Para uma economia em crise e uma população descontente, os Estados Unidos da América encontraram na figura de Barak Hussein Obama a esperança que procuravam. O ano de 2009 começou, sobretudo, com um sentimento de expectativa e renovação, de certeza e união, graças à imagem criada para este homem que, além da eleição mais importante do mundo, ganhou uma luta de séculos contra o preconceito. O 44º presidente dos EUA é o primeiro presidente negro da história do país, elegendo-se com um favoritismo quase absoluto após a ampla rejeição do então presidente George W. Bush. Foi na terça-feira em que Obama oficialmente assumiu a presidência, em 20 de janeiro de 2009, que a maioria dos americanos voltou a pensar em dias melhores.
A vulnerabilidade dos cidadãos diante da fragilidade financeira contribuiu para a ascensão de Obama. Se não tivesse havido crise, talvez a distância entre Republicanos e os Democratas na eleição não tivesse sido tão grande. Com uma carreira política isenta de escândalos, Obama alcançou a presidência em um curto espaço de tempo. Eleito senador pelo estado de Illinois em 2004, hoje, aos 47 anos, Obama é o 4º político mais novo a ocupar o cargo. Mais do que um presidente, ele é uma celebridade. É possível vê-lo retratado em roupas, acessórios, embalagens dos mais diversos produtos, materiais esportivos e escolares, entre outras coisas. O american way of life (modo americano de vida), tão enaltecido desde o início do século 20, hoje encontra na família Obama o modelo ideal. As revistas que antes traziam personalidades de Hollywood como paradigmas de estilo, moda e comportamento, hoje têm Michelle, a primeira-dama, nas capas de suas publicações.
Este fato não passou despercebido nos jornais, que, principalmente na primeira semana de Obama na Casa Branca, divulgaram os passos do presidente de maneira minuciosa. No Condado de Orange, sudoeste da Califórnia, onde estive nestes meses em que o verão castigava o Brasil e o frio nem se aproximava da Califórnia em pleno inverno, o The Orange County Register, jornal diário de maior circulação no local, foi o que mais cedeu espaço para a cobertura, totalizando, do dia 20 ao dia 27 de janeiro, 31 matérias, 55 fotos, 10 chamadas de capa e 5 infográficos.
Novas regras
A edição do dia 21 de janeiro, um dia após a posse, destacou-se entre as demais ao veicular um caderno especial de 20 páginas sobre a entrada da família Obama na Casa Branca. As matérias compreenderam do discurso de Obama à escolha do vestido de Michelle para os 10 bailes em que o casal compareceu naquela noite. Um infográfico que resume a trajetória do presidente desde seu nascimento e uma matéria com 25 fragmentos da vida de Obama – incluindo o local de seu primeiro encontro com Michelle e seu filme favorito – comprovam a tendência a retratá-lo mais como uma celebridade do que como um político responsável pela nação.
A primeira matéria do caderno, de título ‘Uma nova direção’, traz uma parte do discurso do presidente em que o mesmo declara que, ‘para superar a crise econômica, a nação deve escolher a esperança ao invés do medo e o propósito de união ao invés de conflito’. A matéria afirma ainda que a economia do país foi deixada de lado pelo governo de George W. Bush. Na matéria ‘Cai uma barreira racial’ o jornal traz depoimentos de pessoas que afirmam que com um homem negro no poder, o preconceito será mais facilmente combatido.
A chamada de capa ‘Práticas da Era Bush terminam’, no dia 23 de janeiro, remete a uma das novas manobras políticas mais citadas nas matérias, que é a suspensão de muitas ações deferidas por Bush, principalmente no que se refere à guerra contra o terror. Obama declarou que diplomacia, e não força militar, será o centro de sua política estrangeira.
A questão que envolve a legalização do aborto também ganhou ênfase; no dia 20 de janeiro, na matéria ‘Regras reversas’, o plano de Obama de retirar a ordem que proíbe os Estados Unidos de auxiliar financeiramente grupos internacionais de planejamento familiar – que defendem o direito ao aborto – foi destaque. Desde o governo de Ronald Reagan, a liberação de verba para tais grupos é um impasse entre Republicanos e Democratas; a ordem imposta por Reagan em 1984 foi retirada por Bill Clinton em 1993 e novamente imposta por Bush em 2001. No dia 24 de janeiro, o jornal trouxe a matéria confirmando oficialmente a retirada da restrição, assinada por Obama no dia 23, um dia após o aniversário de 36 anos da lei Rue v. Wade, que legalizou o aborto no país em 22 de janeiro de 1973.
Na edição do dia 25, o periódico resumiu as promessas de Obama nos mais variados setores do governo: o investimento de 10 bilhões de dólares em educação, a retirada das tropas americanas no Iraque em até 16 meses e plano de saúde para os 46 milhões de americanos que atualmente não possuem seguro. A mesma edição publicou uma nova pesquisa da Organização Gallup, afirmando que 68% dos americanos aprovaram os três primeiros dias de Obama na presidência, o número mais alto alcançado desde os 72% de John Kennedy, em 1961.
O aquecimento global foi assunto no dia 27, quando o jornal publicou novas regras ordenadas por Obama, exigindo que as indústrias automobilísticas comecem a produzir carros movidos por energia renovável, como é o caso do etanol.
Todas as capas do presidente
Durante o período analisado, Obama apareceu na capa de quatro edições, sendo manchete em três delas. No dia da posse, 20 de janeiro, a frase O dia dele chega acompanha uma foto de meia página do presidente; ‘Era de Responsabilidade’, no dia 21, mostrou a foto de Obama durante o juramento no momento da posse, com as mãos sob a mesma bíblia usada por Abraham Lincoln em 1861. ‘Atos de abertura’, no dia 22, mostrou o presidente assinando ordens executivas, ao lado do vice-presidente Joe Biden.
Passos para uma nova Era
Autor de bestsellers como Dreams from my father (Sonhos de meu pai) e The audacity of hope (A audácia da esperança), Obama demonstra bastante segurança em relação aos próprios atos como presidente, o que fortalece seu vínculo de confiança com os americanos. Ao finalizar seu primeiro discurso como presidente, Obama disse que com esperança e virtude, o país vai ‘enfrentar as geladas correntes, e suportar as tempestades que podem vir’. Ainda é cedo para avaliar o governo de Obama e para calcular até quando o namoro entre presidente, cidadãos e a imprensa vai continuar.
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