Com a ajuda de professores e estudantes de seis faculdades de jornalismo do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, a segunda edição do Atlas da Notícia mapeou 387 veículos na região sul do Brasil. A rádio é a plataforma mais presente: foram identificadas 155 (40%). Os jornais impressos estão na segunda posição, com 115 marcas (29%). A região conta ainda com pelo menos 93 sites jornalísticos (24%) e 19 canais de televisão (4,9%).
No levantamento da região Sul, o Estado que teve mais veículos jornalísticos mapeados foi o Rio Grande do Sul. Foram 276 formulários respondidos de 84 cidades diferentes. Cinquenta e três municípios gaúchos aparecem com apenas 2 ou 1 veículo jornalístico. O levantamento concentrou-se principalmente na capital e região metropolitana, região de Passo Fundo e da Campanha. Isso se deu em função dos grupos de voluntários sediados nessas regiões.
No Estado, a rádio também é a plataforma principal mais presente entre os veículos mapeados, totalizando 136 (49,3%). Na sequência, aparecem os jornais (29%), online (16,7%) e canais de televisão (4,7%). Se olharmos para o levantamento da capital gaúcha, contudo, a plataforma online ultrapassa o papel: são 14 contra 11 das 50 entradas de Porto Alegre.
Foi possível identificar dois veículos online lançados em 2018 na capital: Site Roger Lerina e Revista Clandestina, ambos voltados à cultura, com foco na agenda da cidade. O jornalista Lerina, que dá nome ao seu projeto, foi demitido do Grupo RBS em 2017, depois de 18 anos na empresa.
O fenômeno de mais plataformas online do que impressas aparece também em pelo menos outros quatro municípios, como São Gabriel, na região da Campanha, e em Cachoeirinha, região metropolitana. São Gabriel chama a atenção por ser o menos populoso entre os cinco municípios com mais veículos mapeados no RS. Com 62 mil habitantes, conta com pelo menos 10 veículos — cinco rádios, três online e dois jornais impressos semanais. Também neste ano, em Cachoeirinha, vizinha de Porto Alegre com 129 mil habitantes, o portal Aponte se juntou a outros dois exclusivamente online, O Repórter e Jornal da Cidade Online. O novo site é produzido por estudantes de jornalismo que moram no município.
Enquanto isso, dois tradicionais veículos de um mesmo grupo uniram seus sites. No ano passado, a Rádio Gaúcha e o jornal Zero Hora, ambos do Grupo RBS, passaram a concentrar seu conteúdo digital em GaúchaZH. Um ano antes, Zero Hora, jornal de maior circulação da região Sul, deixava de circular aos domingos ao lançar uma edição conjunta de final de semana.
Os gaúchos amantes do papel amargaram outra perda recentemente. Em 2017, o jornal A Razão, de Santa Maria, fechou as portas depois de quase 83 anos de atividade. Um dos mais antigos diários do Rio Grande do Sul anunciou seu fechamento em 25 de fevereiro. Desde 1982, pertencia à família De Grandi, mas chegou a integrar o Grupo dos Diários Associados de Assis Chateaubriand. A direção atribuiu a decisão à queda nos investimentos em publicidade.
Com população estimada de 280 mil habitantes, Santa Maria conta hoje com pelo menos um jornal impresso de acordo com nosso levantamento, o Diário de Santa Maria. O veículo pertencia ao Grupo RBS até 2016 e hoje é de propriedade de um grupo de 10 empresários do município. Vale destacar que pelo menos 51 veículos gaúchos pertencem a alguma rede de comunicação ou grupo de empresários.
Controlado pela família Sirotsky, o tradicional Grupo RBS vem diminuindo sua atuação na região Sul, mas ainda é proprietário de pelo menos 11 veículos no RS, sendo que a RBS TV, afiliada à Rede Globo, está presente em pelo menos quatro municípios diferentes. Até 2016, o Grupo RBS era dono de oito veículos em SC, comprados pela NSC Comunicação, dos bilionários Carlos Sanchez e Lirio Parisotto, dois dos homens mais ricos do Brasil, segundo a revista Forbes.
Com 25 respostas coletadas em SC, nosso levantamento confirmou que a NSC é dona de 8 veículos no Estado entre jornais, TV, rádio e portais de notícia. Pelo menos outros dois grupos estão presentes no Estado. Afiliado ao SBT, o Sistema Catarinense de Comunicações (SCC) abrange mais de 65% do território catarinense, com canais de TV e rádios. Já o Grupo Ric, presente também no Paraná, tem jornais além de TVs e rádios.
O Paraná completa o levantamento do Sul nesta segunda fase do Atlas da Notícia. Foram identificados 86 veículos jornalísticos no Estado, sendo a maioria online (39,5%), seguido de jornal (32,6%), rádio (19,8%), revista (4,7%) e televisão (3,5%). Dos 34 portais, 22 estão sediados na capital.
O levantamento concentrou-se em Curitiba, com 46 registros. Quarta maior cidade paranaense e com uma população de 348 mil habitantes, Ponta Grossa aparece em segundo lugar na pesquisa, com 15 veículos mapeados. Juntas as duas cidades representam 70% de todo o levantamento no Estado. Uma investigação mais completa pelo interior poderia identificar um número maior de rádios se o Paraná mantiver a tendência do Rio Grande do Sul.
Exemplo bastante ilustrativo da força das plataformas online, a Gazeta do Povo passou a imprimir seu jornal, antes diário, apenas uma vez por semana, e focou na atualização em tempo real de seus canais digitais. A marca faz parte do Grupo Paranaense de Comunicação, que mantém também pelo menos um canal de televisão no Estado, a RPC, filiada à Rede Globo, outro jornal impresso na capital, Tribuna do Paraná, e sua versão online (ex-Paraná Online).
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Marcela Donini é jornalista baseada em Porto Alegre com experiência de mercado desde 2004, graduou-se pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Passou pelo jornal Zero Hora e pelas agências de conteúdo Cartola e Fronteira. Como freelancer, já escreveu para as revistas Piauí, Superinteressante e Galileu, além dos portais Ig, Veja e Terra. É mestra em Comunicação Social e especialista em Jornalismo Digital e em Teorias e Práticas do Ensino. Leciona na faculdade de Jornalismo da ESPM-Sul, onde também coordena a agência experimental de jornalismo. É cofundadora do Farol Jornalismo, iniciativa independente de produção e pesquisa em jornalismo.
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*NOTA: Este primeiro mapeamento realizado pela rede de pesquisadores do Atlas da Notícia com o apoio de colaboradores voluntários traz o melhor panorama possível, com informações detalhadas, sobre a existência e a natureza de veículos jornalísticos. Mas uma vez que a nossa amostragem reflete os dados obtidos — sem necessariamente cobrir todos os veículos — não a consideramos um retrato completo do jornalismo local e regional do Brasil. À medida que nosso projeto avance anualmente, seremos capazes de corrigir e refinar nossos dados e mapas. A propósito, solicitamos aos nossos leitores que nos comuniquem sobre possíveis incorreções no nosso mapeamento.