edsel foi provavelmente o maior fracasso da história da Ford: o consumidor queria mesmo uma Ferrari vermelha com escapamento aberto – mas jamais daria essa resposta a um pesquisador.
A pesquisa, nos meios de comunicação, veio para ficar: e, se bem utilizada, ajuda a dar solidez às matérias. Pesquisa não substitui reportagem, mas é um ótimo, indispensável ingrediente. Assim como o marketing político: se bem utilizado, dá máxima visibilidade às idéias de um candidato; e, se mal utilizado, troca as idéias do candidato por factóides e ficção. Mas devemos descartar os antiinflamatórios porque o Vioxx faz mal?
Eventuais erros não invalidam o instrumento: pesquisas e marketing podem ser bisturis, que salvam, ou punhais, que matam. Como bisturis ou punhais, não são auto-suficientes: dependem de quem os usa. E de suas intenções.
Na linha de fogo
Enquanto o governo do Rio se mostra impotente diante do banditismo e o governo federal finge que não é com ele, os jornalistas continuam em risco: Tim Lopes já morreu e uma equipe do O Dia foi seqüestrada. É questão de tempo para que outros sejam atingidos. É provável que já tenha passado da hora para uma grande mobilização jornalística, em defesa da profissão e de seus integrantes, para forçar algum governo a cercear o banditismo antes que mais jornalistas morram. Alô, Fenaj! Que tal enfrentar esse problema, em vez de tentar ‘orientar e disciplinar’ quem não precisa disso?
Cultura inútil
É verdade, está no jornal, numa coluna das mais lidas e respeitadas: perguntaram ao chef de cuisine Daniel Bouloud, do restaurante americano Daniel, o que é que Bill Clinton gosta de comer. Este colunista nem leu a resposta: trata-se de uma obviedade.
Fatal
A BBC, de Londres, informou que na Idade Média já havia operações cranianas, fato comprovado com o estudo de um esqueleto da época. Segundo a BBC, o paciente, graças à cirurgia, ‘sobreviveu a um golpe fatal na cabeça’. Ainda bem que o golpe não foi tão fatal assim.
Quanto custa o preço?
Esta é de um jornal especializado, respeitadíssimo pelo rigor no tratamento das notícias. Informa que o preço de um automóvel custa R$ 57 mil. Dúvida pertinente: se o preço custa isso, quanto custará o carro?
Este é um erro cada vez mais comum: o preço do preço. Veja o noticiário de transportes públicos: ‘o preço da tarifa (…)’ A tarifa é o preço.
Preços e produtos
Outro erro do mesmo tipo: ‘o preço é caro’. O que é caro, ou barato, é o produto. ‘Caro’ é a mesma coisa que ‘raro’; a palavra gerou termos como ‘carestia’ (que significa falta de alguma coisa, ou o generalizado aumento de preços) e ‘carência’ (falta de alguma coisa). O preço, portanto, não pode ser caro nem barato: o preço é alto ou baixo.
E, se o preço é ou não justo, isso independe da opinião do jornalista: um preço só pode ser considerado justo se todos os participantes do negócio concordam com ele.
Valor aparente
E, de repente, vemos José Serra num espetáculo de rock, jurando que é roqueiro desde criancinha – surpreendente, não é? E não vemos em lugar nenhum um aprofundamento da questão: digamos, quais são suas músicas favoritas, ou de que bandas gosta mais, se amava os Beatles ou os Rolling Stones. Marta Suplicy esteve no mesmo evento, mas é mais provável que goste mesmo de rock – nem que seja por dever de mãe.
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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados Comunicação, e-mail (carlos@brickmann.com.br)