Às vésperas de completar 20 anos, o Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo –, que mantém este Observatório da Imprensa, lança o Atlas da Notícia, uma iniciativa inédita no país.
O Atlas da Notícia integra o projeto Grande Pequena Imprensa, o GPI, idealizado em 2013 por nosso fundador Alberto Dines para capacitar veículos de imprensa regionais e locais.
Agora, queremos mapear os veículos jornalísticos – especialmente do jornalismo regional e local – voltados à produção, mesmo que esparsa, de notícias de interesse público em todas as regiões do país.
Estamos falando de produtores de notícias sobre a prefeitura e a câmara municipal e temas como contas públicas, saúde, educação, segurança, mobilidade e meio-ambiente.
Nosso mapeamento se inspira no projeto America’s Growing News Deserts da revista Columbia Journalism Review www.cjr.org
A fim de melhor entender o panorama da imprensa local e regional, convidamos o jornalista Sérgio Spagnuolo, do Volt Data Lab, autor do projeto A Conta dos Passaralhos, uma investigação pioneira e rigorosa sobre as demissões de jornalistas nas principais redações do país desde 2012.
Nesta primeira fase do Atlas da Notícia, é de grande importância a ajuda de nossos leitores para identificar tais veículos, sejam impressos ou digitais, e com periodicidade diária, semanal ou quinzenal.
O panorama a ser traçado nos permitirá compreender de que forma a combinação da crise econômica com a chamada revolução digital afeta o ofício de apurar e publicar notícias no interior do Brasil, país de desigualdades e injustiças históricas e de uma democracia ainda jovem.
Vale reafirmar a ligação umbilical entre jornalismo e democracia. Segundo o artigo Por que jornalismo, de nosso colega do Projor, Eugênio Bucci, publicado na edição 1.000 da revista Época, e que republicamos nesta edição do Observatório:
“A democracia não está aí desde sempre. Ao contrário, ela é uma invenção muito recente. Não tem mais de dois séculos. A democracia ainda está em construção, no Brasil e no mundo todo. Para que ela permaneça, cresça e se difunda, nós dependemos do vigor da imprensa, dos jornalistas profissionais e das redações independentes.
Sem isso, uma sociedade não tem como vigiar os que a governam e muito menos os que conspiram contra ela. Só a imprensa vacina uma sociedade contra as mentiras do poder. Não é sem motivo que Trump, Putin e Erdogan precisam disparar tantas ofensas contra os órgãos de imprensa que insistem em criticá-los.”
Acreditamos que o Atlas da Notícia irá produzir informações úteis para jornalistas, empresários de mídia, pesquisadores acadêmicos, financiadores e profissionais do terceiro setor, permitindo a geração de novas ideias e estratégias capazes de fortalecer a imprensa local e regional.
Queremos também identificar casos de sucesso – os oásis da notícia – que encorajem e sirvam de modelos a serem replicados e de inspiração à grande pequena imprensa.
Sobre o Projeto Grande Pequena Imprensa
Em 2014, uma equipe formada por Celestino Vivian, Alice Vogas, Adriana Garcia, Cristina Zahar, Francisco Belda e Octavio Faria Neto realizou uma série de visitas a cinco jornais selecionados (dentre quase 200 previamente mapeados) e sediados no interior de São Paulo, Rio de Janeiro e Mato-Grosso do Sul, para fazer um diagnóstico dos problemas enfrentados pela imprensa local.
Foram elaboradas estratégias para auxiliar os jornais na adoção de boas práticas editoriais, comerciais e de gestão. O trabalho gerou uma série de relatórios de assessoria oferecidos gratuitamente aos veículos, com apoio financeiro da Fundação Ford.
Em 2015, com o apoio do Google Brasil, o GPI realizou eventos presenciais para representantes de veículos regionais. Gerou também um curso on-line para disseminar o conhecimento gerado pelas atividades do GPI em 2014.
Em 2016, lançamos o Manual GPI Eleições 2016, que articula conhecimentos básicos em duas áreas complementares: jornalismo de dados e políticas públicas municipais.
Também em 2016, em parceria com alunos do curso de ética da Escola de Comunicações e Artes da USP, ministrado por Eugênio Bucci realizamos um trabalho de análise crítica sobre o jornalismo local e regional em cidades como Mariana, Parauapebas, Maricá e Porto Velho. Tais reportagens são agora republicadas nesta edição do Observatório. O trabalho foi editado pela jornalista Edna Dantas e coordenado por Angela Pimenta.
Tal análise revelou limitações graves – que não são exclusivas do jornalismo local e regional brasileiro –, como conflitos de interesse com anunciantes e o poder local, apurações enviesadas e ausência de crédito para informações apuradas por terceiros.
Ao lançar o Atlas da Notícia, o Projor reafirma seu compromisso com o fortalecimento da imprensa local e regional brasileira. Vale citar novamente o texto de Bucci para a Época:
“Apenas as redações independentes, integradas por jornalistas profissionais, trabalhando dentro de marcos legais que assegurem liberdade de investigação jornalística e também a liberdade de expressão e de crítica, têm o dom de animar um ambiente de pluralidade em que a informação de interesse público fique ao alcance do público. Não há outro caminho.”
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Adriana Garcia é jornalista e diretora de operações do Projor. É consultora em design estratégico e fundadora do projeto Orbital, que visa acelerar a inovação em Jornalismo e Comunicação. Mestre pela ECA-USP em Jornalismo, Mercado e Tecnologia, foi também Stanford Knight fellow na Universidade de Stanford em 2012/13.
Angela Pimenta é jornalista, presidente do Projor e coordenadora executiva do Projeto Credibilidade. É mestre em jornalismo pela Universidade Columbia.
Francisco Belda é jornalista, conselheiro fiscal do Projor. É professor de jornalismo e vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Mídia e Tecnologia na Universidade Estadual Paulista (Unesp), professor visitante na Universidade Brandeis e coordenador acadêmico do Projeto Credibilidade.
Pedro Varoni é jornalista, diretor editorial do Projor e editor do Observatório da Imprensa. É Doutor em Linguística, professor universitário na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e pesquisador nas áreas de discurso e estudos midiáticos.