Pela primeira vez em um grande evento político nos EUA, os blogueiros recebem o mesmo tratamento reservado aos jornalistas de veículos tradicionais. Os organizadores da Convenção Democrata, que ocorre esta semana em Denver, no Colorado, liberaram cerca de 120 credenciais especificamente para blogueiros; o número é três vezes maior do que o da última Convenção do partido, em Boston, há quatro anos. A Convenção Republicana, que será realizada na próxima semana em Minnesota, também já credenciou cerca de 200 blogueiros.
A mudança de comportamento reflete o crescimento da influência da internet nas campanhas políticas. Dentro do Pepsi Center, onde ocorre a Convenção, os blogueiros credenciados têm um espaço para trabalhar. Além disso, a organização escolheu 55 deles para representar os 54 estados e regiões que compareceram ao evento. Estes blogueiros têm acesso à platéia, onde ficam as delegações dos estados, para que possam reportar diretamente dali. ‘Ontem, Howard Dean [presidente do Partido Democrata] nos disse que temos mais acesso do que a mídia tradicional, e eu realmente acho que é verdade’, comemora Cheryl Contee, fundadora de um blog voltado a questões ligadas aos negros. ‘Nós temos acesso ao palco, à platéia; não há muitos lugares fora dos limites’.
Do lado de fora, uma estrutura de dois andares abriga cerca de 500 blogueiros independentes. Por US$ 100, eles têm um lugar para trabalhar com internet sem fio e cerveja liberada, conta a blogueira Jen Bruenjes, colaboradora do blog liberal Daily Kos e uma das responsáveis pela organização do espaço. ‘Tivemos muito retorno da convenção de 2004; as pessoas diziam que as atividades durante o dia eram bem chatas, mas que os blogueiros gostaram do convívio. Por isso pensamos em criar uma área para fazer isso’, diz ela.
Mídia alternativa
Muitos blogueiros acreditam que o sucesso dos blogs políticos se deve muito à diminuição da confiança do público na imprensa tradicional. ‘Muita gente acha a mídia tradicional antiquada, muito programada’, afirma Jen. Para Cheryl, à falta de confiança, impulsionada por aspectos como a cobertura pré-guerra do Iraque, juntou-se o acesso a ferramentas que permitem que qualquer pessoa publique informações e estabeleça seu próprio público.
Enquanto alguns blogueiros já conseguiram virar profissionais, outros ainda dividem a atividade com empregos formais. Pam Spaulding, fundadora de um blog especializado em reportagens e análises de questões ligadas a gênero, religião e raça, teve que tirar uma semana de folga do trabalho em uma editora acadêmica. ‘Eu praticamente esgotei meu dinheiro para vir aqui. Terei que tirar uma licença não-remunerada pelo resto do ano se quiser viajar, mas felizmente meu patrão é compreensivo’, conta, explicando sua função na Convenção. ‘Meu objetivo é cobrir as pautas que você não vai ver no horário nobre da televisão. Nós não podemos competir com os recursos que as emissoras e os outros veículos tradicionais têm’, reconhece. Informações de Rob Woollard [AFP, 27/8/08].