O eterno rei da Jovem Guarda, Roberto Carlos, concedeu entrevista coletiva à imprensa, em São Paulo, e anunciou que pretende lançar disco com canções inéditas em 2009. O rei disse ainda que irá promover uma série de shows em 20 cidades e uma megaexposição na Oca, no Parque do Ibirapuera, em janeiro de 2010, para comemorar 50 anos de carreira.
O rei promete o início da turnê brasileira no dia de seu aniversário, 19 de abril, em Cachoeiro de Itapemirim – cidade natal e onde ele não se apresenta há 14 anos. Porém, a pergunta que não calou foi sobre a biografia proibida do rei. Motivo de polêmica desde a proibição e recolhimento de dez mil exemplares das livrarias, está publicada para download no terreno anárquico da internet. Dia desses foi publicada foto dos bastidores da novela Caminho das Índias em que um ator lia o livro em ambiente zen, enquanto esperava a gravação. Pânico geral. A biografia está proibida pelo direito e é vendida de fato na web. Nos sites de venda da internet, os preços variam de 90,00 a 450,00.
No dia 10 de março, a 18ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu mais uma vez a favor de Roberto Carlos na polêmica sobre a divulgação de sua biografia não autorizada. A proibição continua. Em janeiro de 2007, o cantor conseguiu ver o livro Roberto Carlos Em Detalhes, de Paulo César Araújo, ser recolhido das livrarias ao entrar com uma ação alegando invasão de privacidade. A polêmica se arrasta em rounds de disputa entre o autor e o cantor. O biógrafo, então, entrou com um recurso para tentar quebrar o embargo imposto à sua obra, mas não teve sucesso e, com isso, a publicação e comercialização do livro continuam proibidas.
Altíssimo padrão visual
Na última audiência, a advogada do autor afirmou, em entrevista, que ‘a proibição é absurda e que o livro é fantástico’. Para quem acompanha RC desde os anos 1960, aqui surge um detalhe fundamental na proibição do livro que o rei não cita, mas que qualquer fã enxerga: a qualidade de impressão livro. Não é fantástica. A carreira de Roberto Carlos merece uma edição com conteúdo visual internacional. Acostumados à qualidade editorial da imprensa brasileira, os fãs também não gostaram da produção gráfica da edição censurada. A mídia impressa deu sustentação à carreira de astros da MPB com as revistas que fortaleceram a fama e auto-estima de artistas desde os anos 60. Muitos deles compram pela internet, através de assessores e amigos, a memória afetiva que remete às glórias do passado.
Bourdieu ensina que ‘a cultura média… se pensa por oposição à vulgaridade’. O universo das revistas é chique e sofisticado desde o século passado. Contigo, Caras e as saudosas Sétimo Céu, Amiga, Manchete e O Cruzeiro podem, como diz Martín-Barbero, misturar ‘saberes que vêem de baixo e saberes que vêm de cima, saberes velhos e novos, astrologia e astronomia, medicina popular e menos popular…’ E fotos dos ídolos. Muitos compram essas revistas que tratam da vida privada das pessoas para ler fofocas, olhar as fotografias, copiar modelos de roupas ou venerar celebridades. São publicadas fotos de grande qualidade, em cores estonteantes, chiclete para os olhos, em papel de altíssimo padrão.
A Editora Abril, a da arvorezinha, responsável pela edição de Contigo e Capricho, entre dezenas de outras, construiu sua história editorial com nível excelente de impressão. À época da Jovem Guarda, há mais de quarenta anos, fotos de Roberto Carlos e outros artistas eram publicadas em pôsteres coloridos e altíssimo padrão visual na revista Contigo. As revistas projetavam o que seria a TV em cores, que só chegou em 1972.
Janela fechada, lente embaçada
O fã quando procurou o livro sobre rei sofreu dissonante recepção com a decepção da qualidade do papel e das fotos. Pensou: ‘Roberto Carlos merecia uma edição mais sofisticada por sua trajetória como artista.’ E o livro que está sendo produzido pelo jornalista Okky de Souza, segundo a entrevista do rei, com certeza, terá o padrão RC de qualidade.
O conteúdo do livro proibido é revelado como motivo de polêmica e proibição. Isso já foi muito discutido… Mas o ‘Brasa’ não viveu ‘um momento lindo’ ou ‘tantas emoções’ com o design da obra.
Para encerrar, Maria Celeste Mira, no livro O leitor e a banca de revistas, categoriza: ‘Numa sociedade cuja comunicação se baseia crescentemente na imagem (grifo nosso), essas revistas em que a fotografia predomina sobre o texto unem a visualidade característica da cultura popular tradicional, dos modernos meios eletrônicos e, por que não dizer, das artes plásticas. Além dos aspecto gráfico, elas preenchem algumas funções recorrentes na história das revistas: são janelas através das quais vemos o mundo; lentes indiscretas pelas quais espiamos a vida dos outros; vitrines dos produtos oferecidos ao nosso consumo real ou imaginário; espelhos nos quais buscamos encontrar a nós mesmos.’ A janela para a leitura do livro estava fechada, a lente das fotografias do livro embaçada e o papel também não ajudou.
Que venha o livro de Okky.
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Jornalista, professor universitário e colecionador de revistas dos anos 60