Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Leitores podem mudar um jornal

A Folha de S.Paulo está mudando ou, se quiserem, estão mudando a Folha.


O ‘Painel do Leitor’ quarta-feira (8/4) foi um exemplo das importantes alterações em curso. A enorme carta de um entrevistado que deveria ter sido publicada na segunda-feira acabou sendo reproduzida de forma abreviada na quarta, depois de um acordo entre o editor da seção e o missivista. Este inédito compromisso foi assumido publicamente, o que também é inédito.


O pivô da questão foi a matéria publicada no domingo (5/4) sobre a suposta participação da ministra Dilma Rousseff no suposto plano de seqüestro do ministro Delfim Netto, durante a ditadura militar.


A Folha sempre seguiu os dogmas do seu Manual de Redação e jamais admitiu que seus procedimentos pudessem ser impróprios e injustos. Não publicava os questionamentos mais candentes e não dava satisfações. Os críticos mais encarniçados entravam na lista negra e seus nomes desapareciam de suas páginas.


Desta vez, o missivista Antonio Roberto Espinosa, jornalista e cientista político divulgou a carta em diversos sites – inclusive no Observatório da Imprensa – [ver ‘Fonte desmente `seqüestro de Delfim´‘], e diante da repercussão o jornal foi obrigado a recuar.


Chega de arrogância


A Folha também foi obrigada a recuar e desculpar-se há poucas semanas por ter se referido à ditadura militar como ‘ditabranda’.


O desgaste desta vez durou apenas dois dias. Antes assim. A partir do momento em que a pendência torna-se pública, a Folha certamente prosseguirá na trilha da sensatez e dará divulgação a seus desdobramentos – não na seção de cartas, mas nas páginas do noticiário.


Ganha o leitor, ganha o jornal e, sobretudo, desvenda-se um novo paradigma na imprensa brasileira em substituição à velha arrogância e à incivilidade.