O partido de situação AK acusa a maior organização de mídia da Turquia de fazer ‘terror midiático’ em sua cobertura sobre um escândalo de corrupção, noticia Paul de Bendern [Reuters, 11/9/08]. A acusação gerou um debate público sobre a liberdade de imprensa no país – candidato a entrar na União Européia.
O primeiro-ministro turco, Tayyip Erdogan, alega que o magnata de mídia Aydin Dogan usa seus jornais e canais de TV para difamar o governo e o AK, com matérias sobre ‘suposta corrupção’. O governo não ficou nada satisfeito com a cobertura dos veículos da empresa Dogan Yayin Holding sobre o julgamento, em Frankfurt, de uma instituição de caridade islâmica acusada de desviar 41 milhões de euros e distribuir ilegalmente alguns milhões na Turquia. Um dos recipientes do dinheiro seria um canal de TV religioso pró-governo. A instituição de caridade havia recolhido o dinheiro de turcos que vivem na Alemanha com a justificativa de ajudar vítimas de terremotos e tsunamis. Um veredicto do caso deve sair na próxima semana.
Erdogan deu a Dogan ultimato de uma semana para revelar ‘a verdadeira motivação’ da cobertura. ‘Nós não iremos nos submeter à chantagem de nenhuma organização de mídia. Condenamos o terror midiático’, declarou o vice-presidente do partido, Mir Mehmet Firat. ‘A mídia tem limites legais e éticos’. A União Européia avalia atentamente questões como liberdade de imprensa e direitos humanos na Turquia, como parte das negociações para a entrada do país no bloco. O governo já realizou reformas liberais em muitas áreas, mas ainda enfrenta pressão da UE.
Campo de batalha
Nos últimos anos, o crescente setor de mídia na Turquia tornou-se um verdadeiro campo de batalha entre interesses pró e antigoverno. Os principais líderes de oposição do país, a Dogan Yayin Holding e outros grupos de mídia afirmam que, ao acusar uma cobertura negativa de ‘terror midiático’, Erdogan tenta claramente silenciar a imprensa. O AK nega qualquer ligação com corrupção e refuta a idéia de que esteja tentando censurar os meios de comunicação turcos.
O partido chegou ao poder em 2002, com promessas de superar casos de corrupção de governos anteriores. Embora seja predominantemente muçulmana, a Turquia foi fundada como um Estado secular; uma poderosa elite militar, judicial e acadêmica se vê como guardiã do secularismo e acusa o AK de miná-lo.