‘Recebi mensagem do leitor Renan Silva Maciel apontando desvio ético e até provável ilegalidade em material veiculado pelo iG. Diz o leitor:
‘Li a seguinte notícia no site do IG Último Segundo. Ao final da notícia, no espaço de links patrocinados, há um deles (Como posso fazer um aborto?) com conteúdo que faz apologia ao crime do aborto. É no mínimo estranho que esse ‘descuido’ aconteça justamente numa notícia que aborda o tema. Gostaria de receber esclarecimentos.’
É difícil crer em situação mais inconveniente apontada pelo leitor. Junto da reportagem ‘Sofrimento não justifica nem autoriza sacrifício de bebê anencéfalo’, realizada pela Agência Brasil e veiculada no dia 26 de agosto, o iG publicou um ‘link patrocinado’ com o título ‘Como puedo abortar’.
Supostamente, anúncio tem origem numa ONG holandesa que orienta sobre como conseguir um medicamento abortivo – de venda proibida no Brasil. Ou seja, junto a um trabalho jornalístico sério, em que são examinados temas humanitários, médicos, religiosos e éticos relativos à manutenção da vida e ao direito de a mãe escolher abortar uma criança que tenha a sobrevivência comprometida, foi veiculado um ‘comercial’ que procura incentivar o aborto, uma prática ilegal no Brasil.
O material do site da ONG chega ao ponto de sugerir que a leitora, se tiver dificuldades, procure obter a substância abortiva no mercado negro, em ‘locais onde também se compra maconha’, em meio a outros absurdos, como mostra a imagem abaixo:
O teor do texto é tão absurdo que gera desconfiança de sua origem e de seus fins. O que mais preocupa é a posição do iG neste caso.
Por falar no assunto, a propaganda anti-aborto também vem a público junto das reportagens sobre o tema no iG. Na nota ‘Ministro do STF diz que entre a ciência e entidades religiosas fica ‘no meio termo’’, publicada no mesmo dia, há o anúncio para o blog de uma associação anti-aborto.
O aborto é ilegal na maioria dos casos no Brasil. Muitas entidades religiosas, como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o condenam. No México, ele foi recentemente legalizado. O tema é complexo e demanda muita atenção e prudência.
Não há nada contra a exploração de espaços publicitários junto a notícias sobre temas específicos. Mas elas devem ser claramente diferenciadas do material jornalístico, trazer o selo ‘informe publicitário’ ou coisa do gênero, e jamais incitar a práticas ilegais ou fazer propaganda ofensiva à sensibilidade dos indivíduos e das famílias.
Resposta aos internautas
Agora resta saber qual o grau de participação do iG na publicação do anúncio. Este ombudsman enviou um questionário à direção do iG que inclui as seguintes questões:
1) O iG examina previamente os anúncios que publica?
2) Examinou estes?
3) Autorizou a publicação junto às reportagens?
O iG deve examinar previamente o que publica porque isso é o correto. É também o que a lei determina. Além disso, o iG deve ter procedimentos para detectar e eliminar de suas páginas a propaganda de substâncias ilegais. A partir da reclamação do leitor Renan Maciel, o iG retirou o anúncio do ar. Falta garantir que não se repita a difusão de ilegalidades como a montagem de uma bomba (já abordada aqui no passado) e agora a promoção de ‘remédios’ junto a reportagens.
O iG foi questionado a respeito, mas ainda não respondeu. A palavra agora está com ele.
Miragem
São Paulo teve ontem um dia digno do deserto do Saara: a umidade caiu a 13%, quase no limite do estado de emergência, de 12%. Outras cidades do país sofreram as conseqüências do mesmo fenômeno. Nenhuma notícia no iG hoje, que ontem previu umidade de 59%.
O pior é que o iG informa hoje às 9h59, como medição da umidade relativa do ar hoje, o índice de 82% no Aeroporto de Congonhas, que teve sua ‘última atualização’ realizada às 11h54, do dia de hoje. Ou seja, foi atualizado no futuro. Não dá para confiar nessas ‘previsões’ do iG, nem nas dos concorrentes, que se baseiam, grosso modo, nas mesmas fontes, e consideram o tema irrelevante.
O iG provavelmente continuará divulgando previsões em tabelas enviadas por parceiros os quais utilizam médias de anos anteriores para o período. Quando os resultados não batem, ninguém justifica nada. A tabela vai caindo no descrédito, o iG também e o internauta fica mal-informado ou sonhando com as maravilhas do clima no ‘Aeroporto de Congonhas’.
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Leitura do acidente (3/9/08)
A cobertura do iG sobre o incidente com um avião que saiu da pista hoje em Congonhas mostra o que o jornalismo do portal fez de bom e o que pode ser melhorado.
Apuração
O iG conseguiu as primeiras informações com o Corpo de Bombeiros e foi o primeiro a destacar os esclarecimentos da Infraero. A apuração seguiu coerente e completa com informações precisas sobre o número de passageiros do monomotor, os dados do avião e informações sobre as operações do aeroporto.
Agilidade
A Veja.com deu a notícia às 14h48, seguido de Terra e G1 às 14h57, Estadão às 15h02, Folha On Line às 15h08 e iG às 15h09.
Jornalismo participativo
O Terra apresentou, desde o primeiro momento, informações e fotos enviadas por internautas. O iG chamou a atenção para o seu site de jornalismo participativo – o Minha Notícia – duas horas depois do acidente e destacou fotos enviadas pelos internautas somente no final da tarde.
Fotos
Terra e G1 apresentavam fotos do incidente desde a publicação da nota. Uol destacou a notícia com foto feita por profissional. No primeiro momento, o iG destacou a notícia com foto da imagem da televisão – de qualidade muito precária. No final da tarde destacou uma foto profissional e no início da noite destacou fotos de internautas.
Liberticídio e oportunidade
A decisão do ministro Joaquim Barbosa negando liminar ao iG é obviamente soberana, mas comporta debates. Mais do que nunca falta ao iG dar peso a essa sua tese democrática, republicana e moderna. É preciso forçar a liberação da discussão político-eleitoral na internet.
O iG precisa criar editoriais, artigos de fundo, atrair a sociedade para debater, infuenciar e mobilizar a opinião pública. Essa é missão de um veículo de comunicação de qualidade, especialmente num momento em que a imprensa tradicional mostra-se tão apática e acomodada frente às suas responsabilidades democráticas.
O iG deve desenvolver uma área de opinião, com articulistas e editorialistas para aprofundar os temas, inclusive aqueles que fazem parte do ideário do próprio iG. É tempo também de organizar seminários para discutir a liberdade e as eleições na internet.
Por sus própria iniciativa, a defesa da liberdade passou a ser uma bandeira do iG. Ainda haverá muitos outros episódios nesse campanha iniciada pelo iG por eleições livres na internet. Agora o portal tem uma bandeira, mas também uma responsabilidade. É preciso aproveitar a ocasião para criar instrumentos e organizar os meios para estar à altura dela.
Decisão é notícia
A decisão do TSE foi notícia nos principais jornais e em outros sites:
‘TSE mantém restrição a campanha on-line’ (Folha de S.Paulo)
‘TSE nega liminar em ação sobre eleição na internet’ (O Estado de S.Paulo)
‘TSE nega liberação da campanha na internet’ (O Globo)
‘Ministro nega liminar em processo que questiona regras de campanha eleitoral na internet’ (Folha On Line)
‘TSE rejeita diminuir restrições à internet nas eleições’ (G1)
‘TSE nega liminar contra restrição eleitoral na web’ (Terra)
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Leitor cobra promessa da ‘melhor cobertura’ dos Jogos (2/9/08)
Recebi a seguinte manifestação do leitor Gilmar Tavares a respeito da cobertura dos Jogos Olímpicos feita pelo iG:
‘O iG anunciou a melhor cobertura da internet. O ombudsman chegou a fazer um comentário sobre o assunto antes dos jogos. Acabado o ciclo olímpico, o leitor tem direito à informação e saber se o iG fez ou não a melhor cobertura da net na avaliação do próprio iG ou do ombudsman. Se era só propaganda e vamos deixar o assunto para lá, imagino que deveria ter sido feita uma campanha publicitária e não como uma matéria jornalística na manchete maior da capa do iG. Estou sendo muito radical ou apenas cobrando o que é correto?’
‘Sensação de dever cumprido’
A partir da cobrança do leitor, a Redação do iG foi estimulada a se manifestar sobre sua promessa. Recebi então gentilmente da jornalista Mariana Castro, editora-chefe do Último Segundo, a seguinte avaliação do trabalho de cobertura dos Jogos Olímpicos no iG:
‘A nossa avaliação em relação à Olimpíada é que sim. Dentro do que se propunha e driblando algumas limitações, como a de não fazer transmissão em vídeo, ao vivo, o iG fez a melhor cobertura do evento.
Pela primeira vez o Último Segundo mandou repórteres para acompanhar de perto os jogos olímpicos, o que é fundamental para trazer informações aos leitores. Contamos com o trabalho de quatro repórteres (Flavio Gomes, Fabio Sormani, Maurício Teixeira e Nara Alves) e dois colaboradores (Victor Boyadjian e Marcelo Duarte).
Isso nos possibilitou fazer uma cobertura que trazia além do factual, bastidores, comportamento e relatos pessoais de quem estava’ e reportagens especiais. Cito como exemplo nossa reportagem sobre o critério para definir o campeão dos jogos, a questão do número de medalhas e da disputa entre China e EUA. No dia seguinte à publicação, alguns veículos correram atrás e publicaram notícias iguais.
Na minha opinião, e na de vários leitores, como mostram comentários de usuários, o ‘Blog do Gomes’ foi sem dúvida um dos melhores conteúdos na cobertura olímpica de um modo geral. O conteúdo criativo, crítico, os ótimos textos e as sacadas do jornalista Flávio Gomes fizeram a diferença. Também fez diferença o tom menos ufanista adotado na cobertura do iG em relação aos outros veículos.
Os consolidados publicados diariamente ajudaram o leitor a se informar de maneira precisa e resumida sobre os principais acontecimentos da madrugada.Com tabelas de classificação e agenda o leitor pôde se programar para acompanhar os jogos. Foi uma cobertura que também apostou em serviço.
Publicamos cerca de 200 matérias por dia (entre material produzido por nossos enviados e reportagens de agências), galerias de fotos, ao menos seis vídeos diários, entrevistas exclusivas, chats, posts… Durante o período olímpico, a audiência do Último Segundo aumentou cerca de 10%, com picos no horário da manhã. É um bom índice.
O fim da Olimpíada nos deixou a sensação de dever (e compromisso) cumprido.’
Na opinião deste ombudsman, a cobertura do iG não se destacou especialmente em relação ao trabalho de seus concorrentes. Ao anunciar que faria ‘a melhor cobertura dos jogos da internet brasileira’, o iG assumiu um compromisso sério. Deveria ter à mão um arsenal de recursos materiais e humanos que lhe garantisse cumprir a promessa feita na capa do portal.
O iG, a rigor, não conseguiu driblar as limitações de não fazer transmissões de vídeo, ao vivo. Neste sentido fez um esforço inferior ao de concorrentes. O iG fez um trabalho aceitável, mas afetado por essas restrições, que são resultado de decisões editoriais e administrativas certamente maduras e que não cabe a este ombudsman questionar, mas que trazem conseqüências para o resultado.
O trabalho de Flavio Gomes já foi aqui elogiado. O esforço do restante da equipe merece ser reconhecido, mas não conseguiu marcar uma diferença de qualidade em relação à concorrência. No cômputo geral, na minha opinião, diferentemente do que argumenta a editora-chefe, a promessa não foi cumprida.
O desaparecimento do Mundo Virtual
O internauta Bruno Santos Teles chamou a atenção deste ombudsman sobre o ‘sumiço’ da editoria Mundo Virtual, do Último Segundo. O canal trazia notícias sobre internet, telefonia e tecnologia. Consultado, O diretor de Conteúdo do iG, Caique Severo, explica:
‘Decidimos concentrar nossa cobertura de tecnologia e internet no canal Tecnologia para não duplicar esforços e confundir o leitor. Infelizmente, a mudança não saiu exatamente como esperado e em vez de trocar o link para o canal de tecnologia, o link foi simplesmente eliminado. Vamos fazer a correção o mais rápido possível.’
Quando essas mudanças ocorrerem, o que é natural, o iG deve se preocupar em comunicar com antecipação a seus clientes, orientando-os. Do contrário, eles se sentem perdidos, como foi o caso do leitor Bruno.
Em tempo: o canal de Tecnologia já está na capa do iG. É ali que, diz o iG, deve estar o noticiário antes publicado pelo Mundo Virtual.’