Executivos da emissora NTV, de Moscou, não imaginavam que atrairiam tanta atenção para o documentário Há um Escritório Aqui Agora (tradução livre), sobre a demolição de prédios históricos da cidade, quando optaram por cancelar sua exibição na TV. Embora o documentário, produzido pelo jornalista Andrei Loshak, fosse mais melancólico que investigativo, tocava em um tema sensível a muitos cidadãos moscovitas: o desaparecimento dos prédios históricos.
Com apenas 25 minutos de duração, o filme seria exibido no dia 28/6, dentro do programa semanal Profissão: Repórter. Loshak focou na parte antiga de Moscou, onde, segundo moradores e especialistas em restauração, os prédios que ainda podem ser recuperados estão sendo demolidos para dar lugar a apartamentos modernos e escritórios. ‘Eu sei como é o espírito da velha Moscou. Sei o que foi perdido. Era uma cidade completamente diferente, na qual podíamos ver idosos e crianças brincando’, diz o documentarista.
A NTV acabou exibindo o filme apenas na Rússia oriental, mas não no resto do país. Em declaração, a emissora afirmou que, para transmitir o documentário, precisaria de uma ‘consulta com advogados’ e que não especularia sobre uma nova data de exibição. ‘O diretor-geral do canal [Vladimir Kulistikov] levantou questões relacionadas não ao conteúdo do filme, mas aos aspectos legais das questões levantadas por ele’.
Visibilidade
Embora não tenha sido exibido em TV aberta na maior parte do território russo, o documentário acabou conhecido por outros meios. Em agosto, o segmento foi disponibilizado no RuTube – clone russo do sítio de compartilhamento de vídeos americano YouTube – e registrou mais de 230 mil visitas. No mesmo mês, Loshak foi entrevistado pela revista russa OK, onde criticou o prefeito de Moscou, Yuri M. Luzhkov, e sua esposa, Yelena Baturina, magnata bilionária da construção. O casal comprou, recentemente, uma casa em Londres por US$ 91 milhões. ‘Por alguma razão, não querem que prestemos atenção ao fato de que, supostamente, há dinheiro para a restauração de monumentos, enquanto a principal pessoa da cidade compra sua segunda maior casa em Londres’, afirmou Loshak.
Em 2000, o NTV, presidido por Vladimir Gusinsky, era crítico ao Kremlin. Gusinsky acabou detido por um breve período de tempo quando o presidente – e atual primeiro-ministro – Vladimir Putin chegou ao poder, no início da década. O empresário acabou deixando o país e, em 2001, perdendo o canal para uma unidade da Gazprom, monopólio de energia controlado pelo governo. Hoje, o NTV é especializado em reportagens policiais. Informações de Sophia Kishkovsky [The New York Times, 1/9/08].