Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Os jornais perdem o jogo

O Brasil saiu bonito nas primeiras imagens da cúpula de dirigentes dos vinte países economicamente mais importantes, o G-20, que se realiza na quinta-feira (2/4), em Londres. Não apenas na fotografia dos líderes alinhados com a rainha da Inglaterra, mas principalmente pelo papel central que o País assumiu nos debates sobre as propostas de soluções para a crise internacional.


A anunciada injeção de recursos no valor de US$ 1 trilhão para socorrer países emergentes e pobres mais afetados pela crise encontra o Brasil numa posição privilegiada. Em uma década, passamos de devedores a credores e agora nos habilitamos entre os países que podem emprestar dinheiro ao FMI para reforçar o fundo de socorro.


Entre os jornais brasileiros de circulação nacional, o Estado de S.Paulo é o que mais investe, até aqui, na cobertura do encontro, que deve concentrar hoje suas decisões mais importantes. Depois do evento reunindo os chefes de Estado, ministros e outros representantes dos países e das instituições multilaterais seguirão ajustando detalhes do que for decidido, mas a partir daí o assunto deve sair das manchetes.


Visão insuficiente


Importante é observar se a imprensa consegue passar aos leitores o valor real das resoluções aprovadas. Por enquanto, o noticiário se concentra nas medidas de emergência, deixando em segundo plano as controvérsias que dividem os principais protagonistas desse momento histórico.


Os jornais destacam que os três pontos básicos de discordância são a coordenação do pacote de ações para estimular a economia mundial, a criação de um novo sistema regulatório para prevenir crises futuras e a partilha das decisões, com maior poder para os países emergentes.


O Estado de S.Paulo inclui entre os desafios um pacto contra medidas protecionistas, e essa é a fissura que pode minar as melhores intenções dos participantes. A Folha de S.Paulo oferece um cenário geral do encontro, e, como o Globo, destaca que o Brasil vai participar do fundo de emergência.


Mas nem mesmo a leitura dos três jornais oferece uma visão suficiente do evento. No acontecimento mais importante da política internacional neste início de século, a imprensa de papel perde de goleada para a internet.


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Retrato do Brasil


Quem tiver interesse em se informar com mais profundidade sobre o evento histórico que inaugura o G-20 não pode ficar restrito à leitura de apenas um jornal. Nem mesmo a soma dos três principais jornais do país pode fornecer elementos para uma visão adequada dos acontecimentos em Londres.


Os sistemas de busca na internet permitem fazer um mapa de notícias e dados muito mais satisfatório, embora as edições dos jornais possam servir ainda como guias para o direcionamento da leitura. Mas quem se limitar aos jornais de papel pode ficar frustrado.


Aparentemente, pelo que se lê nos jornais, todos os líderes reunidos em Londres sabem exatamente o que precisa ser feito. A postura do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, menos impositiva da que costumava caracterizar seus antecessores, parece facilitar os entendimentos, mas os relatos das edições de quinta-feira (2) podem deixar o leitor mergulhado em dúvidas.


Bem na foto


Faltam dados concretos sobre os números que configuram a crise e ninguém publicou ainda um painel da situação em cada um dos vinte países empenhados em sua solução. Além disso, nada se diz sobre os outros países, aqueles que ficam de fora da reunião e que tanto podem contribuir para amenizar as turbulências como para agravar a situação.


Quanto ao papel do Brasil, que inaugura no encontro do G-20 uma posição historicamente diferenciada, o noticiário da imprensa nacional pouco acrescenta. Uma olhada rápida em algumas fontes da web dão uma idéia de por que nos transformamos, em um prazo relativamente curto, de país-problema em protagonista do pacote de soluções para a crise.


O Brasil é o sétimo produtor mundial de veículos no mundo. Tem o maior mercado de consumo de luxo da América do Sul, é um dos oito maiores produtores mundiais de alimentos e líder mundial na produção de combustíveis de origem vegetal. E, finalmente, o Brasil é a décima maior economia do mundo.


Não é à toa que ficamos bem na foto oficial do G-20.