Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Imprensa, cúmplices e culpados

Começa na terça-feira (21) o ano do cinqüentenário da criação de Brasília, que se completará em 21 de Abril de 2010. Temos, portanto, um ano para rever o processo que culminou com a transferência da capital para o Planalto Central.


Brasília significava muita coisa para o presidente Juscelino Kubitschek, e o significado maior foi a sua transformação em marco do processo de desenvolvimento. Motivo estratégico menos ostensivo era livrar a nova capital das pressões populares em cima do Congresso e do Executivo.


O Rio era uma cidade aberta, convite aos comícios e pressões populares. Agora, com os escândalos em série produzidos no Congresso, temos condições de perceber como Brasília ficou longe do escrutínio dos jornais e da opinião pública.


Antes de 1960, uma manchete produzida por um jornal impresso na Rua do Lavradio (ou ali perto, na Avenida Gomes Freire) levava multidões ao Palácio do Catete ou à Câmara Federal, onde os deputados logo a transformavam em crise nacional. Há dois meses acompanhamos diariamente as estarrecedoras denúncias sobre os abusos cometidos pelos parlamentares com o dinheiro público e nada acontece. Pior ainda é saber que as irregularidades e ilícitos são antigos e que a imprensa sempre conviveu com eles.


Olhos de ver


Brasília é uma Ilha da Fantasia e da prosperidade, onde todos são amigos, inclusive aqueles que deveriam ser inimigos ou pelo menos adversários, como seria o caso da imprensa e seus fiscalizados.


Nesta temporada de denúncias que envolvem o Congresso não há inocentes, todos são culpados ou cúmplices: os que sabiam e calaram e os que não sabiam porque não queriam enxergar.


Brasília começou como um pujante projeto de progresso; hoje, num dos ângulos da Praça dos Três Poderes, está a filial do retrocesso.