Pela primeira vez no Brasil, oito organizações nativas digitais inovadoras se juntam para um Festival que vai debater o futuro da informação. As plataformas Agência Lupa, Agência Pública, BRIO, JOTA, Nexo Jornal, Nova Escola, Ponte Jornalismo e Repórter Brasil se uniram ao Google News Lab para realizar o Festival 3i – Jornalismo Inovador, Inspirador e Independente.
O evento acontece no Rio de Janeiro nos dias 11 e 12 de novembro, e vai abordar, entre outros temas, financiamento independente e sustentabilidade, modelos de negócio, tecnologia aplicada ao jornalismo, polarização nas redes sociais e fact-checking.
Entre os convidados internacionais, estão o norte-americano Glenn Greenwald, fundador de The Intercept Brasil, a inglesa Claire Wardle, do Cross Check, projeto que reuniu organizações para checar os presidenciáveis na França, a norte-americana vencedora do prêmio Pulitzer Angie Holan, do Politifact, maior site de checagem do mundo, José Luis Pardo, do projeto En Malos Pasos, que cobre violência em sete países no continente, Martin Pellecer, diretor do site guatemalteco Nómada, e a portuguesa Mariana Santos, diretora da rede Chicas Poderosas.
Também participarão do Festival o ator Gregório Duvivier, que apresenta o “Greg News” no canal HBO, primeiro jornal satírico da TV brasileira, Ana Estela de Sousa Pinto, repórter especial da Folha de São Paulo, Pablo Ortellado, pesquisador da USP, Marco Túlio Pires, coordenador do Google News Lab no Brasil, Luis Alt, do Design Thinking Brasil e Pedro Dória, fundador da newsletter Meio.
“Será o primeiro Festival que vai focar nas questões essenciais para quem está empreendendo no jornalismo brasileiro. A ideia é, antes de tudo, inspirar novas gerações”, diz Natalia Viana, da Agência Pública.
Um Festival urgente e necessário
Ao longo dos últimos três anos, o cenário de mídia tem vivenciado um crescimento na quantidade de sites, assim como na sua influência, o que permite falar de uma nova geração de jornalistas empreendedores, com cultura e necessidades próprias.
Um levantamento feito pela organização norte-americana Sembramedia conseguiu mapear com detalhe 100 meios na América Latina. A pesquisa constatou que 62 destes meios foram fundados por pelo menos uma mulher, um padrão diferente da imprensa tradicional. O estudo avalia que essas organizações têm aumentado em quantidade, qualidade e impacto nos últimos anos, vencendo prêmios significativos como o Pulitzer, o Gabriel García Marquez e o prêmio de excelência da Online News Association.
Além de cobrir temas como narcotráfico, política e corrupção, esses sites também dedicam especial atenção a temas pouco cobertos pela mídia tradicional, como minorias e direitos humanos. Ao lidar com essas questões, os novos veículos passam a questionar os tradicionais limites entre ativismo e jornalismo, tema do debate levantado pela Ponte. “Queremos discutir se ainda cabe ao jornalista buscar a verdade ou só lhe resta ser parte da guerra de narrativas”, afirma Fausto Salvadori, da Ponte.
Apesar disso, o maior desafio é a sustentabilidade financeira, aponta o estudo. “Ter um profissional preparado para administrar o negócio pode fazer a diferença entre conseguir avançar ou não conseguir tirar os planos do papel”, completa Felipe Seligman, fundador do site Jota.
Outro problema relatado pelos entrevistados da pesquisa da Sembramedia são as pressões de anunciantes governamentais, auditorias ou processos judiciais que são usados como forma de intimidação. 46% dos sites analisados sofreram ameaças ou violência por conta do seu trabalho, e 50% relataram terem sofrido ciberataques.
“Ao que tudo indica, 2018 será marcado pela intensa polarização eleitoral. No Festival 3i, juntamos jornalistas que convivem com essa realidade todos os dias, há meses, e que podem nos dar dicas objetivas e valiosas sobre como fazer um bom jornalismo nesse cenário”, destaca Cristina Tardáguila, fundadora e diretora da Agência Lupa.
O Festival 3i pretende ser um espaço de encontro e reflexão para este grupo, fortalecendo sua atuação, ampliando a rede de apoio e troca de conteúdo e experiência — e portanto, ajudando a fortalecer o jornalismo no continente e torná-lo mais diverso e representativo. “Discutiremos não apenas o interesse público como objetivo final, mas como educar redações, sociedade e mantenedores para zelar pela independência editorial”, diz Wellington Soares, editor da Nova Escola.
“O que fica claro é que o ecossistema do jornalismo está cada vez mais diverso, com múltiplos atores, e que essa vai ser uma característica do futuro da indústria”, diz Paula Miraglia, diretora geral do Nexo.
Parte dessa inovação ocorre também na relação com a audiência. Um dos diferenciais das novas iniciativas é uma relação mais aberta com o público, com olhar mais atento para métricas mais qualitativas. “Em resumo, falaremos sobre quais os desafios e as estratégias mais inovadoras para garantir engajamento do público com o conteúdo gerado pelos novos veículos”, diz Breno Costa, do BRIO.
O evento é voltado para jornalistas, empreendedores em geral, donos de startups, comunicadores e estudantes.
Um Festival latino-americano e participativo
Um dos pontos altos do Festival será a sessão de “Lightning Talks”, palestras inspiradoras sobre projetos que estão revolucionando o jornalismo no continente. Sites como El Faro, de El Salvador, o site digital mais antigo e um dos mais premiados do continente, o inovador site peruano Ojo Público, e o pioneiro em fact-checking Chequeado, da Argentina, vão compartilhar suas histórias no sábado, dia 11/11.
Além disso, no domingo, o Festival se encerra com um “Lightning Talk” de 10 projetos brasileiros que estão inovando na forma, conteúdo e distribuição. Esses projetos serão eleitos pelo público do Festival, garantindo a participação de todos.
Clique aqui para mais informações.