Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Nem jornalistas aderem à marcha pela obrigatoriedade

‘Marcha une dezenas de jornalistas e estudantes nas ruas de Porto Alegre’ [www.jornalistas-rs.org.br ]


Uma demonstração típica de como se pode focar apenas no interesse particular e deixar de lado uma visão mais ampla do assunto é a própria matéria disponível no sítio do Sindicato dos Jornalistas do RS, a qual não fornece informação de qualidade para a sociedade.


A manchete honesta seria:


‘Baixa adesão de jornalistas à marcha pelo diploma’


Senti falta de algumas informações para que o artigo fornecesse informação com ética e qualidade, ao contrário do que defende a Fenaj – Federação Nacional de Jornalistas, como propriedade intrínseca a quem tem diploma. Estas questões podem ser estendidas também aos sindicalistas da categoria de todo o país. E temos de considerar que, certamente, o RS é um dos estados em que a organização dos trabalhadores se destaca em relação ao resto.


(a) Quantos jornalistas há em Porto Alegre?


(b) Quantos estavam na manifestação?


(c) Qual o percentual existente entre o número dos manifestantes e o total de jornalistas da cidade?


(d) Qual seria o grau de adesão a esta causa por parte dos profissionais em todo o país?


(e) Por que grande parte dos jornalistas não participou?


(f) Qual a conclusão do sindicato sobre o esvaziamento?


(g) Qual a avaliação diante da indiferença popular?


(h) A população verdadeiramente alfabetizada (26% apenas) está contente com a qualidade da informação que recebe atualmente da mídia, produzida por jornalistas diplomados em sua quase totalidade?


(i) A pesquisa de Perseu Abramo, condenando a grande imprensa como inimiga do povo brasileiro, não compromete a categoria, em função dos jornalistas diplomados que a ela se vendem para fazer o serviço sujo?


Funcionário público


O leitor deste texto ficará matutando a razão pela qual teriam sido omitidas. Intencionalmente, erroneamente ou haveria outro motivo? Seja como for, temos aqui um exemplo de como a qualidade da informação poderia ser melhor assegurada para a sociedade.


Bem… A Conferência Nacional de Comunicação é um espaço onde esta questão poderia ser debatida e buscada uma solução para o problema. Especialmente no que tange ao relacionamento escravocrata do patrão com o trabalhador, de uma forma geral, e especialmente em relação aos jornalistas.


Mas será que a sociedade está interessada em ter informação com ética e qualidade o suficiente para deixar de garantir o lucro da empresa de comunicação e assegurar a independência do jornalista? Ele não deveria ser considerado como um funcionário público, com direito à estabilidade, plano de carreira e outras regalias típicas de quem trabalha para o Estado, ainda que remunerado por uma organização privada?


Direito de leitura


Sinceramente, em minha avaliação, nosso povo é predominantemente do tipo ‘me-engana-que-eu-gosto’. Mas, depois de séculos de dogmatismo religioso católico e político e colonização por exploração, não poderia ser diferente. Felizmente, já há um pequeno grupo que está fugindo da matriz (Matrix, o filme) em que a Globo e suas congêneres, a serviço da classe dominante, tentam nos modelar e escravizar. Cabresto eletrônico!


Não seria interessante lutar também por um outro modelo de comunicação? Por um jornalismo público que assegurasse o direito de leitura de jornal a 80% dos brasileiros hoje proibidos de ler? Afinal, temos 74% de analfabetos e semi-analfabetos, muitos dos quais aprenderam a ler, mas, por falta de prática, acabam se esquecendo…


Venho distribuindo dentro de ônibus jornais e revistas que encalham no Sindicato dos Jornalistas de MG e é estimulante ver dezenas de pessoas fazendo o que é extremamente raro aqui e comum no transporte coletivo estadunidense: lendo!

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Engenheiro civil, militante do movimento pela democratização da comunicação e em defesa dos Direitos Humanos, membro do Conselho Consultor da CMQV – Câmara Multidisciplinar de Qualidade de Vida (www.cmqv.org) e articulista