Este negócio de crônica é uma grande novidade para mim. Meu chamego é a poesia. Mas ela não me quer, não me ama, torce o bico e me recrimina. Diz que dá pro Baudelaire; que eu não cheiro a girassóis; que não sei a Manoel de Barros uma insignificância de quintal. Malvada! A crônica me serve como um cocar de guizos.
Conheço imprensa desde os idos setenta, quando, fugindo de um emprego fodido numa movelaria, tomei tento e saí catando vida melhor. Precisava prover o sustento da casa, mas, convenhamos, já picado pela mosca violeta da poesia não deu para me aceitar amparar guarda roupas na carroceria camionete pelas ruas.
Aproveitei uma folga do almoço e, finalmente, dei de cara com o Sergipe Jornal, na Rua da Frente, que precisava de cobrador. Sim, estava admitido Cobrador. Devo alertá-los: é a pior função em qualquer empresa, sujeito ao destrato dos devedores e, muitas vezes, aos cachorros bravos nas canelas. Aceitei.
No outro dia, ostentando minha mais preciosa camisa – uma “Volta ao Mundo” de sovaqueiras visíveis, quente pra caralho, lá fui eu de pastinha a tiracolo bater pernas no comércio. Era jornalista do Sergipe Jornal e ai de quem duvidasse! Mas era a redação o que me atraía, se bem que a ela eu não tive acesso. Acho que a condição de funcionário administrativo invejando a redação, acabou em trauma, porque demorou meia vida para que eu encarasse o presente sestro de escrever crônicas, estas que são aqui publicadas.
Então, aqui me encontro folgazão maduro e publicando no Observatório da Imprensa, felizmente alvo dos rapapés provincianos. Dou-me por satisfeito. A literatura universal não se apoquente: nada do que faço ameaça a segurança da Academia. Não percam tempo os críticos em me justificar, não busquem os meus leitores me alçar à condição de grande descritor. O que eu tento fazer, bêbado e inconsequente, é conquistar o amor da poesia.
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Amaral Cavalcante é jornalista e editor da Folha da Praia, em Aracaju.