Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Imprensa mudou nome do PMDB antes da Justiça

Mesmo antes do partido ter mudança de nome aprovado, maioria dos veículos começou a tratar legenda com novo nome

Impactados pela crise política, os escândalos de corrupção e a descrença da população, partidos políticos passaram a adotar uma estratégia para se distanciar dessa situação: trocar de nome. A estrutura é a mesma, os políticos são os mesmos, mas estatutos foram aprovados para dar uma nova roupagem que ajuda a maquiar suas características.

Foi assim que o PTN virou Podemos. O PT do B virou Avante. O PEN pediu para virar Patriotas. Mas um destes partidos pediu a mudança, ainda não teve a resposta, mas já é tratado por quase toda a imprensa como uma sigla nova. O PMDB.

No ano passado, a legenda do presidente Michel Temer decidiu retomar o nome que tinha, quando era o único partido a fazer oposição ao regime militar: MDB. A estratégia, aparentemente, buscou amenizar a imagem que a legenda ganhou ao longo dos anos, de ser aliada de qualquer um que estivesse no poder, de troca de cargos por votos, além, claro, de todos os problemas relacionados à Lava Jato que atingiu esta e boa parte das siglas brasileiras.

Trazer de volta o MDB também levaria a uma retomada da ideia de luta pela democracia, presente nos principais líderes da sigla nos anos 1980, com figuras como o saudoso Ulisses Guimarães.

A questão é a seguinte. Não basta o partido falar: vou mudar de nome e ponto. Essa alteração precisa ser aprovada e julgada pela Justiça Eleitoral. Essa ressalva, contudo, não tem sido lembrada por praticamente toda a grande imprensa brasileira.

Curiosamente, no caso de outra legenda, o tratamento é diferente. O PEN teve sua mudança aprovada internamente, mas segue sendo tratado pelo nome de Partido Ecológico Nacional, enquanto o nome Patriotas não é avalizado.

Pode parecer simples. Mas tem um peso. Para se ter ideia, houve questionamentos de filiados do próprio PMDB sobre a mudança. “Para que a alteração seja feita, o pedido do PMDB deve ser aprovado pelo Plenário do TSE, o que ainda não ocorreu”, aponta o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). “O último despacho do relator, ministro Admar Gonzaga, refere-se à contestação de diretórios estaduais ao pedido do PMDB nacional”. Logo, ainda não há certeza nem de que esse nome vingará, apesar de a tendência ser de aprovação.

Em um ano com uma eleição permeada de incertezas, com a polarização no ápice e a situação delicada do sistema político brasileiro, atribuir um nome que ainda não existe formalmente para uma sigla ajuda, involuntariamente, apenas o partido.

Além disso, usar um nome que não existe mostra também como pequenos detalhes passam despercebidos e podem se naturalizar na imprensa do país.

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Paulo Talarico é jornalista e faz parte da Agência Mural de Jornalismo das Periferias e cobre política na região oeste da Grande São Paulo