A mídia francesa tem (ou seria melhor dizer tinha?) como tradição não falar da vida privada, de doenças e nem mesmo das férias dos presidentes franceses. Mas os presidentes também faziam questão de viver suas vidas privadas longe dos olhos dos eleitores, na mais absoluta discrição.
Com a chegada ao poder de Nicolas Sarkozy, que se apresenta como o presidente da ruptura, os franceses descobriram um homem desinibido (ou seria melhor dizer exibicionista?) e passaram a ler em revistas semanais matérias, sempre com fotos, do presidente em momentos de descontração dando ao poder um novo look que juntamente com o gosto de Sarkozy pelo luxo e pelas marcas lhe valeram o apelido de ‘presidente bling bling’. Mas, ao mesmo tempo, o excesso de exposição próprio das celebridades – chamadas people (com pronúncia afrancesada) – chocou quando Sarkozy e Clara Bruni fizeram um primeiro passeio público pela Disney, em dezembro de 2007. Que lugar para se exibirem juntos! Depois vieram viagens ao Egito e a Petra, na Jordânia, acompanhados do filho de Carla.
O presidente foi tão criticado pelo seu gosto pelos flashes e pelo excesso de exposição de sua vida privada que ao se casar, em fevereiro do ano passado, não autorizou nenhuma foto na imprensa. Ninguém viu fotos do casamento.
Dúvida persistente
Agora, depois da viagem oficial ao México, semana passada, a mídia francesa se interroga sobre os excessos presidenciais e a fronteira entre a ética e a etiqueta. Antes de começar a visita oficial, o casal Sarkozy passou o fim de semana numa praia de Manzanillo, no sul do México. Quem pagou os 50 mil euros do fim semana presidencial? Os sites Mediapart e Rue89 expõem o affaire explicando que o hotel El Tamarindo pertence ao milionário Robert Hernandez Ramirez, suspeito de ligações com o narcotráfico, e amigo do presidente Felipe Calderón.
Um jornalista especializado no tráfico de droga, Al Giordano, informou que pela fazenda de Ramirez, onde ele já recebeu Bush e Clinton, passariam carregamentos de droga. Por outro lado, o presidente Calderón viu sua popularidade subir como um foguete depois que iniciou uma guerra sem tréguas contra o narcotráfico.
O palácio do Eliseu informou oficialmente que o fim de semana no hotel El Tamarindo foi um convite do presidente do México – mesmo se, anteriormente, houvesse ficado claro que o fim de semana do casal era um programa privado. O governo mexicano, por sua vez, declarou que Sarkozy e sua mulher foram convidados nessa parte não oficial da visita por empresários mexicanos.
Por mais de um motivo essa viagem de Sarkozy foi desastrosa para a imagem da França na opinião pública mexicana: primeiramente, o presidente solicitou que uma francesa acusada de sequestros, presa e condenada no México, seja enviada à França – o que foi visto pelos mexicanos como interferência na Justiça de seu país. Depois, ficou a dúvida: teria Sarkozy passado um fim de semana financiado por um amigo do presidente envolvido com o tráfico de droga?
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Jornalista