Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Carlos Eduardo Lins da Silva

‘O suplemento Jovem Século 21 do domingo passado é um exemplo do tipo de informação útil para o público que, entre os meios de comunicação, só uma grande empresa jornalística pode oferecer.

Sem estrutura, dinheiro, equipe de profissionais satisfatoriamente remunerados, não se fazem pesquisa, edição, textos, ilustrações, fotos, gráficos de alta qualidade como aqueles. E nenhum outro veículo consegue dispô-los melhor para o consumo do que o jornal impresso.

Os resultados do estudo, objeto de ardorosos elogios de dezenas de leitores dirigidos ao ombudsman, são, como era fácil supor, controvertidos.

O perfil basicamente conservador da juventude brasileira atual deixou muitos alegres e tantos outros desanimados. Diferentemente dos contemporâneos nos EUA, onde pesquisas similares indicam avanço na defesa de princípios ´progressistas´, as teses ´de esquerda` parecem em baixa para os brasileiros jovens.

Mas a questão ideológica será mais bem discutida pelos cientistas políticos. Este é um espaço para meditar sobre a relação entre o jovem e a mídia. A pesquisa Datafolha mostra que a TV ainda é o veículo predileto da juventude, mas a internet avança e já lidera em certos segmentos.

Entre garotos de 16 a 17 anos e de 18 a 21 anos e entre meninos e meninas de classes A e B, a internet é o meio predileto da maior parte. No grupo mais rico, com vantagem de 43% a 26% sobre a TV.

O que isso significa para a inteligência e a cultura dessa geração? Muita gente se preocupa bastante com a possibilidade de que passar horas a fio diante da tela do computador possa emburrecer os jovens como no passado se temia o mesmo quanto à TV, o cinema, o rádio, até os livros.

A pesquisa científica disponível é incipiente e inconclusiva. Nota-se crescente declínio da qualidade e quantidade de informações sobre história, geografia e política entre os que se informam prioritariamente pela internet em países como EUA e França.

Mas isso não quer necessariamente dizer, como supõem alguns, que essas pessoas estejam ficando mais estúpidas que as de gerações anteriores. Elas podem não saber as informações, mas saber como obtê-las, assim como as pessoas deixaram de decorar a tabuada quando as máquinas de calcular lhes permitiram fazer contas sem recorrer à memória.

Há algumas conclusões que, no entanto, já parecem consensuais. Uma é a de que o fato de ocupar o cérebro com múltiplas tarefas, típico da liturgia da internet, altera a maneira de pensar e a incorporação de conhecimento de modo negativo para o indivíduo.

As múltiplas tarefas (estar ao mesmo tempo no Google, no Facebook, no YouTube, no Skype, no Outlook, com a TV ligada e ouvindo música, por exemplo) forçam o cérebro a dividir seus recursos de processamento, mesmo quando as atividades não são realizadas numa só região cerebral.

Há estudos que demonstram que isso prejudica o aprendizado e a memorização. Outros sugerem que acelera o envelhecimento do cérebro.

A influência dessa característica da internet se espalha para outros veículos de comunicação. A TV insere uma infinidade de informações simultâneas na tela junto com o programa principal. O projeto gráfico adotado por esta Folha a partir de 2006 tenta mimetizar a diversidade de informações conjuntas, com o objetivo de atrair a atenção do jovem ligado na internet, sem ainda se saber se com sucesso.

O Datafolha mostra que 26% dos jovens preferem a internet, 33% a TV, e 19% os jornais impressos. Como essas tendências vão evoluir e com que efeitos, o futuro dirá. O fundamental agora é ficar atento para a questão.’

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‘Pequenos, mas importantes’, copyright Folha de S. Paulo, 3/8/08.

‘Um dos vícios da redemocratização na vida política brasileira é a tentativa de garantir por meio de leis a igualdade entre partidos políticos, independentemente de seu tamanho e relevância.

Por exemplo, isso inviabilizou a realização de debates eleitorais televisivos minimamente compreensíveis e significativos, já que, por meio de instrumentos jurídicos, os promotores têm de aceitar a presença de candidatos em número excessivo, muitos sem nenhuma legitimidade.

Oportunistas em legendas de aluguel lucram política ou monetariamente com o tempo de propaganda gratuita e as chances de exposição pública que a legislação lhes oferece.

Os veículos de comunicação impressos, por não serem concessões públicas, têm todo direito, até o dever, de separar joio de trigo, embora muitas vezes sejam pressionados a agir de acordo com o princípio da suposta igualdade.

Mas é preciso não confundir tamanho com representatividade. Há partidos pequenos que representam setores expressivos da sociedade, com importância indiscutível.

É o caso do PSOL. O partido tem só três deputados e um senador. Mas ficou em terceiro lugar na eleição presidencial de 2006, com 6,5 milhões de votos, quase 7% do total.

Mais do que isso, tem programa de verdade, defende princípios respeitáveis, impõe padrões éticos de conduta a seus filiados.

Na largada da cobertura da campanha para as eleições municipais deste ano, a Folha tem às vezes relegado o PSOL a espaço menor do que sua dimensão política merece.’

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‘Para ler’, copyright Folha de S. Paulo, 3/8/08.

‘´Remoto Controle – Linguagem, Conteúdo e Participação nos Programas de Televisão para Adolescentes´, vários autores, Editora Cortez, 2004 (a partir de R$ 14,25) – coletânea de textos sobre a relação entre TV e adolescentes

´Os Adolescentes e a Mídia – Um impacto psicológico´, de Victor C. Strassburger. Editora Artmed, RS, 1999 (a partir de R$ 35,20) – boa revisão da literatura sobre a influência da mídia sobre os jovens

´A TV que Seu Filho Vê´, de Bia Rosemberg. Panda Books, 2008 (R$ 29,90) – dicas de como os pais podem ajudar os filhos na sua relação com a TV

PARA VER

´Os Sonhadores´, de Bernardo Bertolucci, 2003 (a partir de R$ 19,90) – obra-prima sobre jovens amantes do cinema em Paris em maio de 1968

´A Última Sessão de Cinema´, de Peter Bogdanovich, 1971 (R$ 29,90) – belo testemunho sobre a juventude no tempo em que a TV substituía o cinema

´No Verão de 42´, de Robert Mulligan, 1971 – comovente relato da vida de jovens na era do rádio

Os assuntos mais comentados da semana

1. Caderno Jovem Século 21

2. Comentários sobre Batman

3. Operação Satiagraha

ONDE A FOLHA FOI BEM

SAC

Reportagem no dia 31 coloca repórter no papel de consumidor e relata experiências típicas de leitores diante de SACs hostis

Farc

Jornal adota enfoque sereno e factual para tratar denúncias duvidosas de relações perigosas entre as Farc e brasileiros

E ONDE FOI MAL

Gilberto Gil

Manchete da capa de quinta para notícia antecipada há semanas, de efeito político, econômico, social e cultural nulo, é um disparate

Bolsa Família

Notícia no dia 26 condena inapropriadamente como eleitoreira inovação importante no programa social, que atende a críticas procedentes

Randy Pausch

Jornal ignora morte de professor americano que virou ícone mundial no You Tube por sua atitude elevada diante de doença terminal

Minc

Como toda a mídia, Folha embarca nos golpes autopromocionais do ministro do Meio Ambiente, sempre em busca de boas oportunidades de foto’