Uma publicação dos Estados Unidos organiza, na Internet, um campeonato anual por categorias com eliminatórias. Na primeira semana participaram 100.000 jogadores. E não é futebol, é ciência.
Os jornalistas dominam cada vez mais ferramentas de produção de conteúdo e se espera deles uma maior interatividade com o seu público. Por outro lado, a divulgação científica está tornando-se (de maneira ainda lenta no Brasil) parte do trabalho dos cientistas e das instituições de pesquisa.
O Observatório da Imprensa, que já apresentou para seus leitores novos modelos de jornalismo científico colaborativo como o projeto PerCienTex, agora destaca a estratégia desenvolvida pelo STAT, uma publicação do The Boston Globe Group com foco em saúde, medicina e ciência.
Trata-se do STAT Madness, uma brincadeira que chega ao seu segundo ano de sucesso. É um concurso por categorias, com eliminatórias, como se fosse a copa do mundo ou um torneio de basquete, mas acontece online.
A taça é entregue aqueles que, segundo o público e os editores, fizeram as melhores inovações em ciência e medicina. O ponto de partida são 150 opções enviadas, provavelmente, pelas eficientes assessorias de imprensa das universidades. Quando o jogo começa, o público é convidado a votar nas melhores ideias.
A competência da primeira série é por pares de centros de pesquisa similares em categoria e localização geográfica. A dupla Johns Hopkins vs The Kackson lab, por exemplo, compete com pesquisas sobre degeneração macular e glaucoma. Na segunda série, competiram , este ano, um trabalho sobre o impacto do uso de medicina alternativa da Yale University com uma nova tecnologia cirúrgica desenvolvida no Baylor College of Medicine, ambas para o câncer.
O jogador pode compartilhar o seu voto nas redes sociais e tem acesso , no mínimo, a um resumo de um parágrafo, podendo conferir também o próprio artigo científico de apresentação da pesquisa ao mundo. Esta ação de divulgação e jornalismo científico tem dois resultados: o favorito do público e o escolhido pelo time de jornalistas do STAT , reconhecido pela qualidade da informação que produz, sejam notícias diárias, artigos de investigação, e projetos multimídia sobre ciência e medicina.
Em pleno período de disputa — STAT Madness começou no 26 de fevereiro e agora estão sendo realizadas as eliminatórias — O Observatório da Imprensa entrevistou por email a editora Megha Satyanarayana.
Qual é o objetivo de STAT Madness?
MS: STAT Madness é um concurso para encontrar o melhor da pesquisa biomédica. Um programa colaborativo (crowd driven) para celebrar a ciência, e também uma forma de trazer universidades, centros de pesquisa, seus estudantes, colaboradores e alunos juntos para apoiar o trabalho que se faz nessa esfera. Para nós também é uma forma que temos de ver o que está se fazendo em pesquisa básica e translacional nos EUA.
Como são avaliados os resultados do projeto?
MS: Nosso objetivo principal é o engajamento, ter a oportunidade de conversar e aprender dos pesquisadores top do país. Isso já está encaminhado. Tivemos quase 150 entradas de 79 instituições diferentes, e na primeira semana, 100.000 votos. O programa ajuda a colocar a STAT como fonte de notícias, ao tempo que nos aporta uma imagem da ciência de alto nível que se faz hoje nos EUA.
Qual é o prêmio?
MS: Não há prêmio em dinheiro, escrevemos matérias sobre os dois projetos ganhadores: o de voto popular e o do concurso do editor. O primeiro ganha também a oportunidade de colocar no site conteúdo patrocinado. Estamos planejando ainda um evento para celebrar STAT Madness
Essa é uma nova maneira de fazer jornalismo científico?
MS: É uma maneira de usar as redes sociais para falar de ciência e trazer grandes quantidades de pessoas para discutir o valor da ciência. É um modelo de engajamento comunitário que é uma das formas mais novas de apuração (news gathering). O produto final para nós é a publicação de matérias, mas também a geração de ideias ou projetos multimídia.
Qual é a proporção de pessoas que lê as propostas? Quantos votam apenas pelo nome da universidade?
MS: Não temos essa informação, mas em cada caso, para votar, a pessoa tem um parágrafo de informação referente a descoberta científica que essa universidade fez. Então, na teoria, há uma oportunidade para conhecer. Há outras na divulgação que as próprias escolas fazem ao redor das entradas, com explicações em vídeo ou blog. Acho raro que uma pessoa vote sem ter ao menos uma noção rudimentar da pesquisa.
Você Conhece outras experiências como esta?
MS: Até onde eu conheço, STAT Madness é única.
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Roxana Tabakman jornalista científica, autora de A saúde na mídia (Ed Summus).