Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Carlos Eduardo Lins da Silva

‘O dilúvio de terça em São Paulo pegou muitos desprevenidos. Leitores se queixaram da previsão meteorológica publicada pela Folha no dia, embora ela dissesse vagamente que eram possíveis ‘pancadas de chuva’ na região, quase igual ao que afirmara na véspera, um dia de sol radiante.

Segundo a mais recente pesquisa sobre o que os leitores leem mais no jornal, a seção ‘Atmosfera’ aparece com o altíssimo índice de 84% de preferência. As razões são óbvias. A satisfação, nem tanto.

Entrevistei Gustavo Escobar, do CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos) do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que fornece as previsões publicadas pela Folha.

Ele explica que o clima tropical ou subtropical, o da maior parte do Brasil, é o de mais difícil previsibilidade, e que limitações tecnológicas no país, como o pequeno número de radares de que dispõem os institutos, impedem maior precisão para antecipar a intensidade de eventos climáticos severos, como as exatas quantidade de chuva ou velocidade de ventos.

É claro que ninguém tem controle sobre as tempestades como Próspero em sua ilha na peça de Shakespeare indicada ao final do texto. Mas é possível e necessário se precaver para suas consequências, mesmo quando são inesperadas, como a desta semana.

Já comentei aqui, em 14 de dezembro de 2008, quando parte de Santa Catarina submergia com as chuvas, como este jornal falha na prática do jornalismo preventivo, que se antecipa aos fatos e, com isso, ajuda a minorar seus efeitos.

É o que o leitor Eduardo Murata cobra: ‘Gostaria de perguntar por que apenas depois das enchentes desta semana a Folha acordou para as obras das marginais e a impermeabilização resultante?’

O jornal até que não foi mal na discussão sobre esse tema específico de quarta a sexta. E na terça, como já vinha fazendo havia alguns dias, reportou que a prefeitura cortara em 20% o dinheiro destinado à limpeza pública; o acúmulo de lixo sem dúvida agrava os efeitos de enchentes. Na quinta, mostrou que só 7% da verba destinada a piscinões este ano foi utilizada. Na sexta, que a cidade não mapeia áreas de risco desde 2003.

Exceto a questão do lixo, todo esse trabalho apareceu tarde demais para atenuar os problemas de terça. É de esperar que eles animem a Redação a ficar mais vigilante para as inevitáveis chuvas de verão e comece a cobrar pesadamente das autoridades municipais desde já providências que amenizem seus piores efeitos.

No filme abaixo recomendado, um repórter meteorológico se vê obrigado a reviver indefinidamente um mesmo dia, notável alusão ao cotidiano jornalístico. Ninguém há de querer passar de novo pelos dramas de terça-feira. Mas talvez seja esse o castigo que os deuses destinarão a quem se omitir.

PARA LER

‘A Tempestade’, de William Shakespeare, tradução de Beatriz Viégas-Faria, L&PM, 2002 (a partir de R$ 9,50 ou disponível para leitura e download em versão com nome do tradutor não revelado em www.dominiopublico.gov.br)

PARA VER

‘Feitiço do Tempo’, de Harold Ramis, com Bill Murray (a partir de R$ 17,91 e gratuito, dia 10/ 11, às 19h30, no Ciclo Folha de Cinema e Jornalismo no Espaço Unibanco, r. Augusta, 1.475, São Paulo)’

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‘Jornalistas nas redes sociais’, copyright Folha de S. Paulo, 13/9/09.

‘A direção da Folha circulou comunicado à Redação no qual determina que jornalistas em blogs, redes sociais e twitter devem seguir os princípios do projeto editorial e, assim, não assumir posicionamentos partidários nem divulgar conteúdos de colunas ou reportagens exclusivas.

Poucos grandes veículos de comunicação já regularam o assunto, um dos muitos dilemas éticos e profissionais que as novas tecnologias impõem. O comunicado deixa abertas várias possíveis dúvidas. Parece-me difícil contestar o direito de o jornal, que paga seus profissionais para apurarem informações numa determinada área, requerer exclusividade daquilo que averiguam. Similarmente, acho certo exigir que nos temas que cobrem seus contratados mantenham em outros veículos (inclusive os pessoais) padrões exigidos no espaço do próprio jornal.

Se, por exemplo, um jornalista que cuida de política veicula em seu blog opiniões apaixonadamente pró ou contra um partido ou pessoa pública, de que modo o leitor vai confiar na isenção do que ele reportar na Folha?

Mas como exercer controle sobre o que ele diz sobre temas que não são os de que trata no jornal sem interferir na sua liberdade de expressão?’

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‘Onde a Folha foi bem…’, copyright Folha de S. Paulo, 13/9/09.

‘Câmara Boa reportagem na segunda revela que 85% das faltas de deputados são abonadas

…e onde foi mal

Câmara

Na quinta, depois de muitos dias sem tocar no tema, jornal revela ter sido aprovada na véspera pela Câmara dos Deputados criação de sete mil novas vagas de vereador no país; tramitação de projetos no Congresso continua esquecida pela reportagem

PAC

Reportagens na terça e na quarta permitem interpretar que responsabilidade por ilegalidades e atrasos em obras que constam do PAC é do governo e não das empreiteiras que as realizam

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