COMUNICAÇÃO CORPORATIVA
O poder dos outros
‘Hoje a velha máxima ‘manda quem pode, obedece quem tem juízo’ ou tem o prazo de validade vencido ou prestes a vencer. A dinâmica das relações dentro e fora dos muros da empresa mudou. Um novo modelo mental se impõe, um novo comportamento é exigido, diante da realidade que se transforma em uma velocidade assustadora, redefinindo as regras do jogo e fazendo com que haja a prevalência do diálogo como forma fundamental de relacionamento da empresa, que passa a considerar que todos são tudo. Ou seja, por exemplo, o empregado da empresa é empregado, é formador de opinião, é consumidor e assim por diante, nos seus múltiplos papeis.
Sabemos que a empresa não é mais produtora exclusiva de suas narrativas, geradora de seus conteúdos pré-fabricados. Há outros e novos protagonistas na história. Hoje há claramente definida uma rede de relacionamentos estabelecida entre a empresa e quem se relaciona direta ou indiretamente com ela, que pode estar ao lado da fábrica ou do outro lado do mundo. O comunicador é o mantenedor desta rede, a qual gerencia a partir de um ponto de vista estratégico, político e econômico baseado no diálogo, que é o ritual de legitimação da construção de valor que a empresa, cada vez mais, necessita para sobreviver à agressividade do mercado.
Graças ao espantoso desenvolvimento da tecnologia, o diálogo foi muito facilitado, favorecendo as relações de mão dupla em tempo real ou em espaços breves de tempo. Mas, por outro lado, obrigou as empresas a serem verdadeiras e a construir nas suas relações dentro desta rede sua imagem, sua reputação e sua identidade. Comunicar-se, dialogar, não é pirotecnia de ferramentas tecnológicas ou de mídias, que carregam mensagens vazias, interesseiras, manipuladoras, de um lado para o outro para persuadir alguém a fazer ou a comprar alguma coisa, que provavelmente não precise.
O mundo de hoje retirou e dispersou a centralidade de entidades até então sagradas como a empresa, a igreja, a universidade etc. Por isso, elas foram obrigadas a abrir-se a dialogar de maneira a legitimar, dar relevância e valor para as suas intenções e ações. Já não basta mandar um telegrama fechado ‘e pt saudações’. Diante desta nova realidade, na qual ouvidos e boca passam a ser partes vitais do corpo da empresa, surgem riscos: não ter o que dizer e falar besteira para ocupar o espaço, encantar-se mais pela tecnologia do que pela mensagem e cair no vazio ou tentar usar a comunicação para ‘lavar imagem’, ocultar o fosso entre o discurso, por exemplo, sistêmico e a prática possivelmente taylorista.
Dialogar não é fácil. A empresa precisa desejar, abrir-se a ele e preparar-se. O que significa ter tempo para a comunicação, para a interpretação, para a avaliação e a coragem para opinar, tomar uma posição. Significa encarar questões que preferiria ver abafadas, aprender a recuar, negociar, reposicionar-se ao invés de esconder, dissimular, despistar. E, principalmente, significa entender o nível de transparência no qual os assuntos e informações podem ser administrados, qual a opacidade possível a bem de interesses legítimos. Ou seja, é preciso conversar sério. É preciso tornar disponível conteúdo de qualidade, conhecimento e interpretação da realidade. É preciso dar a conhecer não informação bruta, mas análise de impactos e canais interativos, por meio dos quais se ouça e se fale e fundamentalmente se estabeleça um relacionamento duradouro.
Paulo Nassar é professor da Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE). Autor de inúmeros livros, entre eles O que é Comunicação Empresarial, A Comunicação da Pequena Empresa, e Tudo é Comunicação.’
OLIMPÍADAS DE PEQUIM
Nuzmaníacos
‘O povo brasileiro não encontra obstáculo e nem adversário quando a modalidade é rir dos outros e de si mesmo, mesmo diante da tragédia. Em uma roda de bar, um levantou a bola, outro cortou e depois a bola acabou caindo na rodinha enquanto a galera gritava OLÉ!
Uma certa marca cerveja havia acabado e um deles, brincando, chamou o garção e disse que um bar como aquele já tinha mais do que direito de sediar uma das fábricas da cervejaria. Riram e um disse: somos nuzmaníacos! E os outros foram brincando: Nuzmalandros; vamos armar uma nuzmaracutaia; que nuzmaldade!
E na TV do bar, pela mionésima vez, Cielo ganhava o nosso primeiro ouro olímpico. A repetição foi excessiva, mas as cenas todas foram, de fato, bem bacanas. A prova e principalmente a sincera emoção.
Curiosamente, no dia anterior, Phelps ganhava mais uma de ouro e reagia como se tivesse apenas terminado mais um treino. O medo de todos nós: os nuzmatemáticos dirão que os bilhões destinados ao esporte – vamos ser otimistas e admitir que o Brasil ainda conquiste várias de ouro – valeram a pena e que faltam apenas outros tantos para nos tornarmos de fato uma potência no esporte. Não. Não fomos bem. Logo, devemos investir outros tantos bilhões para melhorarmos nossas marcas.
Retiro o que disse na semana passada sobre a riqueza das transmissões. Durante a semana a maldição da quadra poliesportiva tomou conta de todos os canais. Se flashs durante a manhã eram transmitidos, como trabalhador, não os vi e também não posso acompanhar ao vivo, tarde da noite.
Como telespectador normal, à noite, fui brindado com o de sempre. O tal do cubo d’água deve ser realmente espetacular como todos os jornalistas dizem. Para mim é mais uma piscina que recebe milhões de nadadores que fazem 7987 eliminatórias, outras tantas semifinais e uma final que o Michael Phelps ganha. Ainda bem que Cielo apareceu no final.
Nosso gigante pan-americano das piscinas, Thiago Pereira – 6 ouros! – não esteve muito bem. Acho que está na hora de pensarmos em uma Nuzmanobra que permita que o medalhista do Pan tenha algumas vantagens. Por exemplo: a cada 10 de ouro ele ganha um vale-lanche na futura Vila Olímpica com um medalhista olímpico.
Outro termo que está sendo bastante utilizado pelos comentaristas: ‘Histórico’. O cavaleiro Rogério Clementino iria fazer história por ser o primeiro negro a participar dessa modalidade. Seu cavalo não passou no exame, mas acho que continua sendo uma passagem histórica. Nunca antes um cavaleiro negro havia sido eliminado.
As meninas da ginástica também conseguiram uma histórica classificação para as finais e um histórico oitavo lugar. Resumindo, está pior do que imaginei, a parte da TV. Agora com o atletismo talvez a coisa melhore. Mas também, a exemplo da natação, são milhões de corredores em milhões de eliminatórias. E a prova mais emocionante dura menos de 10 segundos.
Melhor momento até agora, o desabafo de José Trajano na ESPN. Digo também: tudo da ESPN está bem melhor que todos os SporTV juntos.
Márcio Alemão é publicitário, roteirista, colunista de gastronomia da revista Carta Capital, síndico de seu prédio, pai, filho e esposo exemplar.’
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