Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Lições aprendidas com o caso Hatfill

O ombudsman do New York Times, Clark Hoyt, trouxe à tona o caso do ex-cientista do Exército Steven J. Hatfill em sua coluna de domingo [17/8/08]. No dia 8/8, o Departamento de Justiça inocentou Hatfill, reconhecendo – seis anos após classificá-lo como ‘pessoa de interesse’ – que ele não era o homem que matou cinco pessoas com ataques de antrax no Congresso e em organizações de mídia em 2001.

Se a intenção era chamar pouca atenção para uma admissão de erro – Hatfill alegou que sua vida e carreira foram arruinadas por vazamentos do governo que o colocaram erroneamente como assassino – o timing não poderia ter sido melhor: na sexta-feira à tarde com a mídia focada na abertura das Olimpíadas. Algumas semanas atrás, o Departamento de Justiça havia anunciado discretamente que iria por fim à ação aberta por ele contra membros do departamento, por meio de um acordo no valor de US$ 4,6 milhões.

O governo não pediu desculpas a Hatfill. Nicholas D. Kristof, colunista do NYTimes, planeja pedir desculpas publicamente, em uma futura coluna. Ele apontou o ex-cientista como alguém que precisava ser investigado em uma série de colunas que escreveu em 2002. Hatfill chegou a processar Kristof e o NYTimes, mas a ação por calúnia e difamação foi recusada e ele perdeu duas apelações.

Interesse público vs. Direitos privados

O caso traz questões jornalísticas não muito fáceis de serem respondidas. Ao escrever sobre uma investigação criminal, como equilibrar o interesse público de saber o máximo possível com os direitos de um indivíduo suspeito, especialmente quando a informação vem de fontes – em geral, anônimas, cujas motivações não são claras? ‘Acredito que a colisão do interesse público com o privado é difícil de resolver’, opinou Kristof.

Em suas colunas iniciais, Kristof identifica Hatfill apenas como Mr. Z. Depois que o procurador-geral John Ashcroft o chamou de ‘pessoa de interesse’ e ele veio à público para proclamar sua inocência, a mídia não tinha escolhas a não ser revelar sua identidade.

Ao ser perguntado se ele lamentava focar tanto em Hatfill quando a questão era pressionar o FBI a uma investigação mais cautelosa, Kristof alega que poderia ter se esforçado em conseguir mais exemplos para ‘ressaltar a incompetência do FBI na investigação do antrax’.