Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo

PRESIDENTE
Clarissa Oliveira

Lula entrega obra inacabada no ABC e ironiza imprensa

‘Na véspera de sua entrada oficial na campanha deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou ontem, em meio a tapumes e escombros, as obras inacabadas da Universidade Federal do ABC, em Santo André. Dizendo-se ‘muito feliz’ por entregar apenas um de seis prédios do complexo, ele afirmou que a obra realiza um ‘sonho da região’.

‘Eu estou feliz. Estou inaugurando a universidade inacabada do ABC, o seu bloco B’, disse Lula, ao ironizar o fato de o Estado ter informado na quinta-feira que ele entregaria a obra sem estar concluída. A universidade completa, que custará R$ 220 milhões, só ficará pronta no fim de 2009.

A visita ao ABC paulista ocorreu apenas um dia antes de Lula participar de uma maratona de comícios da corrida municipal. Hoje de manhã estará em São Paulo com a petista Marta Suplicy. No fim da tarde e amanhã, participa de atos no ABC.

Ontem, antes da cerimônia, Lula recebeu uma carta de estudantes que pediam a construção do refeitório da universidade, até hoje inexistente. No discurso, o presidente emendou: ‘Eu pensei que vocês fossem gritar: bandejão, bandejão. Mas vocês não gritaram, porque sabem que vamos fazer.’

Outra se refere à falta de segurança no entorno da universidade, que funciona com a realização de parte das aulas em galpões. Lula repassou a cobrança ao governador José Serra (PSDB). ‘Anotem aí para falar com o governador para ele mandar um pouco de polícia.’

Ao discursar para uma platéia espremida no saguão do novo prédio, Lula buscou eximir o governo da responsabilidade pela lentidão da obra. ‘O dinheiro já está depositado, está no caixa. Às vezes falta mão-de-obra ou falta matéria-prima.’

Lula, que reafirmou ter investido mais em educação que seus antecessores, disse que vai orientar ministros a registrarem em cartório suas realizações. Os documentos serão entregues a seu sucessor. ‘No mínimo por orgulho, ele vai dizer que tem que fazer mais’, afirmou Lula, dizendo ser um ‘corpo estranho’ na República, por ser um metalúrgico sem diploma. ‘Tomara que muitos tenham o ego ferido e pensem: ?Não posso fazer menos que o Lula?.’’

 

 

COLÔMBIA
O Estado de S. Paulo

BrT cria subsidiária na Colômbia

‘A Brasil Telecom e BrT Participações aprovaram a criação de uma subsidiária na Colômbia. De acordo com a BrT, a criação dessa empresa visa prover conexão internacional para as operadoras da Colômbia, que têm como principal demanda a conexão à internet. A empresa informa que já operava no mercado internacional na Venezuela, nas Bermudas e nos Estados Unidos, e que a criação da empresa na Colômbia é uma expansão natural para os seus negócios.’

 

 

INTERNET
O Estado de S. Paulo

Microsoft adquire site na Europa

‘A Microsoft fechou acordo para compra da Greenfield Online, dona do site europeu de comparação de preços ciao.com, por cerca de US$ 486 milhões. A idéia da empresa com a aquisição é impulsionar sua unidade de busca na Internet e comércio eletrônico na Europa. A Microsoft, cuja oferta de US$ 47,5 bilhões pelo Yahoo feita este ano foi malsucedida, afirmou que a aquisição deve beneficiar sua plataforma de busca Live Search.’

 

 

MORDAÇA
Josmar Jozino

Afastado diretor do Decap após veto a entrevistas

‘O delegado Aldo Galiano Júnior não é mais o diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap). Ele foi afastado ontem do cargo pelo delegado-geral de Polícia, Maurício Lemos Freire. No lugar dele, assume Marco Antonio Novaes de Paula Santos, ex-seccional de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Galiano ocupou as chefias das seccionais sul e leste da capital e ficou mais conhecido como um dos responsáveis pela investigação da morte de Isabella Nardoni, em 29 de março.

Em nota oficial, a Delegacia-Geral de Polícia informou que ‘a mudança na direção do Decap visa a um aprimoramento ainda maior no atendimento à população nos distritos policiais’.’Todo mundo tem direito a um excelente atendimento, altamente qualificado, de preferência com ?tapete vermelho?, sem distinção’, diz a nota, citando o delegado-geral.

O estopim para a saída de Galiano, porém, foi uma mensagem eletrônica enviada por ele para todos os distritos da capital. No documento, Galiano informava que, por ordens superiores, os delegados da Polícia Civil da capital só poderiam dar entrevistas à imprensa após consulta aos superiores hierárquicos, por escrito. Nesse documento, definia-se ainda que, sem essa resposta, em hipótese nenhuma poderia ser concedida entrevista. O texto advertia ainda que quem não cumprisse a determinação corria o risco de ser punido. A mensagem eletrônica foi enviada no dia 18 para todos os distritos da capital. Até ontem, nenhuma ordem em contrário havia sido dada.

O Jornal da Tarde publicou a mensagem na edição de quarta-feira. Anteontem à noite, um delegado de classe especial informou que a determinação de proibir delegados de darem entrevista não partiu de Galiano, mas sim do delegado-geral. Galiano disse ao JT, depois de ser afastado do cargo, que jamais iria proibir alguém de falar com a imprensa. ‘Os delegados e outros policiais têm o direito de falar com a imprensa e divulgar as informações necessárias. Sempre defendi essa posição. Tenho 34 anos de carreira. Saio com a cabeça erguida. Vou tirar 90 dias de licença-prêmio e descansar.’

Procurado pela reportagem, o jurista Dalmo Dallari considera a determinação de proibir entrevistas inconstitucional. ‘O que se pode restringir é a transmissão de dados de investigações de interesse da sociedade. Mas proibir genericamente a entrevista é exagero. É tirar do delegado o exercício do direito à cidadania’, ressaltou Dallari.

O presidente da associação dos delegados do Estado (Adpesp), Sérgio Marcos Roque, disse que a categoria está amordaçada. ‘Parece ditadura. O policial civil e todo cidadão têm direito de opinar e de se expressar.’’

 

 

LITERATURA
Ubiratan Brasil

A trágica luta interior dos americanos

‘Com a perna esquerda inutilizada em um acidente de carro, o crítico literário aposentado August Brill tenta espantar pensamentos indesejáveis. Aos 72 anos, ele vive com a filha e a neta, duas mulheres que sofrem de formas distintas mas pelo mesmo motivo: a viuvez. Atormentado por uma insônia que o visita todas noites, Brill encontra refúgio em uma história imaginária em que cria um novo capítulo a cada madrugada sem dormir. Ao fundir solidão, memória e família, o escritor americano Paul Auster construiu, em Homem no Escuro (Companhia das Letras, tradução de Rubens Figueiredo, 168 páginas, R$ 38), um de seus romances mais atormentados. E, de quebra, mais político.

Motivos não faltam para reforçar tal tendência. Cansado das injustiças cometidas durante a longa administração de George W. Bush, Auster lidera uma lista de ilustres escritores (que conta ainda com Salman Rushdie, Dave Eggers e outros representantes da moderna prosa americana) que se declaram abertamente contra o atual presidente, cuja primeira vitória, em 2000, na controversa disputa contra Al Gore, ainda não foi bem digerida.

Engajado na campanha do candidato democrata Barack Obama na eleição de novembro, o autor não apenas espera por um ponto final no domínio do Partido Republicano como aguarda, ansioso, ver seus compatriotas serem colocados à prova – afinal, pergunta-se ele, quantos eleitores brancos terão coragem de votar em um afrodescendente?

No momento, o desprezo por Bush predomina – além de ter criado uma canção contra o atual mandatário, Auster emprestou sua prosa sucinta para o Dicionário do Futuro da América, uma curiosa brincadeira sobre como o mundo de daqui a 30 anos vai analisar os fatos atuais. E, no verbete Bush, nenhuma surpresa: ‘uma venenosa família de arbustos, agora extinta.’

A crítica também se espalha por Homem no Escuro que, como tem se tornado habitual na carreira do escritor, foi primeiro lançado na Dinamarca – trata-se de um acordo com uma editora local que, certa vez, conseguiu evitar fechar as portas graças ao gesto de Auster. E, desde então, os dinamarqueses têm a primazia de primeiro ler as novas obras.

No livro, enquanto busca o sono que toda noite lhe foge, August Brill cria o personagem Owen Brick, que vive em uma ponte unindo passado e presente, ou seja, ao mesmo tempo em que participa da Guerra Civil americana, ele está também no atual conflito do Iraque. Um mundo paralelo e labiríntico, no qual Paul Auster põe o dedo na ferida, mostrando que os EUA não estão apenas em guerra contra outras nações que consideram ameaça, mas contra si mesmos. Sobre o assunto, o escritor conversou por telefone com o Estado na terça-feira, um dia depois de Ted Kennedy abençoar o início da luta de Barack Obama pela principal cadeira da Casa Branca.

É possível classificar o livro como político? Em que sentido?

Na verdade, acredito que o livro tenha um enfoque mais forte na guerra, da qual evidentemente a política é um dos aspectos principais. Na verdade, a política surge na imaginação do narrador, que cria histórias as quais refletem minhas posições políticas. A trama se desenrola em apenas uma noite e, nesse curto período, conhecemos três pessoas com relações familiares bem próximas que sofrem por razões bem distintas. Como não consegue dormir, o autor, August Brill, crítico literário aposentado, tenta espantar pensamentos indesejáveis e concebe um mundo paralelo e labiríntico em que um personagem vivencia a guerra civil nos Estados Unidos. Ou seja, há uma boa influência política, especialmente quando a Guerra do Iraque é lembrada, mas acho que se trata de algo mais superior que apenas isso.

Pode-se dizer que também é um romance sobre uma relação familiar e também a memória, não?

Sim, com certeza. São três assuntos que estão intimamente relacionados, que tornam necessários os pequenos gestos humanos.

Você sofreu um acidente há alguns anos. De que forma isso pode ter influenciado a trama de Homem no Escuro?

De fato, sofri um acidente de carro há seis anos, ninguém se machucou, embora o carro tenha sofrido perda total. De alguma maneira, isso pode ter influenciado minha criação, embora o detalhe da imobilidade do escritor seja citado poucas vezes, creio que duas vezes. Algo semelhante me ocorreu quando escrevia Viagens no Scriptorium, cuja idéia surgiu a partir de uma imagem que não saía da minha cabeça. Dia após dia, eu não conseguia esquecer a figura de um homem, de pijamas, sentado na cama e olhar voltado para o chão. Percebi que algo deveria ser feito. O mais curioso é que eu também sentia a necessidade de explorar aquela imagem e que aquele homem parecia ser a projeção de como serei dentro de 20 ou 30 anos.

Alguns críticos americanos consideram essa sua melhor obra. O que pensa disso?

Não sei o que dizer, tampouco avaliar. Li realmente isso, que me deixou evidentemente lisonjeado. Mas logo fui duramente criticado por outro texto que publiquei em jornal. Ou seja, os afagos duraram pouco. Assim, para minha própria proteção, prefiro evitar esse tipo de julgamento.

Por falar em escrita, gostaria de perguntar algo sobre seu processo de trabalho: você alguma vez sofreu com bloqueio de imaginação, como já aconteceu a alguns de seus personagens?

Passei por momentos em que era difícil escrever. Só mesmo quem escreve pode ser o significado disso. Quando inicio um livro, sei que vai demorar, que será um processo demorado. Raramente sei onde vou chegar, pois ingresso em uma zona misteriosa, totalmente desconhecida. Mas cada livro nasce de forma distinta. Em alguns casos, como Homem no Escuro, havia uma urgência, como se o livro tivesse sido ditado para mim.

Já se tornou notória seu engajamento na eleição presidencial americana, especialmente no apoio ao candidato democrata Barack Obama. Como avalia esse processo?

Creio que o partido democrata fez um bom trabalho até agora, conquistando apoio em diversas cidades onde parecia que não teria nenhuma. Mas, sobre a eleição propriamente dita, ainda não sei. Para mim, ainda é algo muito obscuro. Rezo para Obama ser eleito. Em novembro, descobriremos o grau de racismo que ainda persiste nos Estados Unidos, pois ainda existem pessoas que têm dificuldade em votar em alguém que não tenha pele branca. Tento encarar essa eleição de forma realista, para não sofrer nenhuma decepção. Mas é chegado o momento de repararmos todos os terríveis erros cometidos pelos republicanos nos últimos anos.

Você voltou a se exercitar no cinema. Assim, como foi rodar Kimera – Estranha Sedução em Portugal?

Foi uma experiência muito agradável. Aliás, gosto de estar em sets, embora muitas pessoas reclamem do processo de rodagem, muito demorado no entendimento delas. Mas é um filme pequeno, com quase nenhuma expectativa. E não sou eu que disse isso, mas meu próprio distribuidor nos Estados Unidos. Ao conversar comigo, ele elogiou o filme, dizendo-se encantado com a idéia original. Mas, ao tratar especificamente da possibilidade financeira, ele foi taxativo: zero (risos).

Isso o desanimou a ponto de não mais se interessar a dirigir?

Não penso dessa forma, embora eu não tenha nenhum projeto em vista. Por enquanto, cuido do meu próximo romance sobre o qual, antes que você pergunte, não pretendo falar nada ainda. Mas essa história, apesar de cômica, revela um triste aspecto da atual cinematografia americana: a dificuldade dos pequenos artesãos, dos cineastas que não estão no mainstream, em conseguir um espaço na distribuição. São desses outsiders que vêm o respiro necessário à cultura cinematográfica.

‘Rezo para Barack Obama ser eleito presidente. Na eleição, vamos descobrir o grau de racismo que persiste nos EUA, pois ainda existem pessoas com dificuldade em votar em alguém que não tenha a pele branca’’

 

 

TELEVISÃO
Alline Dauroiz

Universo paralelo

‘Para cativar o público jovem, cada vez mais ligado em internet e menos interessado em novelas, o próximo folhetim das 7 da Globo, Três Irmãs, poderá interagir com o telespectador de uma maneira inovadora na teledramaturgia do País: por meio de uma webnovela, ligada às situações da trama, mas com novos personagens e feita com a colaboração do internauta.

Tudo faz parte da nova estratégia da emissora de criar um universo paralelo em que os personagens e os cenários de Três Irmãs ultrapassem a ficção e se ‘materializem’ na web, como se fossem reais.

Assim, além de blogs dos personagens, foi criado o site www.vidigalplaza.com.br, do hotel que, na trama, os vilões tentarão construir na paradisíaca cidade fictícia de Caramirin.

‘A idéia da webnovela só vai se concretizar se o público reagir às ações de interatividade’, explica Thiago Aiashe, responsável por desenvolver essas estratégias de interação com novas mídias.

A participação do público na novela, porém, ficará restrita ao mundo virtual. ‘Não gosto que ninguém meta o bedelho na minha novela. Novela não é Big Brother’, avisa o autor Antônio Calmon.’

 

 

 

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